Migração de novas vagas da indústria para comércio e serviços fez achatar os salários
Daniela Amorim
RIO - Apesar de o desemprego vir se mantendo em patamares historicamente baixos, o mercado de trabalho perde dinamismo há meses e já não consegue mais impulsionar a geração de vagas formais. O número de trabalhadores com carteira assinada não registrou variação em novembro em relação a outubro (11,2 milhões), segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A indústria, mais uma vez, cortou vagas, o que contribui, no médio e longo prazo, para uma queda no rendimento médio real do trabalhador brasileiro.
"O emprego na indústria está sendo substituído pelo emprego no comércio e no setor de serviços. Isso leva a uma economia de baixos salários", alertou o pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Fernando Mansor Mattos. "Nesses setores que hoje criam empregos, o trabalhador é mal remunerado e mal qualificado."
Na passagem de agosto para setembro, a indústria brasileira eliminou 42.579 postos de trabalho, uma queda de 1,1%. Em outubro, houve novo corte de vagas no setor, com a perda de 23.391 empregos, um recuo de 0,6%.
Em novembro, o País registrou mais um resultado negativo para o mercado de trabalho na indústria, embora a taxa de desocupação no mês, de 5,2%, tenha atingido o menor patamar para esta época do ano desde o início da série histórica, em 2002. A redução no número de vagas no parque industrial do País foi de 37.334 postos de trabalho, uma diminuição de 1,0% em relação a outubro.
Indústria paulista. A sangria ocorreu principalmente em São Paulo, Estado que concentra maior parte do parque industrial brasileiro. De agosto a novembro, apenas a região metropolitana de São Paulo foi responsável pelo corte de 98.187 vagas, de uma perda total de 103.304 postos registrada no período em todo o Brasil.
Quanto à renda dos trabalhadores, enquanto a indústria pagou, em média, R$ 1.700,70 aos empregados em novembro, os setores que mais têm contratado pagaram consideravelmente menos.
O salário médio no setor de construção foi de R$ 1.386,40, no comércio foi de R$ 1.300,90, e em outros serviços ficou em R$ 1.446,40.
A pesquisadora da Coordenação de Trabalho e Rendimento do IBGE Adriana Beringuy conta que os trabalhadores alocados na indústria são os que têm maior porcentual de carteira assinada e tendem a ter salários mais altos em função da própria configuração formal do setor. Por isso, a dispensa dos empregados nessa atividade afeta o rendimento médio real do trabalhador no País, embora a renda tenha se mantido estável na passagem de outubro para novembro.
Saturação. "A gente nota que os trabalhadores com carteira assinada tendem a ter salários maiores do que os trabalhadores sem carteira. Sendo a indústria um setor que emprega majoritariamente com carteira, por consequência, mostra-se um setor com rendimentos mais altos."
Apesar do movimento negativo da indústria, que acompanha os resultados pífios da produção do setor no ano, a economista Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria Integrada, acredita que há uma saturação na geração de postos, porque o País estaria muito próximo do pleno emprego.
Na avaliação da Tendências, o Brasil atingirá o pleno emprego quando a taxa de desocupação - descontados os efeitos sazonais, como as contratações temporárias para o período de Natal - atingir 5,4%.Atualmente, o desemprego - com ajuste sazonal - está em 5,6%, muito próximo à marca estipulada pela consultoria. "A taxa média de desemprego para 2011 deve ficar em 6%. Em 2012, nossa previsão é de uma taxa média menor, de 5,8%. Então estamos muito próximos do pleno emprego", afirmou Alessandra.
A analista da Tendências explica que o momento vivido pela economia brasileira levou a uma qualidade maior do emprego. Por exigências estruturais do mercado, as empresas tiveram que se profissionalizar e investir na regularização da força de trabalho. Portanto, elas vêm aumentado a formalização do emprego. No entanto, a geração de vagas com carteira desacelera há meses por causa de um esgotamento da mão de obra disponível. "As empresas que querem contratar estão tendo de roubar funcionários de outras empresas ou só conseguem a raspa do tacho, os trabalhadores com menos instrução, que sobraram e ainda não foram pegos pelo mercado", afirmou a economista.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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