Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
Reside nos detalhes - nem sempre sutis, é verdade - a dimensão do empenho do governador de São Paulo no projeto Presidência da República. José Serra nunca esteve tão disposto a remover obstáculos, a não deixar ponto sem nó, a aparar arestas presentes, passadas e futuras.
Cozinha em banho-maria a proposta de realização de prévias no PSDB, como diz querer o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, articula-se com o PT pelo fim da reeleição e agora acaba de matar um mal pela raiz ao deslocar um de seus principais operadores políticos da Secretaria de Desenvolvimento para dar lugar a Geraldo Alckmin. E companhia, obviamente.
José Serra trabalha em silêncio e não é de hoje. Paulista da Mooca, reza pela cartilha da mítica mineira.
Na eleição municipal "amarrou" o apoio do PMDB de São Paulo à sua candidatura, antes disso havia feito do DEM um devedor eterno ao garantir ao minguante ex-PFL o comando da prefeitura mais importante do País e depois disso teve o cuidado de não celebrar as vitórias.
Frequentador das listas de "ganhadores" daquele certame fez o modesto. No curso do monumental charivari que tomou conta do PSDB paulista - com rebatimento em terras mineiras - fez o frio. O mundo tucano se desfazia em ferro e fogo, mas, no gabinete do governador, a temperatura era de inverso europeu.
Do lado de fora, os administradores políticos da confusão - Aloísio Nunes Ferreira e Alberto Goldman - transitavam com os cabelos em pé e os colarinhos amarfanhados. Dentro, o governador - composto e indiferente - tratava o assunto Geraldo Alckmin com naturalidade acadêmica, estudada até a medula.
Nem parecia que o ex-governador, desafeto assumido nas internas e adversário contido para efeito externo, estava criando embaraços graves ao plano de deixar o caminho livre para a candidatura Gilberto Kassab ao encasquetar em disputar a prefeitura pelo PSDB.
Da boca do governador nenhuma crítica produzida na presença de estranhos, jornalistas incluídos. Impassível ante a qualquer provocação, Serra manteve a fleuma do começo ao fim. Oficialmente falando, claro.
Calabrês, disputou, e ganhou, no quesito impassibilidade, celebrado como a marca do anestesista, um homem pouco dado a entusiasmos e duro na queda. Ainda que profunda.
Longe de ser um tolo, muito menos um vocacionado para o conformismo, Alckmin não esquentou cadeira na derrota. Mal digerido o resultado da eliminação no primeiro turno, começou a se movimentar.
Primeiro, a bordo da versão de que deixaria o PSDB, talvez até para se candidatar a presidente. Depois, espalhou que estava pensando em se candidatar a governador em 2010 e disputar a legenda tucana com o indicado por Serra que poderia ser qualquer um, menos ele.
Desta vez, com a imagem do Palácio do Planalto no horizonte, o governador José Serra não deixou ao tempo a solução dos problemas. Até porque a experiência lhe mostrou duas vezes que a omissão não é a melhor conselheira.
Em 2006, Serra queria ser candidato, Alckmin também. Mas, agora se vê, não queria tanto assim. Ou imaginou que com a preferência nas pesquisas não precisasse fazer por onde.
Deixou as coisas correrem seu curso livremente e, na última hora, resolveu disputar o governo do Estado, argumentando que não poderia insistir na candidatura a presidente com Alckmin no comando da resistência em São Paulo.
Em 2008, não fez como muitos achavam que deveria ter feito. Não apelou a Alckmin pela desistência da disputa da prefeitura e apostou que ele tropeçaria nas próprias pernas como, de fato, tropeçou.
Mas saiu daquela eleição com mais de 20% dos votos, o que, em termos de São Paulo, quer dizer mais de um milhão e meio de votos. Em matéria de PSDB, uma nova ofensiva de Alckmin no trabalho de construção de barreiras poderia significar bem mais.
Ele capitaliza, como ocorreu nas ocasiões anteriores, a ação dos adversários de Serra dentro do partido e País afora. Qualquer um que converse com Alckmin dá margem à interpretação de que sobre a formação de um núcleo anti-Serra. É sempre um fator de perturbação.
Durante a campanha municipal, Aécio Neves participou de atos públicos com Alckmin e a leitura que se fez foi de investida de Aécio contra Serra.
A lógica apontava para uma leitura menos drástica do ponto de vista eleitoral, pois não seria crível que algum paulista mudasse o voto por conta da presença do governador mineiro.
Só que sob a ótica das aparências partidárias, ações semelhantes nesse período até o início da campanha presidencial, dão ideia de divisão e tudo o que Serra precisa é de construir a união.
Daí a opção por cooptar o grupo de Alckmin, não depreciar a força de nenhum adversário, remover montanhas, dirimir conflitos, comer o mingau pelas beiradas, agregar, como convém a quem cuida de cada lance com o cuidado de um jogo esperado a vida inteira.
