Vinicius Torres Freire
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Queda abrupta do comércio mundial derruba Japão e pode criar nova onda de deterioração de empresas
ATÉ A METADE de fevereiro, o valor das exportações brasileiras foi 22% menor que o do primeiro mês e meio do ano passado. As importações caíram 14%.
No Japão superexportador de manufaturados, a queda das vendas externas nos primeiros 20 dias de janeiro foi de 46%, também em relação a 2008. Em dezembro, as vendas de produtos japoneses para o exterior já haviam levado um tombo inédito de 35%. O massacre da serra elétrica do PIB japonês do trimestre final de 2008, queda de 3,3% ante o trimestre anterior, deveu-se em grande parte ao desastre comercial.
Nos principais portos do Atlântico, os custos do frete de grãos caíram algo em torno de 60% a 70% em relação a fevereiro de 2008.
Dados comerciais de um mês e pouco dizem também pouco, é preciso lembrar. Mas quedas tão abruptas são inusuais. Diga-se também que o Brasil não depende necessariamente do comércio exterior para sustentar seu crescimento. Ou melhor, ao menos não depende da mesma maneira como o Japão. Para nós, mais crítico que o choque direto na produção é a escassez de dólares que um déficit comercial grande pode causar. Mas um outro aspecto relevante dos números acabrunhadores do comércio não é apenas o impacto dessa baixa na produção exportável do país. O encolhimento vertiginoso do mercado mundial, com as decorrentes baixas de preços, é obviamente um mau sinal para o investimento, doméstico e internacional.
O investimento estrangeiro na produção não é apenas uma fonte importante de aumento do capital no Brasil -é também uma fonte de dólares para balancear as contas externas do país. Até dezembro, a conta do investimento estrangeiro direto andava felizmente muito bem. Mas, a princípio, ou pelo menos por enquanto, déficits externos também não parecem ameaça imediata e direta à economia brasileira, a não ser no caso de o país crescer demasiadamente neste ano, em descompasso excessivo com o resto do mundo.
Mas, além do risco de protecionismo, que provocaria baixas ainda maiores no comércio mundial, a baixa abrupta nas vendas dos grandes países exportadores parece em linha com as piores previsões para o PIB das maiores economias do planeta.
Alguns calculistas e analistas da economia chinesa dizem que a queda de 17,5% nas exportações chinesas de janeiro, a maior em 13 anos, não foi tão grave se considerado o "efeito calendário" (as festas do Ano-Novo chinês). Pode ser. Porém os cálculos são díspares, e os chineses também estão importando menos componentes e insumos (pode ser expectativa de exportações ainda menores). De resto, o comércio "doméstico" asiático, entre os países da região, vem caindo desde outubro. Enfim, os demais grandes exportadores, como Japão, Alemanha e Estados Unidos, não passaram a vender menos porque estavam a soltar fogos para a virada do ano chinês.
Comércio menor implica menos investimentos, o que resulta em menos gastos de capital, o que pode detonar a saúde das empresas. Por ora, as piores notícias aparecem em fábricas de bens de consumo, como carros. Mas a baixa abrupta do comércio pode criar uma nova onda de deterioração "corporativa", como se diz hoje em dia.
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Queda abrupta do comércio mundial derruba Japão e pode criar nova onda de deterioração de empresas
ATÉ A METADE de fevereiro, o valor das exportações brasileiras foi 22% menor que o do primeiro mês e meio do ano passado. As importações caíram 14%.
No Japão superexportador de manufaturados, a queda das vendas externas nos primeiros 20 dias de janeiro foi de 46%, também em relação a 2008. Em dezembro, as vendas de produtos japoneses para o exterior já haviam levado um tombo inédito de 35%. O massacre da serra elétrica do PIB japonês do trimestre final de 2008, queda de 3,3% ante o trimestre anterior, deveu-se em grande parte ao desastre comercial.
Nos principais portos do Atlântico, os custos do frete de grãos caíram algo em torno de 60% a 70% em relação a fevereiro de 2008.
Dados comerciais de um mês e pouco dizem também pouco, é preciso lembrar. Mas quedas tão abruptas são inusuais. Diga-se também que o Brasil não depende necessariamente do comércio exterior para sustentar seu crescimento. Ou melhor, ao menos não depende da mesma maneira como o Japão. Para nós, mais crítico que o choque direto na produção é a escassez de dólares que um déficit comercial grande pode causar. Mas um outro aspecto relevante dos números acabrunhadores do comércio não é apenas o impacto dessa baixa na produção exportável do país. O encolhimento vertiginoso do mercado mundial, com as decorrentes baixas de preços, é obviamente um mau sinal para o investimento, doméstico e internacional.
O investimento estrangeiro na produção não é apenas uma fonte importante de aumento do capital no Brasil -é também uma fonte de dólares para balancear as contas externas do país. Até dezembro, a conta do investimento estrangeiro direto andava felizmente muito bem. Mas, a princípio, ou pelo menos por enquanto, déficits externos também não parecem ameaça imediata e direta à economia brasileira, a não ser no caso de o país crescer demasiadamente neste ano, em descompasso excessivo com o resto do mundo.
Mas, além do risco de protecionismo, que provocaria baixas ainda maiores no comércio mundial, a baixa abrupta nas vendas dos grandes países exportadores parece em linha com as piores previsões para o PIB das maiores economias do planeta.
Alguns calculistas e analistas da economia chinesa dizem que a queda de 17,5% nas exportações chinesas de janeiro, a maior em 13 anos, não foi tão grave se considerado o "efeito calendário" (as festas do Ano-Novo chinês). Pode ser. Porém os cálculos são díspares, e os chineses também estão importando menos componentes e insumos (pode ser expectativa de exportações ainda menores). De resto, o comércio "doméstico" asiático, entre os países da região, vem caindo desde outubro. Enfim, os demais grandes exportadores, como Japão, Alemanha e Estados Unidos, não passaram a vender menos porque estavam a soltar fogos para a virada do ano chinês.
Comércio menor implica menos investimentos, o que resulta em menos gastos de capital, o que pode detonar a saúde das empresas. Por ora, as piores notícias aparecem em fábricas de bens de consumo, como carros. Mas a baixa abrupta do comércio pode criar uma nova onda de deterioração "corporativa", como se diz hoje em dia.
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