Cinco ministérios, Caixa, Petrobras e Eletrobras patrocinam congresso, que ex-presidente diz não ser chapa-branca
Demétrio Weber
GOIÂNIA. Aplaudido de pé ontem no 52º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva rebateu as críticas de que a entidade é chapa-branca e atacou a imprensa. No palco onde Lula discursou, uma faixa registrava os 11 patrocinadores do evento da UNE, oito deles do governo federal.
Além de Petrobras, Eletrobras-Eletrosul e Caixa Econômica Federal, cinco ministérios apareciam na lista, inclusive o Ministério dos Transportes, que atravessa uma crise por causa de denúncias de corrupção. Os outros quatro patrocinadores federais são os ministérios do Turismo, do Esporte, da Saúde e da Educação.
Embora tenha rejeitado a pecha de chapa-branca para a UNE, Lula agradeceu à entidade e cobrou mais empenho em suas reivindicações:
- Sou grato à UNE pela lealdade na adversidade. Este governo nunca pediu para a UNE abdicar de uma única bandeira.
Ao lado do ministro da Educação, Fernando Haddad, o ex-presidente argumentou que é comum empresas estatais, assim como o próprio governo, investirem em publicidade:
- Você liga a televisão e vê propaganda de quem? Quem é a propaganda do futebol brasileiro? Quem é a propaganda das novelas? Para eles, é democrático. Para vocês, é chapa-branca - disse, aos dirigentes da aliada UNE.
Ao se dirigir ao presidente da UNE, Augusto Chagas, Lula afirmou:
- E você, Chagas, não tenha preocupação com quem diz que vocês são chapa-branca - afirmou. - Você pensa que (o jornal) tem caráter nacional? Não sai do Rio de Janeiro. Vai na Baixada Fluminense e vê quantos jornais chegam lá! - disse, sem citar nome, mas possivelmente se referindo ao GLOBO, que fez reportagem sobre o patrocínio de estatais e do governo ao evento. Lula fez o mesmo raciocínio em relação à imprensa paulista, dizendo que em São Paulo também haveria jornais que "se acham nacionais":
- Os grandes de São Paulo quase não chegam ao ABC, a 23 quilômetros da capital.
Lula disse que gostaria de ver a UNE ajudando universitários que buscam o Financiamento Estudantil (Fies), programa de crédito educativo que passou a dispensar fiador para alunos de baixa renda:
- Eu, este ano, fiquei meio puto com vocês, porque não foi feito isso.
Haddad também rebateu a crítica de que a UNE seria uma entidade chapa-branca em relação ao governo federal.
- Algumas pessoas imaginam que é possível comprar a consciência do movimento estudantil com alguns trocados. Um dinheirinho para organizar um congresso bastaria para pacificar todas as contradições existentes na sociedade brasileira que provenham da educação - disse Haddad. - Estudante não se vende por dinheiro nenhum, muito menos por migalha.
Lembrando os tempos de palanque como candidato ou como presidente, Lula também atacou a imprensa ao defender a presidente Dilma, desafiando os que duvidam da capacidade de sua sucessora e afirmando que o governo dela fará "mais e melhor" do que o dele. E, com mais críticas à imprensa, Lula foi duro ao condenar a forma como foi noticiada sua ida a Brasília, no auge da crise Palocci.
Para Lula, o objetivo da imprensa foi passar a imagem de que Dilma seria fraca:
- Só diz que ela é fraca quem não conhece a personalidade dela. Se o babaca que escreveu isso já tivesse sentado com a Dilma dez minutos ele ia saber que ela pode ter todos os defeitos do mundo, menos ser fraca. Ninguém passa três anos e meio na cadeia, barbaramente torturada, e é eleita presidente da República. Essa é a maior vingança com quem a torturou - disse. - Eu estou ficando invocado, porque já faz seis meses que deixei a Presidência, mas eles (imprensa) não saem do meu pé.
FONTE: O GLOBO
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