Nas Entrelinhas :: Luiz Carlos Azedo
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE
Aparentemente, há interessados em flagrar as mais altas autoridades do país em atividades pouco recomendáveis, não se sabe com quais propósitos
James Ellroy é um dos grandes escritores do gênero policial noir , autor de Los Angeles, Cidade Proibida, romance adaptado com sucesso ao cinema. Seu nome me veio à memória por causa de outros livros de sua autoria, Tablóide Americano e Seis Mil em Espécie (Editora Record), que misturam a ficção com a história dos Estados Unidos. O assassinato do presidente J. F. Kennedy, em Dallas, marca o final do primeiro romance e o começo do segundo. Ambos desnudam o papel da CIA e do FBI na política norte-americana das décadas de 1960 e 1970.
Conspiração
Grandes eventos e personagens históricos são devassados do ponto de vista de policiais e criminosos, no que o autor classificou de “pesadelo privado da política pública”. O magnata da imprensa Howard Hughes, o todo-poderoso diretor do FBI J. Edgar Hoover e o sindicalista Jimmy Hoffa são algumas das personalidades reais que desfilam nos romances. Ellroy dá nomes aos bois, descrevendo-os como homens de carne e osso, cujos vícios da vida mundana se misturam às atividades públicas. O “grampo” de um diálogo de Kennedy com o cantor Frank Sinatra sobre Marilyn Monroe , por exemplo, é impagável.
Pete Bondurant, um antigo xerife, Kemper Boyd, um agente federal corrupto, e Ward Littell, um ex-seminarista que virou agente do FBI, são os heróis da história. Bisbilhotam a vida alheia com propósitos de chantagear, desmoralizar e intimidar. A fracassada invasão da Baía dos Porcos em Cuba e a crise dos mísseis com a antiga União Soviética, no primeiro romance; a guerra do Vietnã e o tráfico de heroína, no segundo, servem para descrever a ação de políticos, magnatas, artistas, sindicalistas, gêngsteres, policiais e agentes secretos. Narram a conspiração para o assassinato de Kennedy e operação para acobertar os verdadeiros criminosos, desnorteando as investigações.
É incrível como a vida política no Brasil começa a descambar para um terreno que lembra os romances de Ellroy. Banqueiros, advogados, magistrados, parlamentares e autoridades do governo surgem como personagens de escândalos mal explicados. Investigações às vezes fazem muito barulho para não chegar a lugar algum.
Bagunça
Supostamente, arapongas da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), o serviço secreto do Palácio do Planalto, grampearam os telefones de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), o seu presidente, Gilmar Mendes, e o colega Marco Aurélio Mello, além de dois ministros de Estado e cinco senadores da República. Quem o fez, quem mandou? Não se sabe ainda. O que estará por trás de tudo isso? Uma conspiração? Não, simplesmente, o aparelho coercitivo do Estado começa a agir por conta e risco com o propósito aparente de moralizar a vida pública, mas com métodos clandestinos que não justificam tais fins e que podem muito bem servir a outros objetivos.
O certo é que há uma “crise de governança” nas áreas de inteligência e de segurança, que estão uma bagunça: seus agentes e respectivas ações se misturam. Não há certeza de que as escutas ilegais tenham sido patrocinadas pela cúpula da Abin, embora o seu diretor-geral, Paulo Lacerda, ex-diretor da Polícia Federal (PF), que acabou de ser afastado, venha defendendo o restabelecimento e legalização desse tipo de prática na agência. Além disso, os equipamentos de escuta disponíveis — dos mais sofisticados e potentes aos mais simples e primitivos — estão fora de controle, seja nos órgãos de segurança pública, seja no mercado paralelo de espionagem. O jogo bruto no mundo dos negócios e na luta política regional, infelizmente, há muito incorporou a escuta clandestina.
O pior é que agentes públicos que têm legalmente o monopólio da violência, no Ministério Público e até no Judiciário, também começam a exorbitar na utilização da escuta eletrônica e outros recursos de investigação. Veteranos do Serviço Nacional de Informações (SNI), um dos pilares do regime militar, mantêm ativa a velha “comunidade de informações”. Aparentemente, há interessados em flagrar as mais altas autoridades do país em atividades pouco recomendáveis, não se sabe com quais propósitos. É disso que se trata quando os presidentes do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF) e a Presidência da República são alvos de escutas clandestinas.
