DEU NO VALOR ECONÔMICO
O apagão do governo Fernando Henrique Cardoso arrefeceu as perspectivas de poder dos pefelistas- principais aliados tucanos e líderes do condomínio que, até 2002, deu as cartas no setor elétrico nacional. José Serra, candidato à sucessão, escolheria no PMDB sua candidata a vice.
Com a derrota, o PMDB ampliaria seus antigos nacos de poder no setor à medida que ampliava sua aliança com o governo Luiz Inácio Lula da Silva, enquanto o PFL, transmutado em DEM, iniciaria ali uma longa estiagem de poder e influência que dura até hoje.
Ainda que o presidente deixe correr soltas as mesmas justificativas de intempéries climáticas, seu apagão pode mesmo ser diferente daquele que, no governo de seu antecessor, redundou num penoso racionamento de energia.
O que Lula não tem como evitar são as semelhanças do papel desempenhado pelo setor elétrico na acomodação de interesses dos principais aliados governistas de ontem e de hoje.
A senadora Ideli Salvatti (PT-SC), representante de um Estado onde os petistas estão em litígio com o PMDB, resumiu as animosidades geradas pelo apagão com a sutileza de um elefante - "Quando Dilma era ministra não tivemos nenhum apagão", disse às repórteres Cristiane Agostine e Raquel Ulhôa, do Valor.
O PT, assim como o PSDB de ontem, prefere jogar sobre os ombros dos indesejáveis aliados a responsabilidade sobre os percalços administrativos sem oferecer nenhuma alternativa de como governariam sem eles.
Misturam-se ao blecaute os curto-circuitos provocados no PT pelos acordos regionais que privilegiam o PMDB com vistas à eleição da ex-ministra das Minas e Energia, Dilma Rousseff.
Os acordos regionais são o último capítulo da saga da aliança PT/PMDB que começou com a substituição de Dilma, em 2005, por Silas Rondeau - aliado do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), no Ministério das Minas e Energia - e foi selada com a operação que salvou o cargo do senador.
Os poderes de Sarney sobre o ministério estiveram ameaçados durante a interinidade de Nelson Hubner, indicado pelo PT depois do afastamento de Rondeau, envolvido na Operação Navalha, da Polícia Federal. E acabariam por crescer com a nomeação do senador Edison Lobão (PMDB-AP), no início de 2008.
O condomínio Sarney no setor elétrico permaneceria intacto durante todo o imbróglio da crise que envolveu sua permanência no poder. Com cargos estratégicos como a presidência da Eletrobrás, Sarney e Lobão não disputam com Dilma as diretrizes do setor. No seu quinhão estão muitos dos contratos das empresas do grupo Eletrobrás com empreiteiras e outras energéticas.
Um flash da operação do grupo foi estampado há menos de um mês nas páginas da "Folha de S.Paulo" com a publicação de um grampo efetuado pela Polícia Federal de telefonemas entre Sarney e seu filho Fernando em torno das nomeações do setor.
O grampo reproduz as conversas entre pai e filho, em seguida à posse de Lobão no ministério, em torno da nomeação do presidente da Eletrobrás, José Antônio Muniz, além da criação, pelo novo ministro, de uma diretoria de distribuição para acomodar um amigo de Fernando no cargo.
O filho de Sarney já vinha sendo investigado pela Polícia Federal por sua atuação junto ao setor elétrico desde os tempos de Rondeau. Acabaria sendo indiciado pela Polícia Federal por vários crimes - de tráfico de influência a lavagem de dinheiro.
O mapa do poder do PMDB no setor obedece à adesão governista do partido. As únicas estatais comandadas pelo PT estão no Sul, região em que o PMDB é mais próximo da oposição.
O poder do grupo sobre o setor chegou ao seu ápice no final de outubro quando um dos últimos bastiões de resistência ao poder pemedebista sobre Furnas - o fundo de pensão da estatal, a Fundação Real Grandeza - caiu no colo do partido.
As negociações entre Dilma e PMDB em torno do preenchimento de cargos no setor energético foram saudadas pelo partido como sinal de amadurecimento político da ministra que assumira a Casa Civil com fama de técnica dura e de conhecimento irretocável, mas de pouco jogo de cintura.
O apagão acontece quatro anos depois de Dilma deixar formalmente o controle do setor no qual firmou sua reputação de gestora pública. Não há um único técnico capaz de dizer que o sistema elétrico nacional piorou no governo Lula. O que ainda não dá para saber é se as horas às escuras numa noite quente de primavera vão ser uma lembrança perdida do eleitor ou se o bombardeio da campanha eleitoral imporá ranhuras à imagem de administradora eficiente de Dilma Rousseff.
Das respostas do governo ao apagão é que se concluirá se a candidata do presidente foi longe demais no traquejo político de sua caminhada rumo ao poder.
