quinta-feira, 24 de setembro de 2009

PT teme debandada de aliados pró-Ciro

Paulo de Tarso Lyra e Cristiane Agostine, de Brasília
DEU NO VALOR ECONÔMICO

Dirigentes do PT acreditam que se o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) consolidar sua candidatura presidencial e atingir, em março do ano que vem, um patamar de intenção de votos na faixa de 30%, o cenário pode complicar para a chefe da Casa Civil, ministra Dilma Rousseff. Isto porque a legenda reviu sua estimativa em relação a Dilma - se antes articuladores do partido diziam que a ministra chegaria a 30% até dezembro, hoje contentam-se com 20% no início da campanha, em junho de 2010.

Embora acreditem que o deputado do PSB deve oscilar nos próximos meses dentro desta faixa - 15% a 20% das intenções de voto -, dirigentes partidários afirmam que, se a escalada for maior, não haverá mais como o PT impedir que o PSB busque alianças com outros partidos da base governista, esvaziando o palanque de Dilma. "Se em março o Ciro tiver 30% nas pesquisas e a Dilma 18%, não teremos como reclamar dos movimentos políticos do PSB", declarou um dirigente ao Valor.

Mesmo sem sinais concretos, petistas com bom diálogo com o PSB acham possível que o partido busque uma aproximação, por exemplo, com o PTB, presidido pelo deputado Roberto Jefferson (RJ) e que apoiou Ciro Gomes em sua última campanha presidencial, em 2002. Outro possível alvo seria o PP, "dependendo do que Ciro conversar com o partido". Segundo o mesmo petista, os mais próximos aliados do PSB na atualidade - PCdoB e PDT - não são vistos como apoiadores de uma eventual candidatura Ciro. "O PCdoB já deixou claro que estará no palanque de Dilma no ano que vem. E o ministro do Trabalho, Carlos Lupi - presidente licenciado do PDT - manifestou a mesma disposição."

O apoio do PDT viria, de acordo com este dirigente petista, independente das declarações públicas dadas pelo deputado Paulo Pereira da Silva (SP), que foi vice de Ciro em 2002 e defende uma nova aliança ano que vem. "Paulinho não fala pelo PDT. Lupi é bem cioso de seus compromissos partidários", reiterou um integrante do Diretório Nacional.

O PT encomendou uma pesquisa de opinião ao Vox Populi - o partido tem uma parceria firmada com o instituto mineiro - e pretende colher os resultados e apresentá-los em outubro. Além disso, integrantes do diretório nacional vão se reunir com os técnicos do instituto para analisar os resultados das pesquisas divulgadas recentemente, como CNT/Sensus e CNI/Ibope. Na última, Ciro foi o único dos pré-candidatos à Presidência que apresentou crescimento nas intenções de voto. "Ele tem capacidade de aglutinar, faz um discurso econômico de alto nível, tem um recall importante. É natural que venha se destacando", ressaltou um dirigente petista, acrescentando que Ciro, por enquanto, só atingiu 25% em um cenário no qual o candidato do PSDB é Aécio Neves, não José Serra.

Mesmo acreditando que o quadro sucessório começará a ser delineado apenas em março ou abril de 2010 - data na qual as principais legendas terão um quadro mais preciso dos candidatos e das alianças estaduais - um petista ouvido pelo Valor admitiu que o cenário atual dificulta o trabalho de convencimento do PSB em apoiar Dilma, abrindo mão da disputa nacional. Em agosto, um jantar no Palácio da Alvorada, reunindo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os dirigentes dos dois principais partidos, tentou ensaiar esta unidade, mas a possibilidade de êxito diminui de lá para cá. "Eu acho que o melhor cenário para nós seria uma eleição plebiscitária. Mas o PSB e Ciro têm todo o direito de pensar diferente, o que levaria a disputa, inevitavelmente, para o segundo turno", completou um parlamentar petista.

Um importante dirigente do PT discorda do ex-ministro José Dirceu, que defendeu, em seu blog, que, caso o PSB insista em lançar candidato a presidente o PT deveria lançar candidatos a governador em Pernambuco e Ceará, Estados administrados pelo PSB. Para este petista, apesar de contar com o respeito do PT, Dirceu não é seu porta-voz. "Nossa relação com o PSB é mais civilizada do que isto. Não podemos acusar Ciro de deslealdade. Não há nenhum pacto entre nós que o impeça de lançar-se candidato a presidente", declarou.

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