DEU NO CORREIO BRAZILIENSE
Partidos dividem os cargos mais importantes do setor elétrico e trocam acusações sobre a responsabilidade pelo episódio que deixou boa parte do país às escuras
Ricardo Brito
O apagão que atingiu 18 estados na terça-feira provocou um curto-circuito na relação entre PT e PMDB, partidos que fatiam o setor desde o início do governo Lula. Enquanto o presidente trabalhava pessoalmente para contornar a crise, caciques de uma legenda responsabilizavam cardeais da outra pelo acidente energético. O ministro de Minas e Energia, senador peemedebista Edison Lobão (MA), afirmou inicialmente que o apagão teria sido culpa de Itaipu, dirigida pelo petista Jorge Samek, amigo pessoal de Lula. Foi rebatido logo em seguida. O pano de fundo dessa briga que se estende nos bastidores é o controle dos cargos e de um dos maiores orçamentos da Esplanada dos Ministérios: R$ 80 bilhões da pasta de Minas e Energia, somadas as estatais.
A guerra entre PT e PMDB contamina até as discussões do pré-sal. As duas siglas se movimentam para controlar a Petro-sal, estatal que gerenciará os bilhões de reais decorrentes da extração das reservas de petróleo. “Todos somos governo e o objetivo final é servir bem a sociedade”, contemporiza o deputado e engenheiro elétrico Jorge Boeira (PT-SC). Como a empresa ainda não existe, nem se sabe quantos cargos terá, a briga está em aberto.
Ontem, em público, sob o comando de Lula, o ministro de Minas e Energia e a chefe da Casa Civil, a petista Dilma Rousseff, afinaram o discurso de que o apagão de cerca de cinco horas é um “caso encerrado” (leia mais página 3). Mas sobram queixas nos bastidores. “O Lobão quis jogar a culpa em cima de Itaipu para livrar a Eletrobrás, responsável pelo sistema e onde ele tem o comando”, criticou um parlamentar do PT. Para constrangimento do ministro e blindagem de Dilma, coube a Lobão, um político sem experiência no setor, dar as explicações técnicas à sociedade.
No primeiro mandato de Lula, com o apoio do então presidente do PT, José Dirceu, o PMDB tentou controlar o setor, mas Lula preferiu apostar em Dilma Rousseff, uma técnica recém-convertida ao partido para administrar o Ministério de Minas e Energia. Quando Dilma mudou-se para a Casa Civil, em junho de 2005, impôs homens de confiança aos peemedebistas. Os dois principais são o número 2 do ministério, Márcio Zimmermann, e o diretor de Engenharia da Eletrobrás, Valter Cardeal. O último tornou-se uma espécie de fiscal de Dilma nas decisões da estatal responsável pela transmissão da maior parte da energia consumida pelos brasileiros. No início de 2008, caciques peemedebistas com ascendência na Eletrobrás, como o presidente do Senado, José Sarney, chegaram a se queixar da interferência de Dilma.
Se antes o PT detinha o controle político de praticamente todo o sistema energético – geração, distribuição e transmissão – do ministério, hoje contenta-se com nacos de poder. Mantém influência na geração, com Jorge Samek em Itaipu. Na próxima semana, peemedebistas vão cobrar explicações dele sobre o único desligamento de energia da história da hidrelétrica (veja quadro de indicações).
O PMDB, por sua vez, conseguiu tirar dos petistas, no segundo mandato de Lula, duas joias da coroa. Uma delas foi a presidência da Eletrobrás, controladora de grande parte do sistema de transmissão de energia do país, com José Antonio Muniz Lopes. A outra foi Furnas, primeiro com o ex-prefeito do Rio Luiz Paulo Conde, agora com Carlos Nadalutti Filho. Ambos foram apoiados pelo deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que chegou a retardar, como relator, a votação da derrotada prorrogação da CPMF a fim de emplacar um aliado na presidência da estatal. No fim do mês passado, a última vitória dos peemedebistas veio com a saída de Sérgio Wilson Fontes da presidência do fundo de pensão de Furnas. “O PMDB está satisfeito com o que tem no governo”, afirmou na ocasião o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN).
Chuva não
Embora descartem crise na relação, aliados dos dois partidos no Congresso não acreditam na explicação oficial de que o colapso do sistema foi culpa exclusivamente da natureza. “Não há nada superado”, afirmou o deputado Nelson Bornuier (PMDB-RJ), da Comissão de Minas e Energia. “Nem o próprio governo definiu a causa do apagão”, disse. “Ocorrências em função de episódios meteorológicos existem. O que não convence é simplificar porque houve problemas na proteção do sistema. É preciso apurar por que Itaipu desligou completamente”, afirmou o senador Delcídio Amaral (PT-MS).