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
Reside nos detalhes - nem sempre sutis, é verdade - a dimensão do empenho do governador de São Paulo no projeto Presidência da República. José Serra nunca esteve tão disposto a remover obstáculos, a não deixar ponto sem nó, a aparar arestas presentes, passadas e futuras.
Cozinha em banho-maria a proposta de realização de prévias no PSDB, como diz querer o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, articula-se com o PT pelo fim da reeleição e agora acaba de matar um mal pela raiz ao deslocar um de seus principais operadores políticos da Secretaria de Desenvolvimento para dar lugar a Geraldo Alckmin. E companhia, obviamente.
José Serra trabalha em silêncio e não é de hoje. Paulista da Mooca, reza pela cartilha da mítica mineira.
Na eleição municipal "amarrou" o apoio do PMDB de São Paulo à sua candidatura, antes disso havia feito do DEM um devedor eterno ao garantir ao minguante ex-PFL o comando da prefeitura mais importante do País e depois disso teve o cuidado de não celebrar as vitórias.
Frequentador das listas de "ganhadores" daquele certame fez o modesto. No curso do monumental charivari que tomou conta do PSDB paulista - com rebatimento em terras mineiras - fez o frio. O mundo tucano se desfazia em ferro e fogo, mas, no gabinete do governador, a temperatura era de inverso europeu.
Do lado de fora, os administradores políticos da confusão - Aloísio Nunes Ferreira e Alberto Goldman - transitavam com os cabelos em pé e os colarinhos amarfanhados. Dentro, o governador - composto e indiferente - tratava o assunto Geraldo Alckmin com naturalidade acadêmica, estudada até a medula.
Nem parecia que o ex-governador, desafeto assumido nas internas e adversário contido para efeito externo, estava criando embaraços graves ao plano de deixar o caminho livre para a candidatura Gilberto Kassab ao encasquetar em disputar a prefeitura pelo PSDB.
Da boca do governador nenhuma crítica produzida na presença de estranhos, jornalistas incluídos. Impassível ante a qualquer provocação, Serra manteve a fleuma do começo ao fim. Oficialmente falando, claro.
Calabrês, disputou, e ganhou, no quesito impassibilidade, celebrado como a marca do anestesista, um homem pouco dado a entusiasmos e duro na queda. Ainda que profunda.
Longe de ser um tolo, muito menos um vocacionado para o conformismo, Alckmin não esquentou cadeira na derrota. Mal digerido o resultado da eliminação no primeiro turno, começou a se movimentar.
Primeiro, a bordo da versão de que deixaria o PSDB, talvez até para se candidatar a presidente. Depois, espalhou que estava pensando em se candidatar a governador em 2010 e disputar a legenda tucana com o indicado por Serra que poderia ser qualquer um, menos ele.
Desta vez, com a imagem do Palácio do Planalto no horizonte, o governador José Serra não deixou ao tempo a solução dos problemas. Até porque a experiência lhe mostrou duas vezes que a omissão não é a melhor conselheira.
Em 2006, Serra queria ser candidato, Alckmin também. Mas, agora se vê, não queria tanto assim. Ou imaginou que com a preferência nas pesquisas não precisasse fazer por onde.
Deixou as coisas correrem seu curso livremente e, na última hora, resolveu disputar o governo do Estado, argumentando que não poderia insistir na candidatura a presidente com Alckmin no comando da resistência em São Paulo.
Em 2008, não fez como muitos achavam que deveria ter feito. Não apelou a Alckmin pela desistência da disputa da prefeitura e apostou que ele tropeçaria nas próprias pernas como, de fato, tropeçou.
Mas saiu daquela eleição com mais de 20% dos votos, o que, em termos de São Paulo, quer dizer mais de um milhão e meio de votos. Em matéria de PSDB, uma nova ofensiva de Alckmin no trabalho de construção de barreiras poderia significar bem mais.
Ele capitaliza, como ocorreu nas ocasiões anteriores, a ação dos adversários de Serra dentro do partido e País afora. Qualquer um que converse com Alckmin dá margem à interpretação de que sobre a formação de um núcleo anti-Serra. É sempre um fator de perturbação.
Durante a campanha municipal, Aécio Neves participou de atos públicos com Alckmin e a leitura que se fez foi de investida de Aécio contra Serra.
A lógica apontava para uma leitura menos drástica do ponto de vista eleitoral, pois não seria crível que algum paulista mudasse o voto por conta da presença do governador mineiro.
Só que sob a ótica das aparências partidárias, ações semelhantes nesse período até o início da campanha presidencial, dão ideia de divisão e tudo o que Serra precisa é de construir a união.
Daí a opção por cooptar o grupo de Alckmin, não depreciar a força de nenhum adversário, remover montanhas, dirimir conflitos, comer o mingau pelas beiradas, agregar, como convém a quem cuida de cada lance com o cuidado de um jogo esperado a vida inteira.
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