DEU EM O GLOBO
Especialistas dizem que Serra e Dilma têm preferido bater boca a aprofundar debate
Silvia Amorim
SÃO PAULO -Três semanas após o início oficial da campanha nas ruas, os principais candidatos a presidente José Serra (PSDB), Dilma Rousseff (PV) e Marina Silva (PV) dedicaram, até agora, mais tempo a ataques, bate-bocas e debates superficiais do que a uma discussão programática e aprofundada sobre os principais problemas do país.
A avaliação é de cientistas políticos ouvidos pelo GLOBO sobre o comportamento dos três neste início da disputa eleitoral.
Em matéria de conteúdo, o debate está lastimável.
Na minha opinião, há questões fundamentais que não foram nem tangenciadas, como o papel do Estado na economia, a questão do aparelhamento do Estado versus a meritocracia, e os impostos. São questões basilares para você montar uma proposta de governo, apresentar ao eleitorado uma proposta de sociedade. Nada disso é discutido, e a hora de se discutir é agora afirmou o cientista político da Universidade de São Paulo (USP) e diretor do Centro de Pesquisas e Analises de Comunicação (Cepac), Rubens Figueiredo.
Tudo é muito superficial. A discussão sobre as Farc é uma reedição da eleição de 2002 e, no caso do Bolsa Família, se discutiu basicamente a paternidade do programa concordou o cientista político e professor emérito da Universidade de Brasília David Fleischer.
Oportunidades não faltaram para que o eleitor pudesse conhecer as propostas dos candidatos em temas como o narcotráfico, o combate à pobreza e a reforma agrária. Esses foram alguns assuntos amplamente explorados, principalmente por Serra e Dilma, nas últimas semanas. A abordagem, entretanto, ficou restrita, em geral, à troca de acusações.
Nos primeiros dias de campanha, o futuro do Bolsa Família pautou o discurso da petista e do tucano. Mas eles priorizaram o debate sobre a paternidade do programa, em vez de discutirem como conduzirão o combate à pobreza nos próximos quatro anos. No caso das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), tema introduzido na campanha pela oposição, houve troca de acusações entre PT e PSDB; e a questão do combate ao narcotráfico, um dos maiores problemas de segurança pública no país, foi praticamente ignorada.
Anteontem, outro tema relevante as invasões de terra e a reforma agrária entrou em pauta, e mais uma vez o bate-boca predominou. As razões para explicar esse comportamento dividem os especialistas: Acabou de sair o censo do TSE, que mostra que 54% dos eleitores brasileiros sequer têm o primeiro grau completo. Parece-me irrealista supor que os eleitores se debruçarão sobre programas de governo dos candidatos. No eleitorado como um todo, só 6% têm curso superior completo, talvez a parcela mais interessada num debate detalhado de propostas afirmou o Ph.D. em ciência política pelo Massachusetts Institute of Technology Amaury de Souza.
Até hoje, nenhum dos três presidenciáveis apresentou seu programa de governo definitivo. A exigência da Justiça Eleitoral para que fossem divulgados, no ato do pedido de registro de candidatura, um documento com propostas foi contornada pelos candidatos. Dilma apresentou um documento, que, na última hora, foi trocado por um texto menos radical.
Serra enviou à Justiça a cópia de dois discursos feitos na pré-convenção e na convenção do PSDB. Sua campanha prometeu pôr os principais pontos da proposta na internet, mas desistiu.
Marina entregou um texto com diretrizes de um plano de governo, e ontem apresentou um segundo documento genérico, que sofrerá mudanças novamente em setembro.
Para Rui Tavares Maluf, cientista político da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, a polarização desta eleição explicaria, em parte, a superficialidade dos debates: A eleição está polarizada, e o pessoal sabe que é um contingente pequeno que decidirá a eleição. Por isso, estão mais preocupados em forçar o contraste em relação à outra candidatura do que em gerar um debate racional profundo.
Ele também responsabiliza os setores organizados da sociedade: É uma agenda a ser colocada também por setores organizados da sociedade, entre eles a mídia.
Os mais otimistas acreditam que a pressão por uma discussão com mais conteúdo aumentará a partir de agosto, com a realização dos debates na TV e o início do horário eleitoral gratuito.
Acho que só vamos entrar um pouco mais a fundo com os debates na TV disse Fleischer.
Para Maluf, isso só deverá ocorrer num eventual segundo turno: Aí obviamente os candidatos terão que se aprofundar. É um momento em que os eleitores acabam exigindo isso.
A discussão feita até agora pelas candidaturas de Serra e Dilma, para especialistas, não tem impacto eleitoral significativo.
Para ganhar uma eleição de 137 milhões é preciso ir para o centro e não para os extremos. É obvio que, aqui e ali, fala-se nas Farc, na tolerância com o MST, mas, dificilmente, esse tipo de ataque vai ter muito impacto no grosso do eleitorado, mais interessado naquilo que afeta seu dia a dia avalia Souza.
Ao lançar-se ao temas das Farc e da invasão de terras pelo MST, a oposição, avaliam os cientistas políticos, está buscando um eleitorado mais conservador.