Partidos dividem os cargos mais importantes do setor elétrico e trocam acusações sobre a responsabilidade pelo episódio que deixou boa parte do país às escuras
Ricardo Brito
O apagão que atingiu 18 estados na terça-feira provocou um curto-circuito na relação entre PT e PMDB, partidos que fatiam o setor desde o início do governo Lula. Enquanto o presidente trabalhava pessoalmente para contornar a crise, caciques de uma legenda responsabilizavam cardeais da outra pelo acidente energético. O ministro de Minas e Energia, senador peemedebista Edison Lobão (MA), afirmou inicialmente que o apagão teria sido culpa de Itaipu, dirigida pelo petista Jorge Samek, amigo pessoal de Lula. Foi rebatido logo em seguida. O pano de fundo dessa briga que se estende nos bastidores é o controle dos cargos e de um dos maiores orçamentos da Esplanada dos Ministérios: R$ 80 bilhões da pasta de Minas e Energia, somadas as estatais.
A guerra entre PT e PMDB contamina até as discussões do pré-sal. As duas siglas se movimentam para controlar a Petro-sal, estatal que gerenciará os bilhões de reais decorrentes da extração das reservas de petróleo. “Todos somos governo e o objetivo final é servir bem a sociedade”, contemporiza o deputado e engenheiro elétrico Jorge Boeira (PT-SC). Como a empresa ainda não existe, nem se sabe quantos cargos terá, a briga está em aberto.
Ontem, em público, sob o comando de Lula, o ministro de Minas e Energia e a chefe da Casa Civil, a petista Dilma Rousseff, afinaram o discurso de que o apagão de cerca de cinco horas é um “caso encerrado” (leia mais página 3). Mas sobram queixas nos bastidores. “O Lobão quis jogar a culpa em cima de Itaipu para livrar a Eletrobrás, responsável pelo sistema e onde ele tem o comando”, criticou um parlamentar do PT. Para constrangimento do ministro e blindagem de Dilma, coube a Lobão, um político sem experiência no setor, dar as explicações técnicas à sociedade.
No primeiro mandato de Lula, com o apoio do então presidente do PT, José Dirceu, o PMDB tentou controlar o setor, mas Lula preferiu apostar em Dilma Rousseff, uma técnica recém-convertida ao partido para administrar o Ministério de Minas e Energia. Quando Dilma mudou-se para a Casa Civil, em junho de 2005, impôs homens de confiança aos peemedebistas. Os dois principais são o número 2 do ministério, Márcio Zimmermann, e o diretor de Engenharia da Eletrobrás, Valter Cardeal. O último tornou-se uma espécie de fiscal de Dilma nas decisões da estatal responsável pela transmissão da maior parte da energia consumida pelos brasileiros. No início de 2008, caciques peemedebistas com ascendência na Eletrobrás, como o presidente do Senado, José Sarney, chegaram a se queixar da interferência de Dilma.
Se antes o PT detinha o controle político de praticamente todo o sistema energético – geração, distribuição e transmissão – do ministério, hoje contenta-se com nacos de poder. Mantém influência na geração, com Jorge Samek em Itaipu. Na próxima semana, peemedebistas vão cobrar explicações dele sobre o único desligamento de energia da história da hidrelétrica (veja quadro de indicações).
O PMDB, por sua vez, conseguiu tirar dos petistas, no segundo mandato de Lula, duas joias da coroa. Uma delas foi a presidência da Eletrobrás, controladora de grande parte do sistema de transmissão de energia do país, com José Antonio Muniz Lopes. A outra foi Furnas, primeiro com o ex-prefeito do Rio Luiz Paulo Conde, agora com Carlos Nadalutti Filho. Ambos foram apoiados pelo deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que chegou a retardar, como relator, a votação da derrotada prorrogação da CPMF a fim de emplacar um aliado na presidência da estatal. No fim do mês passado, a última vitória dos peemedebistas veio com a saída de Sérgio Wilson Fontes da presidência do fundo de pensão de Furnas. “O PMDB está satisfeito com o que tem no governo”, afirmou na ocasião o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN).
Chuva não
Embora descartem crise na relação, aliados dos dois partidos no Congresso não acreditam na explicação oficial de que o colapso do sistema foi culpa exclusivamente da natureza. “Não há nada superado”, afirmou o deputado Nelson Bornuier (PMDB-RJ), da Comissão de Minas e Energia. “Nem o próprio governo definiu a causa do apagão”, disse. “Ocorrências em função de episódios meteorológicos existem. O que não convence é simplificar porque houve problemas na proteção do sistema. É preciso apurar por que Itaipu desligou completamente”, afirmou o senador Delcídio Amaral (PT-MS).
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