Petistas dilmistas, em número crescente, reclamam de análises sobre a frieza e até o desprezo com que Dilma Rousseff trata políticos encrencados.
A reclamação é na linha de "a mídia criticava o ex-presidente Lula por suas alianças e por contemporizar com os políticos. Agora, resmunga por causa do tratamento duro dado por Dilma aos fisiológicos".
Não é bem assim. Se é verdade que, em certa medida, trata-se de uma pseudocrise a atual troca de farpas entre o Planalto e o Congresso, também é um fato que as coisas não vão bem na política em Brasília.
É positivo a presidente da República dar bananas sucessivas para uma certa escória política que há muito habita o Congresso. Mas tal solução tem escopo limitadíssimo. Até porque essa escumalha infesta o Legislativo apenas por se aproveitar da lassidão das regras existentes -aliás, todas elas aprovadas e sustentadas "con gusto" pelo PT.
Se os partidos existem e dão apoio nas eleições, é natural depois apresentarem suas demandas. Podem ser pleitos inconfessáveis. A presidente tem o dever de recusar o que é imoral e antiético. Muito bem.
Ocorre que o governante está obrigado também à ética da responsabilidade, como teorizou Max Weber. Fernando Henrique Cardoso recebeu Paulo Maluf no Planalto. Lula refestelou-se com Collor.
Uma das muitas missões de um presidente é trabalhar na construção de maiorias e consensos. Mesmo porque gritar "não" para os fisiológicos é fácil e alavanca a imagem de qualquer um. Difícil é encontrar dentro do atual modelo os caminhos éticos, por óbvio, para que o Congresso volte a trabalhar.
Culpar deputados e senadores é pueril e ineficaz, pois o Legislativo fica paralisado. O Brasil, atolado no atraso. E Dilma corre o risco de o país, no seu mandato, não encontrar o caminho para crescer, de maneira sustentável, acima de 3% ao ano.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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