Medidas de reforço ao sistema bancário e acordo na Eslováquia animam mercados
Os mercados fecharam ontem em alta, impulsionados pelo anúncio de José Manuel Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia, o braço executivo da União Europeia (UE), de que vai apresentar à reunião de cúpula do bloco, no dia 23 de outubro, medidas para reforçar o sistema bancário da zona do euro. Uma das propostas inclui a obrigatoriedade de os bancos elevarem o patamar de capital básico, para reforçar as defesas contra os efeitos da crise da dívida. Segundo a Autoridade Bancária da Europa, a medida poderá ter um impacto de 100 bilhões sobre os bancos. Barroso propôs a rápida introdução do Mecanismo de Estabilidade Europeia (ESM, na sigla em inglês) e defendeu que os governos da UE, o Banco Central Europeu e a Comissão Europeia coordenem esforços para recapitalizar os bancos, através de injeções privadas e estatais.
Também sustentou o bom humor dos investidores o acordo alcançado ontem por líderes políticos da Eslováquia para aprovar o aumento do fundo de resgate europeu, encerrando uma crise que ameaçava desestabilizar todo o bloco.
Ao falar sobre o aumento de capital dos bancos, Durão Barroso disse que as principais instituições financeiras da UE deveriam ser proibidas de pagar dividendos aos sócios ou bônus a seus executivos até que seu capital básico alcance o novo patamar. Ele, no entanto, não detalhou as propostas.
O principal temor que vem afligindo o setor financeiro é que os bancos sofram grandes prejuízos com os títulos soberanos que possuem de nações com problemas de solvência, como a Grécia. Essa incerteza já começa a afetar o fluxo de empréstimos - quer entre bancos como também na economia em geral -, situação que pode levar a zona do euro à recessão.
Produção industrial no bloco surpreende
Segundo uma fonte próxima à situação, pela proposta de Barroso, os principais bancos europeus terão que implementar novas regras sobre capital de reserva antes de 2019, como estava previsto. Essas instituições terão que elevar seu capital de reserva para, pelo menos, 9% do valor de seus empréstimos, investimentos e outros ativos de risco e, assim, poder absorver perdas potenciais. No teste de estresse feito há alguns meses, o percentual exigido não passava de 6%.
A fonte não revelou quando os novos níveis de capital terão que ser implementados. Apenas disse que será "substancialmente mais cedo" que 2019. A fonte pediu para não ser identificada porque a autoridade europeia do setor de bancos só vai revelar os novos padrões na próxima semana.
Após o anúncio das propostas de Barroso, as ações de bancos subiram, mantendo o movimento de alta da semana, puxado pela esperança de que a zona do euro esteja, enfim, conseguindo conter a piora da crise da dívida. O sinal de acordo político na Eslováquia sobre a expansão do fundo de resgate e o inesperado aumento da produção industrial da zona do euro em agosto também alimentaram a alta das bolsas.
A agência de estatísticas Eurostat informou ontem que a produção industrial dos 17 países da zona do euro cresceu 1,2% na comparação mensal em agosto, para uma expansão anual de 5,3%. Economistas ouvidos pela Reuters previam declínio mensal de 0,7% e alta anual de apenas 2,2%. Os dados mostraram que a produção de bens de capital, usados para investimento, saltou 12,2% em termos anuais. A produção de bens de consumo duráveis, uma medida da confiança do consumidor, subiu 2,8%.
Em Londres, o índice FTSE subiu 0,85%; em Frankfurt, o DAX avançou 2,21%; e o CAC-40, de Paris, cresceu 2,42%. O bom humor contaminou os investidores em Wall Street, onde o índice Dow Jones subiu 0,9%; o Standard & Poor"s 500, 1%; e o Nasdaq, das ações tecnológicas, 0,8%.
Um dos principais pontos de tensão na zona do euro foi desarmado ontem, depois que líderes políticos da Eslováquia chegaram a um acordo para aprovar o aumento do fundo de resgate europeu (Feef). A medida é considerada essencial como parte da solução da crise da dívida no bloco. Na terça-feira, o governo eslovaco havia sofrido uma dura derrota, ao atrelar a aprovação do fundo a um voto de confiança à gestão da primeira-ministra, Iveta Radicova.
Ontem, porém, o ex-premier Robert Fico, líder do Smer, o maior partido de oposição, e partidos governistas chegaram a um acordo para aprovar o plano. O país de apenas 5,4 milhões de habitantes - menos de 2% da população do bloco do euro - era o único que não havia concordado com o aumento do fundo, que precisa da aprovação unânime de todos os 17 membros do bloco.
- O acordo torna possível que votemos amanhã (hoje) à noite ou no máximo na sexta-feira o Feef, e as leis vinculadas ao fundo serão aprovadas - disse Fico.
Mas, os sinais de turbulência na região continuam. Ontem, em um comunicado incomumente franco, o presidente da Itália, Giorgio Napolitano, expressou graves dúvidas sobre a capacidade de o governo do premiê Silvio Berlusconi cumprir as reformas econômicas prometidas. Berlusconi vem sendo pressionado a renunciar.
FONTE: O GLOBO
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