Especialistas dizem que Serra e Dilma têm preferido bater boca a aprofundar debate
Silvia Amorim
SÃO PAULO -Três semanas após o início oficial da campanha nas ruas, os principais candidatos a presidente José Serra (PSDB), Dilma Rousseff (PV) e Marina Silva (PV) dedicaram, até agora, mais tempo a ataques, bate-bocas e debates superficiais do que a uma discussão programática e aprofundada sobre os principais problemas do país.
A avaliação é de cientistas políticos ouvidos pelo GLOBO sobre o comportamento dos três neste início da disputa eleitoral.
Em matéria de conteúdo, o debate está lastimável.
Na minha opinião, há questões fundamentais que não foram nem tangenciadas, como o papel do Estado na economia, a questão do aparelhamento do Estado versus a meritocracia, e os impostos. São questões basilares para você montar uma proposta de governo, apresentar ao eleitorado uma proposta de sociedade. Nada disso é discutido, e a hora de se discutir é agora afirmou o cientista político da Universidade de São Paulo (USP) e diretor do Centro de Pesquisas e Analises de Comunicação (Cepac), Rubens Figueiredo.
Tudo é muito superficial. A discussão sobre as Farc é uma reedição da eleição de 2002 e, no caso do Bolsa Família, se discutiu basicamente a paternidade do programa concordou o cientista político e professor emérito da Universidade de Brasília David Fleischer.
Oportunidades não faltaram para que o eleitor pudesse conhecer as propostas dos candidatos em temas como o narcotráfico, o combate à pobreza e a reforma agrária. Esses foram alguns assuntos amplamente explorados, principalmente por Serra e Dilma, nas últimas semanas. A abordagem, entretanto, ficou restrita, em geral, à troca de acusações.
Nos primeiros dias de campanha, o futuro do Bolsa Família pautou o discurso da petista e do tucano. Mas eles priorizaram o debate sobre a paternidade do programa, em vez de discutirem como conduzirão o combate à pobreza nos próximos quatro anos. No caso das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), tema introduzido na campanha pela oposição, houve troca de acusações entre PT e PSDB; e a questão do combate ao narcotráfico, um dos maiores problemas de segurança pública no país, foi praticamente ignorada.
Anteontem, outro tema relevante as invasões de terra e a reforma agrária entrou em pauta, e mais uma vez o bate-boca predominou. As razões para explicar esse comportamento dividem os especialistas: Acabou de sair o censo do TSE, que mostra que 54% dos eleitores brasileiros sequer têm o primeiro grau completo. Parece-me irrealista supor que os eleitores se debruçarão sobre programas de governo dos candidatos. No eleitorado como um todo, só 6% têm curso superior completo, talvez a parcela mais interessada num debate detalhado de propostas afirmou o Ph.D. em ciência política pelo Massachusetts Institute of Technology Amaury de Souza.
Até hoje, nenhum dos três presidenciáveis apresentou seu programa de governo definitivo. A exigência da Justiça Eleitoral para que fossem divulgados, no ato do pedido de registro de candidatura, um documento com propostas foi contornada pelos candidatos. Dilma apresentou um documento, que, na última hora, foi trocado por um texto menos radical.
Serra enviou à Justiça a cópia de dois discursos feitos na pré-convenção e na convenção do PSDB. Sua campanha prometeu pôr os principais pontos da proposta na internet, mas desistiu.
Marina entregou um texto com diretrizes de um plano de governo, e ontem apresentou um segundo documento genérico, que sofrerá mudanças novamente em setembro.
Para Rui Tavares Maluf, cientista político da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, a polarização desta eleição explicaria, em parte, a superficialidade dos debates: A eleição está polarizada, e o pessoal sabe que é um contingente pequeno que decidirá a eleição. Por isso, estão mais preocupados em forçar o contraste em relação à outra candidatura do que em gerar um debate racional profundo.
Ele também responsabiliza os setores organizados da sociedade: É uma agenda a ser colocada também por setores organizados da sociedade, entre eles a mídia.
Os mais otimistas acreditam que a pressão por uma discussão com mais conteúdo aumentará a partir de agosto, com a realização dos debates na TV e o início do horário eleitoral gratuito.
Acho que só vamos entrar um pouco mais a fundo com os debates na TV disse Fleischer.
Para Maluf, isso só deverá ocorrer num eventual segundo turno: Aí obviamente os candidatos terão que se aprofundar. É um momento em que os eleitores acabam exigindo isso.
A discussão feita até agora pelas candidaturas de Serra e Dilma, para especialistas, não tem impacto eleitoral significativo.
Para ganhar uma eleição de 137 milhões é preciso ir para o centro e não para os extremos. É obvio que, aqui e ali, fala-se nas Farc, na tolerância com o MST, mas, dificilmente, esse tipo de ataque vai ter muito impacto no grosso do eleitorado, mais interessado naquilo que afeta seu dia a dia avalia Souza.
Ao lançar-se ao temas das Farc e da invasão de terras pelo MST, a oposição, avaliam os cientistas políticos, está buscando um eleitorado mais conservador.
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