Paulo de Tarso Lyra
Brasília sediará, na primeira quinzena de dezembro, a última reunião do
Diretório Nacional do PT no ano em que o partido sentou no banco dos réus do
Supremo Tribunal Federal (STF) para ser julgado pelo escândalo do mensalão.
Antes do encontro, que reúne todas as tendências e correntes partidárias, a
Construindo um Novo Brasil (CNB) — antigo Campo Majoritário — vai fazer uma
reunião própria para avaliar 2012 e discutir a sucessão interna na legenda em
2013. Sob a influência do réu condenado José Dirceu. “Ele tem o DNA do que o PT
é hoje e ainda orienta nossos passos”, disse um petista com cargo de destaque
em um governo estadual comandado pelo partido.
Mas até mesmo esse respeito fiel tende a desaparecer com o passar do tempo e
será praticamente nulo quando o PT estiver elegendo o futuro presidente, em
novembro do ano que vem. Pelo caminhar do julgamento, a eleição interna
petista, provavelmente, coincidirá com a fase de execução das penas. Apesar de
a dosimetria de Dirceu não estar ainda definida, poucos acreditam que ele
escapará de cumprir parte da pena em regime fechado.
O mesmo petista que “bateu continência” para Dirceu admitiu que ele
dificilmente estará na reunião da CNB em dezembro. “Ele tem se resguardado.
Apareceu no Diretório Nacional em setembro, pouco antes do segundo turno das eleições
municipais. Mas não deve participar deste de agora”, completou o aliado. A
expectativa é que no encontro em Brasília o PT discuta o mensalão e, quem sabe,
divulgue uma nota sobre o julgamento, algo que não aconteceu até agora.
Pessoas próximas ao ex-todo poderoso general petista lembram que o mesmo
constrangimento vivenciado pelo aliado foi sentido pelo candidato eleito do PT
à prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad. Ao longo de todo o segundo turno, o
candidato do PSDB, José Serra, lembrou que o petista estava ligado aos
mensaleiros. “Haddad não podia renegar Dirceu. Mas também tomava o cuidado de
não incensá-lo”, lembrou um interlocutor do partido.
A perda de espaço de Dirceu na legenda não será abrupta e sim, gradual. Na base
partidária, ele ainda é reverenciado. “Zé Dirceu, Genoino (José Genoino) e
Delúbio (Delúbio Soares, ex-tesoureiro) saltaram do patamar de militantes para
o de heróis. Mas isso só os petistas entendem”, declarou um militante ferrenho
do antigo campo majoritário do PT. Mas esse grau de heroísmo começa a ser
suplantado pelo novo momento.
Há duas semanas, o ex-presidente Lula convenceu Dirceu e Genoino a
reembainharem as armas. Eles queriam fazer gestos públicos e manifestações
contra o julgamento do Supremo. Lula achou uma péssima ideia. O presidente
nacional da União Nacional dos Estudantes (UNE), Daniel Iliescu, negou que a
entidade vá organizar qualquer manifestação a favor do ex-chefe da Casa Civil,
como o próprio Dirceu pedira em uma solenidade antes do início do julgamento.
“Como entidade, não está em nossa pauta hoje realizar nenhuma manifestação
nesse sentido. O Dirceu é uma figura polêmica, uns amam, outros odeiam. A UNE
nem ama nem odeia”, declarou Daniel, em entrevista ao Estado de São Paulo.
Pesa ainda contra Dirceu a necessidade de o PT virar a página. “Precisamos, a
exemplo do que fizemos em São Paulo, renovar nossos quadros. Falo isso com a
dor de quem está vendo companheiros condenados injustamente em um julgamento ao
vivo, midiático, que está assustando especialistas jurídicos internacionais”,
disse ao Correio o governador da Bahia, Jaques Wagner.
Dois times. Em relação às futuras eleições partidárias, ainda é cedo para definir nomes de
pré-candidatos ao comando da legenda. Por já ocupar o cargo e ter sido presidente
durante a vitória do partido na disputa pela prefeitura de São Paulo, Rui
Falcão larga na frente. “O futuro presidente terá que ter a habilidade de unir
o time de Dilma e o time de Lula”, explicou um analista político do partido.
Por esse quesito, Falcão tem totais condições de permanecer no cargo. “Mas o
CNB ainda não escolheu seu nome”, apressou-se em afirmar um petista
brasiliense.
Outro nome que surge espontaneamente é o do ministro da Secretaria-Geral da
Presidência, Gilberto Carvalho. Ele admitiu a amigos que esse pode ser um sonho
de futuro, mas que não há condições de exercê-lo nesse momento. Para isso,
teria que deixar o posto ministerial, algo que não está em seus planos e nem na
cabeça da presidente Dilma. Pelo menos, por enquanto.
Fonte: Correio Braziliense
Nenhum comentário:
Postar um comentário