quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Passo em falso

Eliane Cantanhêde
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


Quis o destino (essa é boa, hein?) que a derrota do candidato apoiado pelo Brasil à direção-geral da Unesco saísse na imprensa internacional justamente no dia em que Lula subia à tribuna para abrir a Assembleia Geral da ONU deste ano, em Nova York.

E exatamente quando o Brasil se debate na armadilha de abrigar o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, na embaixada em Tegucigalpa. Ele não tem para onde ir, e o Brasil não tem para onde correr. Impasse puro.

Ok que o discurso de Lula na ONU foi sóbrio e sólido. Ok que não havia outra alternativa senão abrir as portas para Zelaya. Mas Lula e o Brasil poderiam muito bem ter passado sem essa, de mais uma derrota para organismos internacionais. O espaço é curto para relacionar as anteriores.
O pior é que o governo jogou para o alto dois bons candidatos "made in Brasil", o atual vice-diretor da entidade, Márcio Barbosa, que chegou a colecionar uma penca de apoios internacionais, e o ex-ministro e atual senador Cristóvam Buarque, do PDT. E, em vez de ganhar ou perder com um dos seus, perdeu apoiando um egípcio com a má fama de racista, antissemita.

Esse apoio foi uma decisão com ares oportunistas, mas que teve um efeito bumerangue e veio bater na testa do governo brasileiro. O Planalto empurra a culpa para o Itamaraty, o Itamaraty devolve para o Planalto, mas o fato -sempre ele, o fato- é que o governo decidiu dividir aqui, internamente, para tentar somar lá, externamente, com o mundo árabe.

Conclusão: irritou aqui, perdeu lá. A conta não fechou.

Ganhou a búlgara Irina Bokova, de origem pessoal e familiar no antigo comunismo, e por mais que o Brasil desdenhe, dizendo que o cargo nem é lá essas coisas, ele é, sim. A Unesco é o braço da ONU para educação, ciência, cultura, tecnologia, todas essas áreas que remetem ao futuro e que deixam o Brasil tão cara a cara com o atraso.

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