Três famílias entrevistadas pela Folha em novembro de 2010 ainda vivem apenas com a renda do Bolsa Família
Mesmo sem melhorias, essas pessoas aprovam o primeiro ano da presidente, em quem afirmam ter votado
Fábio Guibu
O primeiro ano do governo Dilma Rousseff praticamente acabou, mas pouca coisa mudou na vida das três famílias de miseráveis entrevistadas pela Folha em 2010, em Porto de Pedras, Alagoas.
Em maio do ano passado, quando era pré-candidata à Presidência, Dilma disse que sua meta seria "erradicar a miséria do Brasil" até 2014. Depois das eleições, em novembro, a reportagem visitou Porto de Pedras (106 km de Maceió), onde cerca de 90% dos moradores são pobres.
Um ano depois, as três famílias ainda vivem em casas de taipa sem água encanada e sem esgoto. O Bolsa Família ainda é a única fonte de renda fixa. A pesca e os bicos em fazendas de coco ajudam no orçamento familiar.
Mesmo sem mudanças, as famílias aprovam o primeiro ano da gestão Dilma, em quem votaram. Dizem que ela faz hoje o que o ex-presidente Lula fez pelos pobres.
Ninguém ouviu falar do programa Brasil sem Miséria e todos consideram a saúde o serviço público de pior qualidade. "Fiquei doente em agosto e só consegui marcar um exame para dezembro", disse a dona de casa Fátima Bento de Mesquita, 32.
Casada com o pescador Carlos Jorge Vanderlei Pinheiro, 44, e mãe de dois filhos, recebe R$ 134 do Bolsa Família. Em 2011, o casal não comprou nada para a casa. Em 2012 pretende comprar um colchão novo.
Na casa do descascador de coco Amaro Verçosa Ferreira, 44, e da dona de casa Amara Maria do Nascimento dos Santos, 44, a principal mudança foi de endereço. De uma casa de taipa emprestada de um cunhado eles foram para um depósito de coco de 25 m² cedido pela prefeitura.
Em 2010, quando foi visitado pela Folha, o casal tinha apenas uma lata de sardinha para almoçar. Neste ano, a refeição tem duas sardinhas inteiras, arroz e macarrão.
"Do Lula para cá, as coisas não melhoraram nem pioraram", disse Amara. "O bom é que o Bolsa Família foi de R$ 60 para R$ 70."
Das três casas visitadas no ano passado, apenas a do pescador Flávio Bento de Mesquita, 30, recebeu algum tipo de reforma: um pequeno banheiro, construído em troca de um "bico".
A família de Mesquita cresceu com o nascimento do terceiro filho, em janeiro.
O pescador e a mulher, Maria das Dores dos Santos, 29, foram os únicos a aumentar o patrimônio -compraram um rack por R$ 450 e pensam em construir uma casa de tijolos. "Essa aqui encheu de cupim e apodreceu com a chuva", disse Mesquita.
FONTE: FOLHA DE S PAULO
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