quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Lula acelera o programa de palanques

DEU EM O GLOBO

O presidente Lula disse ontem que até abril vai acelerar o ritmo de inaugurações porque depois a ministra Dilma Rousseff, candidata à sua sucessão, não poderá mais participar desses eventos. E Dilma disse que a oposição quer acabar com o PAC.

Velocidade máxima

Lula avisa que vai acelerar ritmo de inaugurações; Dilma diz que oposição acabará com PAC

Fábio Fabrini Enviado especial • JENIPAPO DE MINAS, ARAÇUAÍ e JUIZ DE FORA (MG)

Em novo evento com ar de campanha, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, précandidata petista à Presidência, provocaram ontem a oposição, prometeram obras e vincularam a manutenção das ações do governo à continuidade da administração do PT. Numa situação inversa à de 2002 — quando os adversários falavam do “risco PT”, caso Lula ganhasse a eleição — a ministra disse em discurso que hoje há o perigo de o PSDB acabar com Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), se vencer as eleições de outubro.

Na entrega de uma barragem de irrigação em Jenipapo de Minas, no Vale do Jequitinhonha (MG), a ministra disse que, após investir contra programas de transferência de renda, uma das bandeiras petistas, os tucanos atacam o PAC. Cobrada no palanque por prefeitos da região, prometeu o asfaltamento de trechos da BR-367. E chorou, ao falar sobre suas origens mineiras.

— Foi o próprio presidente do partido da oposição que disse que acabaria com o PAC como uma das medidas que seriam tomadas, porque o PAC não existe. Ele acabaria com essa história, o que é muito grave, porque estamos justamente inaugurando uma obra concreta, real, que todos vocês sabem que existe — afirmou Dilma, referindo-se à recente entrevista do presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra. — Vira e mexe, quiseram acabar com algum programa do governo Lula. Em 2006, foi a época em que quiseram acabar com o Bolsa Família. Agora, querem acabar com obras como esta que nós estamos aqui inaugurando. E isso nós não vamos deixar.

Falando em seguida, Lula retomou as provocações. Avisou que este trimestre será de muitas outras inaugurações em Minas. O objetivo, segundo ele, é dar publicidade aos responsáveis pelos projetos antes que a legislação eleitoral impeça.

— Neste trimestre, vamos precisar visitar muito Minas e vamos precisar pegar todas as obras em Minas, que são muitas, inclusive de barragens, para que a gente possa inaugurar, porque, a partir de abril, o Geddel (Vieira Lima, ministro da Integração Nacional) não estará mais no governo, a Dilma não estará mais no governo e quem for candidato não pode nem subir no palanque comigo. É importante que a gente inaugure o máximo de obras possível, para que possa mostrar quem foram as pessoas que ajudaram a fazer as coisas neste país.

Dilma é só elogios para Aécio Neves

Apesar das críticas à oposição, Dilma afagou o governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), cuja popularidade é alta no estado, e elogiou seu trabalho em conjunto com o Planalto.

Construída por R$ 203,9 milhões, a barragem — que servirá para irrigação e criação de peixes, entre outros fins —, teve R$ 20,4 milhões de contrapartida do governo mineiro e foi executada pela Ruralminas, órgão vinculado ao Palácio da Liberdade.

— Os prefeitos de Minas e o governador Aécio têm sido parceiros exemplares, republicanos do governo federal e têm, conosco, enfrentado o desafio que é mudar o Brasil — disse Dilma, diante de um público estimado em três mil pessoas.

Mais tarde, ao inaugurar uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) em Juiz de Fora, Lula reafirmou que vai viajar pelo Brasil e reclamou da ausência de Aécio: — Vai ser uma situação complicada porque estamos em ano eleitoral, e a disputa já começou. Estou em uma atividade institucional de presidente da República e aqui deveria estar o governador de Minas. É preciso que essa parceria funcione, mas na eleição, vou vir aqui falar da minha candidata, e o Aécio, do candidato dele. A partir de junho, o que vale é: quem é Cruzeiro, é Cruzeiro.

Quem é Atlético, é Atlético — disse Lula, anunciando que Dilma deixará o governo em 3 de abril, prazo estabelecido pela Justiça Eleitoral.

As viagens por Minas, segundo colégio eleitoral do país, vão se intensificar, na previsão do Planalto. Além de evitar o confronto com Aécio, o objetivo é estreitar os laços de Dilma com o eleitor mineiro. Ao discursar ontem, ela lembrou que nasceu em Belo Horizonte, onde estudou até iniciar o curso de economia na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), quando a perseguição da ditadura militar a forçou a se mudar para o Rio Grande do Sul. Com a voz embargada e lágrimas nos olhos, concluiu: — Não vou concordar com que haja um discurso para saber se sou mineira ou não. Não tenho a menor dúvida de que sou. Quero dizer e vocês sabem que é assim na vida: a gente pode sair do estado onde nasce, mas ele não sai da nossa alma e do nosso coração.

Na entrega de uma escola técnica em Araçuaí, Lula fez uma referência aos seus antecessores, e, assim como Dilma, sugeriu que uma eventual mudança de poder seria um retrocesso: — Que me desculpem os adversários, mas nós vamos ganhar para poder ter continuidade. Se para tudo o que está acontecendo neste Brasil e a gente volta ao passado, todo mundo sabe como é que é.

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