Gustavo Paul
DEU EM O GLOBO
DEU EM O GLOBO
Fernando Henrique bateu o martelo e escolheu Unidade Real de Valor
BRASÍLIA. Em 1993, durante os meses em que a nova moeda brasileira foi sendo desenhada, sua denominação foi um capítulo à parte. De acordo com um dos auxiliares mais próximos ao então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, cogitou-se inicialmente a adoção de nomes tradicionais de moedas, uma delas era coroa. Mas não houve polêmica diante da escolha de real. Era um derivado natural da moeda corrente, o cruzeiro real. Na verdade, a maior discussão foi em torno do que se chamou de “indexador contemporâneo”, que faria a transição do regime monetário anterior para o novo, a Unidade Real de Valor (URV).
Oito nomes foram propostos pela equipe de comunicação da Fazenda. Um memorando enviado no dia 30 de novembro de 1993 pela assessora de Comunicação da pasta, jornalista Ana Tavares, ao então secretárioexecutivo Clovis Carvalho, listava as opções. Fernando Henrique optou por URV. Ele argumentou que o termo trazia a palavra “unidade”, relacionada ao termo técnico “unidade de conta”, usado pelos técnicos e “real”, que faria uma ponte entre a velha e a nova moedas.
BC deu consultoria a UE, Turquia e, agora, Venezuela Depois, de acordo com Clovis Carvalho, outra discussão procurou determinar qual seria o plural de real. Os linguistas mais tradicionais defendiam que se adotasse o termo “réis”, mas este remetia a algo velho — a moeda brasileira do início do século. Dentro do governo, a defesa era por “reais”.
— Essa foi uma discussão entre gramáticos e linguistas, que ocorreu fora da equipe econômica — lembra Carvalho.
O trabalho de distribuição da nova moeda para todos os rincões do país foi um desafio. Em 15 dias, tiveram de mudar 3,4 bilhões de cédulas antigas por 1,5 bilhão de notas de real, além de distribuir três mil toneladas de moedas. De acordo com João Sidney de Figueiredo Lima, atual chefe do Departamento do Meio Circulante do Banco Central (BC), foi a maior troca de moedas já realizada até então, o que levou a instituição a se tornar referência internacional: — Depois demos consultoria à União Europeia (quando o euro entrou em circulação), à Turquia e, recentemente, à Venezuela.
Entre abril e o fim de junho de 1994, o BC distribuiu notas e moedas de real em recipientes lacrados a 42 instituições financeiras em todo o país, e estas se tornaram fiéis depositárias da nova moeda. Apenas para colocar o real em circulação foram 106 viagens aéreas — os voos carregavam até quatro toneladas do novo dinheiro — e 37 terrestres. Até o fim do ano, chegaram a 445 viagens.
Os carros-fortes saíam do prédio do Meio Circulante do BC no Rio escoltados pelo Exército e nos fins de semana de junho, a Avenida Rio Branco chegou a ser vigiada por tanques. E a distribuição foi justamente isso: uma operação de guerra.
— Para evitar falsificações, a orientação era de que os bancos não abrissem as caixas até a véspera do início do plano. Mas o apoio popular ao plano tornou tudo mais fácil — conta Lima.
BRASÍLIA. Em 1993, durante os meses em que a nova moeda brasileira foi sendo desenhada, sua denominação foi um capítulo à parte. De acordo com um dos auxiliares mais próximos ao então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, cogitou-se inicialmente a adoção de nomes tradicionais de moedas, uma delas era coroa. Mas não houve polêmica diante da escolha de real. Era um derivado natural da moeda corrente, o cruzeiro real. Na verdade, a maior discussão foi em torno do que se chamou de “indexador contemporâneo”, que faria a transição do regime monetário anterior para o novo, a Unidade Real de Valor (URV).
Oito nomes foram propostos pela equipe de comunicação da Fazenda. Um memorando enviado no dia 30 de novembro de 1993 pela assessora de Comunicação da pasta, jornalista Ana Tavares, ao então secretárioexecutivo Clovis Carvalho, listava as opções. Fernando Henrique optou por URV. Ele argumentou que o termo trazia a palavra “unidade”, relacionada ao termo técnico “unidade de conta”, usado pelos técnicos e “real”, que faria uma ponte entre a velha e a nova moedas.
BC deu consultoria a UE, Turquia e, agora, Venezuela Depois, de acordo com Clovis Carvalho, outra discussão procurou determinar qual seria o plural de real. Os linguistas mais tradicionais defendiam que se adotasse o termo “réis”, mas este remetia a algo velho — a moeda brasileira do início do século. Dentro do governo, a defesa era por “reais”.
— Essa foi uma discussão entre gramáticos e linguistas, que ocorreu fora da equipe econômica — lembra Carvalho.
O trabalho de distribuição da nova moeda para todos os rincões do país foi um desafio. Em 15 dias, tiveram de mudar 3,4 bilhões de cédulas antigas por 1,5 bilhão de notas de real, além de distribuir três mil toneladas de moedas. De acordo com João Sidney de Figueiredo Lima, atual chefe do Departamento do Meio Circulante do Banco Central (BC), foi a maior troca de moedas já realizada até então, o que levou a instituição a se tornar referência internacional: — Depois demos consultoria à União Europeia (quando o euro entrou em circulação), à Turquia e, recentemente, à Venezuela.
Entre abril e o fim de junho de 1994, o BC distribuiu notas e moedas de real em recipientes lacrados a 42 instituições financeiras em todo o país, e estas se tornaram fiéis depositárias da nova moeda. Apenas para colocar o real em circulação foram 106 viagens aéreas — os voos carregavam até quatro toneladas do novo dinheiro — e 37 terrestres. Até o fim do ano, chegaram a 445 viagens.
Os carros-fortes saíam do prédio do Meio Circulante do BC no Rio escoltados pelo Exército e nos fins de semana de junho, a Avenida Rio Branco chegou a ser vigiada por tanques. E a distribuição foi justamente isso: uma operação de guerra.
— Para evitar falsificações, a orientação era de que os bancos não abrissem as caixas até a véspera do início do plano. Mas o apoio popular ao plano tornou tudo mais fácil — conta Lima.
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