- Folha de S. Paulo
Esquerda faz muito pouco para se aproximar do eleitorado evangélico
Falar em autocrítica deixa muita gente mais arredia que gato em casa de banho. Mas, se começo de ano serve para alguma coisa, é para digerir erros e evitar seu replay dali pra frente.
À esquerda não faria mal destrinchar por que se come poeira na corrida pelo eleitorado evangélico. Ela parece chegar sempre atrasada nesse fenômeno agigantado no pleito que premiou a direita bolsonarista.
O que faz para correr atrás? Após quase uma década escrevendo sobre movimentos evangélicos, eu diria: bem pouco. Aqui e acolá despontam meas culpas, aquele papo de "precisamos dialogar com os crentes". O problema é não só o ritmo tartaruga, mas as vias tomadas para tanto.
Exemplo: a dias do segundo turno, Fernando Haddad (PT) se reuniu com pastores. Beleza. Importante. Só que a maioria deles, progressistas carimbados, tem alcance limitado no raio evangélico, em boa parte conservador. Pregar para convertidos, aqui, ganha certa literalidade.
São quadros ótimos, sobretudo em matéria de direitos humanos. Destaco aqui o pastor Henrique Vieira. Problema? Ele parece ser mais pop no Instagram de Paula Lavigne (direcionado a outro público, vamos combinar) do que no filão de sua fé.
E quem acha que dar like nos Henriques basta para se conectar com evangélicos vai se esborrachar nas próximas eleições.
Que fique claro: ninguém precisa ser cliente premium no programa de milhas conservadoras, forçando valores incompatíveis com os seus, para voar longe no segmento. Mas ridicularizar a senhorinha crente contrária ao aborto, em vez de entender seu contexto de vida e começar um diálogo de peito aberto, só vai jogá-la no colo da direita.
Evangélicos são plurais o bastante para não serem reduzido a pilhérias reacionárias de pastores midiáticos. Mas é preciso incluí-los na discussão. Quantos estão em meios mais progressistas, como as próprias redações de jornais?
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