domingo, 28 de junho de 2009

'A memória da inflação não foi apagada'

Liana Melo
DEU EM O GLOBO

Uma década de convivência com o regime de metas de inflação ainda não foi suficiente para apagar a memória inflacionária. A afirmação é do diretor de Política Econômica do Banco Central (BC), Mário Mesquita, admitindo que será necessário “mais um par de anos de inflação baixa e estável para que tais práticas caiam em desuso”.

O GLOBO: Depois de uma década usando o regime de metas de inflação, o senhor considera que a memória da inflação foi totalmente apagada?

MÁRIO MESQUITA: Creio que a memória inflacionária certamente diminuiu. A nova geração de brasileiros, nascida desde 1994, não viveu o período de hiperinflação, o que ajuda a sociedade a superar estas incômodas lembranças. Mas a memória inflacionária não foi apagada por completo, em que pese o sucesso do regime de metas para a inflação. A evidência é a persistência de práticas de indexação na economia, como os contratos de aluguel e dos preços de alguns serviços. Aparentemente, serão necessários mais alguns anos de inflação baixa e estável para que tais práticas caiam em desuso.

O regime já está maduro o suficiente ou ainda precisa de aperfeiçoamentos?

MESQUITA: As políticas públicas sempre podem ser aperfeiçoadas. Dito isso, é importante ressaltar que o regime, em seu formato atual, tem sido bem sucedido mesmo em condições nem sempre favoráveis. O modelo atual enfrentou a crise de energia, o estouro da bolha da internet, o choque de commodities e o pânico financeiro de 2008. O desempenho da economia na última década sugere que o desenho básico do regime de metas para a inflação se mostrou adequado.

Eu veria com muita cautela sugestões de mudança que fragilizassem o compromisso com o controle da inflação ou reduzissem a transparência do regime. Como faço parte de um colegiado que tem a incumbência de cumprir as metas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), não me cabe tecer comentários específicos sobre alterações no arcabouço do regime.

O economista Sérgio Werlang, considerado o pai do regime de metas, defende a volta das reuniões mensais do Copom. O que o senhor acha disso?

MESQUITA: Não acho que seja necessário retornar à frequência mensal de reuniões. O Copom leva em conta a defasagem dos efeitos da política monetária sobre a economia, inclusive no que se refere ao espaço entre reuniões. Não me parece que os resultados da política monetária seriam significativamente diferentes caso as reuniões fossem mensais. Concordo que a transparência é elemento central do regime de metas, e temos avançado nesta linha.

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