- Folha de S. Paulo
Não me parece democrático enxergar democracia apenas quando se é protagonista
A duas semanas das eleições, em 2018, escrevi neste espaço que um segundo turno entre Bolsonaro e Haddad nos garantiria mais quatro anos do clima de ódio que já reinava no país. Bingo.
Lula, pelo que parece, quer dobrar a meta e nos dar um bônus até 2026 ao desdenhar de uma frente ampla e democrática, que ensaia se formar contra Bolsonaro. Como fica cada vez mais claro, para o ex-presidente, ninguém é democrata ou democrata suficiente se não falar amém e se não topar ser coadjuvante de qualquer coisa encabeçada pelo PT. Eu conto ou vocês contam?
Ok, vamos lá. Tanto Lula, quanto essa esquerda embolorada, precisa acordar para a vida, parar de ignorar o peso do antipetismo —que não diminuiu mesmo diante do pesadelo em que vivemos, oxigenar um movimento que pode enfraquecer esse presidente golpista e, se for necessário, ceder espaço a quem tiver mais chance de derrotar Bolsonaro nas urnas. Nem que seja o Macaco Tião.
É cedo para dizer se o apreço pela democracia será maior do que as diferenças ideológicas para que a união ganhe força e se prolifere pelo país. Parar de chamar o coleguinha de antidemocrático, como fazem Lula e parte da esquerda, talvez seja um bom começo.
Não me parece democrático enxergar democracia apenas quando se é protagonista e colar o selo “fascista” em todas as pessoas que rezam por meio de ideologias posicionadas a um palmo da, adivinhe, esquerda. Centro-esquerda, liberais, sociais-democratas, conservadores? Todos fascistas.
Ou Lula muda de postura e ajuda a converter esse pessoal que tem nojinho do pensamento diverso, ou pode ser atropelado, inclusive por uma ala da esquerda mais jovem e mais conectada com a mudança dos ventos e com a necessidade urgente de combater quem é de fato antidemocrático: Jair Bolsonaro e seus apoiadores. Talvez isso já esteja acontecendo.
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