A crise entre o governo e a sua base no Congresso levou aliados do Planalto a procurar o ex-presidente Lula em busca de ajuda.
Nos últimos dias, José Sarney (PMDB-AP), Eduardo Braga (PMDB-AM), Eduardo Campos (PSB-PE) e o ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral) foram recebidos por Lula.
Aliados pedem ajuda a Lula para resolver crise na base
Cúpula do PMDB se sentiu desprestigiada com destituição do líder no Senado
Dilma diz a assessores que o governo não precisa votar nada no Congresso até outubro se persistir atual clima
Valdo Cruz, Simone Iglesias
BRASÍLIA - A crise política entre o governo e a base aliada no Congresso, que se agravou nesta semana com a troca de líderes no Senado e na Câmara e ameaças de rebelião, levou aliados do Palácio do Planalto a procurarem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em busca de ajuda.
O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), foi a São Bernardo do Campo anteontem à noite encontrar o petista, num momento em que a cúpula do seu partido está incomodada com o tratamento que tem recebido da presidente Dilma Rousseff.
Nos últimos dias, Lula falou ainda com o novo líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM), que o visitou ontem no Hospital Sírio-Libanês, e com o governador Eduardo Campos (PSB-PE) e com o ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral), muito próximo a ele.
Apesar dessa movimentação, o ex-presidente afirmou que só retomará o "ritmo normal" de suas atividades em 30 dias. Ontem, terminou o tratamento contra uma infecção pulmonar que o deixou internado por uma semana.
Segundo a Folha apurou, Sarney relatou a Lula que a base aliada vive momento de tensão com o Planalto e que é preciso buscar entendimento para pacificar os ânimos.
A cúpula do PMDB sentiu-se desprestigiada com a decisão de Dilma de trocar o senador Romero Jucá (PMDB-AP) por Braga, do grupo dissidente. Na avaliação dessa ala, ela valorizou um senador que jogava contra o governo.
À Folha, Sarney disse que a visita a Lula foi de cortesia e que o tema principal da conversa foi a saúde do ex-presidente. "Ele quis falar de política, mas eu disse que estava ali para falar da recuperação dele, de como a recuperação é importante para o país."
O primeiro sinal sério de insatisfação na base foi a rejeição de Bernardo Figueiredo, indicado por Dilma, para a ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres).
O episódio foi a gota d´água que levou Dilma a trocar seus líderes, o que alimentou o clima de rebelião e piorou ainda mais a desarticulação política do governo.
A confusão chegou ao ápice com as idas e vindas em torno da Lei Geral da Copa.
O governo cedeu à base recuou da liberação de bebidas alcoólicas em estádios, mas teve de voltar atrás um dia depois -negociadores palacianos não sabiam de compromisso firmado pelo próprio governo com a Fifa em 2007, que garantia a venda.
A semana tumultuada levou Dilma a reforçar orientação que já havia dado à sua equipe -votar temas de interesse do governo só quando houver segurança.
A presidente disse a assessores que, em caso extremo, pode prescindir do Congresso até outubro, quando terá de votar o Orçamento de 2013. Até lá, teria tempo suficiente para reconstruir as relações.
Isso significa que, no atual clima, o governo não votará o Código Florestal. Em relação à Lei Geral da Copa, aposta na pressão da sociedade, por se tratar de um evento popular.
Colaborou Daniel Roncaglia
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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