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE
Aparentemente, há interessados em flagrar as mais altas autoridades do país em atividades pouco recomendáveis, não se sabe com quais propósitos
James Ellroy é um dos grandes escritores do gênero policial noir , autor de Los Angeles, Cidade Proibida, romance adaptado com sucesso ao cinema. Seu nome me veio à memória por causa de outros livros de sua autoria, Tablóide Americano e Seis Mil em Espécie (Editora Record), que misturam a ficção com a história dos Estados Unidos. O assassinato do presidente J. F. Kennedy, em Dallas, marca o final do primeiro romance e o começo do segundo. Ambos desnudam o papel da CIA e do FBI na política norte-americana das décadas de 1960 e 1970.
Conspiração
Grandes eventos e personagens históricos são devassados do ponto de vista de policiais e criminosos, no que o autor classificou de “pesadelo privado da política pública”. O magnata da imprensa Howard Hughes, o todo-poderoso diretor do FBI J. Edgar Hoover e o sindicalista Jimmy Hoffa são algumas das personalidades reais que desfilam nos romances. Ellroy dá nomes aos bois, descrevendo-os como homens de carne e osso, cujos vícios da vida mundana se misturam às atividades públicas. O “grampo” de um diálogo de Kennedy com o cantor Frank Sinatra sobre Marilyn Monroe , por exemplo, é impagável.
Pete Bondurant, um antigo xerife, Kemper Boyd, um agente federal corrupto, e Ward Littell, um ex-seminarista que virou agente do FBI, são os heróis da história. Bisbilhotam a vida alheia com propósitos de chantagear, desmoralizar e intimidar. A fracassada invasão da Baía dos Porcos em Cuba e a crise dos mísseis com a antiga União Soviética, no primeiro romance; a guerra do Vietnã e o tráfico de heroína, no segundo, servem para descrever a ação de políticos, magnatas, artistas, sindicalistas, gêngsteres, policiais e agentes secretos. Narram a conspiração para o assassinato de Kennedy e operação para acobertar os verdadeiros criminosos, desnorteando as investigações.
É incrível como a vida política no Brasil começa a descambar para um terreno que lembra os romances de Ellroy. Banqueiros, advogados, magistrados, parlamentares e autoridades do governo surgem como personagens de escândalos mal explicados. Investigações às vezes fazem muito barulho para não chegar a lugar algum.
Bagunça
Supostamente, arapongas da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), o serviço secreto do Palácio do Planalto, grampearam os telefones de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), o seu presidente, Gilmar Mendes, e o colega Marco Aurélio Mello, além de dois ministros de Estado e cinco senadores da República. Quem o fez, quem mandou? Não se sabe ainda. O que estará por trás de tudo isso? Uma conspiração? Não, simplesmente, o aparelho coercitivo do Estado começa a agir por conta e risco com o propósito aparente de moralizar a vida pública, mas com métodos clandestinos que não justificam tais fins e que podem muito bem servir a outros objetivos.
O certo é que há uma “crise de governança” nas áreas de inteligência e de segurança, que estão uma bagunça: seus agentes e respectivas ações se misturam. Não há certeza de que as escutas ilegais tenham sido patrocinadas pela cúpula da Abin, embora o seu diretor-geral, Paulo Lacerda, ex-diretor da Polícia Federal (PF), que acabou de ser afastado, venha defendendo o restabelecimento e legalização desse tipo de prática na agência. Além disso, os equipamentos de escuta disponíveis — dos mais sofisticados e potentes aos mais simples e primitivos — estão fora de controle, seja nos órgãos de segurança pública, seja no mercado paralelo de espionagem. O jogo bruto no mundo dos negócios e na luta política regional, infelizmente, há muito incorporou a escuta clandestina.
O pior é que agentes públicos que têm legalmente o monopólio da violência, no Ministério Público e até no Judiciário, também começam a exorbitar na utilização da escuta eletrônica e outros recursos de investigação. Veteranos do Serviço Nacional de Informações (SNI), um dos pilares do regime militar, mantêm ativa a velha “comunidade de informações”. Aparentemente, há interessados em flagrar as mais altas autoridades do país em atividades pouco recomendáveis, não se sabe com quais propósitos. É disso que se trata quando os presidentes do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF) e a Presidência da República são alvos de escutas clandestinas.
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