Maria Cristina Fernandes é editora de Política. Escreve às sextas-feiras
O apagão do governo Fernando Henrique Cardoso arrefeceu as perspectivas de poder dos pefelistas- principais aliados tucanos e líderes do condomínio que, até 2002, deu as cartas no setor elétrico nacional. José Serra, candidato à sucessão, escolheria no PMDB sua candidata a vice.
Com a derrota, o PMDB ampliaria seus antigos nacos de poder no setor à medida que ampliava sua aliança com o governo Luiz Inácio Lula da Silva, enquanto o PFL, transmutado em DEM, iniciaria ali uma longa estiagem de poder e influência que dura até hoje.
Ainda que o presidente deixe correr soltas as mesmas justificativas de intempéries climáticas, seu apagão pode mesmo ser diferente daquele que, no governo de seu antecessor, redundou num penoso racionamento de energia.
O que Lula não tem como evitar são as semelhanças do papel desempenhado pelo setor elétrico na acomodação de interesses dos principais aliados governistas de ontem e de hoje.
A senadora Ideli Salvatti (PT-SC), representante de um Estado onde os petistas estão em litígio com o PMDB, resumiu as animosidades geradas pelo apagão com a sutileza de um elefante - "Quando Dilma era ministra não tivemos nenhum apagão", disse às repórteres Cristiane Agostine e Raquel Ulhôa, do Valor.
O PT, assim como o PSDB de ontem, prefere jogar sobre os ombros dos indesejáveis aliados a responsabilidade sobre os percalços administrativos sem oferecer nenhuma alternativa de como governariam sem eles.
Misturam-se ao blecaute os curto-circuitos provocados no PT pelos acordos regionais que privilegiam o PMDB com vistas à eleição da ex-ministra das Minas e Energia, Dilma Rousseff.
Os acordos regionais são o último capítulo da saga da aliança PT/PMDB que começou com a substituição de Dilma, em 2005, por Silas Rondeau - aliado do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), no Ministério das Minas e Energia - e foi selada com a operação que salvou o cargo do senador.
Os poderes de Sarney sobre o ministério estiveram ameaçados durante a interinidade de Nelson Hubner, indicado pelo PT depois do afastamento de Rondeau, envolvido na Operação Navalha, da Polícia Federal. E acabariam por crescer com a nomeação do senador Edison Lobão (PMDB-AP), no início de 2008.
O condomínio Sarney no setor elétrico permaneceria intacto durante todo o imbróglio da crise que envolveu sua permanência no poder. Com cargos estratégicos como a presidência da Eletrobrás, Sarney e Lobão não disputam com Dilma as diretrizes do setor. No seu quinhão estão muitos dos contratos das empresas do grupo Eletrobrás com empreiteiras e outras energéticas.
Um flash da operação do grupo foi estampado há menos de um mês nas páginas da "Folha de S.Paulo" com a publicação de um grampo efetuado pela Polícia Federal de telefonemas entre Sarney e seu filho Fernando em torno das nomeações do setor.
O grampo reproduz as conversas entre pai e filho, em seguida à posse de Lobão no ministério, em torno da nomeação do presidente da Eletrobrás, José Antônio Muniz, além da criação, pelo novo ministro, de uma diretoria de distribuição para acomodar um amigo de Fernando no cargo.
O filho de Sarney já vinha sendo investigado pela Polícia Federal por sua atuação junto ao setor elétrico desde os tempos de Rondeau. Acabaria sendo indiciado pela Polícia Federal por vários crimes - de tráfico de influência a lavagem de dinheiro.
O mapa do poder do PMDB no setor obedece à adesão governista do partido. As únicas estatais comandadas pelo PT estão no Sul, região em que o PMDB é mais próximo da oposição.
O poder do grupo sobre o setor chegou ao seu ápice no final de outubro quando um dos últimos bastiões de resistência ao poder pemedebista sobre Furnas - o fundo de pensão da estatal, a Fundação Real Grandeza - caiu no colo do partido.
As negociações entre Dilma e PMDB em torno do preenchimento de cargos no setor energético foram saudadas pelo partido como sinal de amadurecimento político da ministra que assumira a Casa Civil com fama de técnica dura e de conhecimento irretocável, mas de pouco jogo de cintura.
O apagão acontece quatro anos depois de Dilma deixar formalmente o controle do setor no qual firmou sua reputação de gestora pública. Não há um único técnico capaz de dizer que o sistema elétrico nacional piorou no governo Lula. O que ainda não dá para saber é se as horas às escuras numa noite quente de primavera vão ser uma lembrança perdida do eleitor ou se o bombardeio da campanha eleitoral imporá ranhuras à imagem de administradora eficiente de Dilma Rousseff.
Das respostas do governo ao apagão é que se concluirá se a candidata do presidente foi longe demais no traquejo político de sua caminhada rumo ao poder.
Maria Cristina Fernandes é editora de Política. Escreve às sextas-feiras
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