Desconfiança mútua e gestos calculados marcaram o encontro público entre a presidente e o governador, na inauguração da Adutora do Pajeú, em Serra Talhada. Governo federal anunciou liberação de R$ 2,8 bilhões e um pacote de obras, muitas de combate à seca.
Verbas, palanque e tensão
Bruna Serra, Débora Duque
O aguardado encontro público entre o governador Eduardo Campos (PSB) e a presidente Dilma Rousseff (PT), em território pernambucano, foi acompanhado por um clima de desconfiança mútua e gestos calculados. Cientes do simbolismo da visita presidencial, que uniu sob um mesmo palanque dois potenciais adversários na eleição de 2014, o "script" foi bem estudado por ambos. De um lado, o governo federal e seu arsenal de R$ 3,1 bilhões em aportes anunciados, na manhã de ontem, durante a inauguração da Adutora do Pajeú, no Parque de Exposições de Serra Talhada, Sertão. Do outro, um Eduardo que trocou seu tradicional discurso improvisado por palavras lidas, planejadas com a antecedência de quem deseja, sem risco de errar, dizer a que veio. E disse, encontrando uma presidente cheia de sorridos estrategicamente preparada para rebater.
Até então alheia à corrida presidencial, a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, cumpriu ontem a missão política de "refrescar" a memória do público e, principalmente, dos aliados que estiveram no evento de inauguração da Adutora do Pajeú. Miriam Belchior acompanha pouco a presidente Dilma Rousseff (PT) em viagens pelo Brasil.No périplo pelo Nordeste, apenas em Pernambuco Miriam foi escalada para discursar. E mostrou que na guerra fria vivida por petistas e socialistas - desde que o governador do Estado, Eduardo Campos (PSB), começou a se movimentar para viabilizar sua candidatura presidencial - não há espaço para amadorismos. Por isso, o governo federal, em uma cerimônia repleta de desconfiança e desconforto, mostrou como o governador será tratado caso se consolide como candidato a presidente em 2014.
Uma saraivada de obras foi anunciada em um discurso repleto de recados às queixas públicas que Eduardo Campos vem fazendo ao governo e um total de R$ 3,1 bilhões em novos investimentos somente em Pernambuco - sendo R$ 2,8 bilhões da União e R$ 330 milhões do governo estadual - deram o tom do evento. A titular da pasta - que é uma das ministras mais próximas da presidente - comunicou logo no início de sua fala os novos investimentos no Porto de Suape. Serão R$ 140 milhões para a construção do terminal de contêineres, onde será realizada a dragagem e os berços 6 e 7, outros R$ 7 milhões para a implantação do terminal multiuso de Cocaia, além de R$ 2 milhões para a dragagem do canal externo do porto, todas as obras executadas pelo governo federal.
Ao anunciar esse pacote para Suape, a ministra constrange o governador, que vem usando o porto para empunhar uma bandeira contrária à Medida Provisória 595/2012 (MP dos Portos) que hoje tramita no Congresso Nacional. Eduardo tem dito que a falta de discussão com os Estados sobre a MP externa os problemas de diálogo da presidente Dilma com a base.
Com a equipe do governo federal informada por petistas de Pernambuco de que há uma tentativa do PSB em repassar ao público a maior parte da responsabilidade pelo agravamento da seca à administração federal, medidas de grande porte para combater a seca também foram destacadas por Miriam Belchior.
Uma delas é a construção do Ramal de Entremontes, que custará R$ 570 milhões, sendo R$ 370 milhões do governo federal e R$ 200 milhões da gestão Eduardo Campos. O Entremontes alimentará o eixo norte da Transposição das Águas do Rio São Francisco, projeto aguardado desde a era Lula. Também foi anunciada a segunda etapa da Adutora do Pajeú, que totaliza sozinha R$ 63 milhões. Foi assinada ainda a ordem de serviço para a construção da barragem Ingazeira pelo Departamento Nacional de Obras Contra Seca (Dnocs) no valor de R$ 42 milhões.
Proclamada com destaque e recebida com aplausos pelo público local, a duplicação da BR 423, que liga a cidade de São Caetano ao município de Garanhuns, foi outra pauta da ministra. Trata-se de uma obra muito desejada pela população.
A duplicação da BR 232 até São Caetano já foi tema de embate político intenso. Em 2010, quando ainda eram adversários e disputavam o governo estadual, o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB) e o atual governador debatiam nos programas de televisão se o peemedebista havia tomado a decisão correta ao usar verba do tesouro estadual para executar a obra.
Antes de se despedir, a ministra Miriam Belchior ressaltou ainda a participação do governo federal nas negociações que resultaram na instalação da montadora italiana Fiat em Goiana, Mata Norte do Estado. "Aproveito para lembrar a participação decisiva do governo federal na vinda da Fiat para Pernambuco. O governo ofereceu R$ 4,5 bilhões em incentivos fiscais e entrou com aporte financeiro de R$ 5,2 bilhões", lembrou.
Cobrado publicamente em fevereiro deste ano pelo presidente da Fiat no Brasil, Cledorvino Bellini, o governo federal também assegurou a construção do Arco Metropolitano do Recife, uma obra de 77 quilômetros e R$ 1,2 milhão que vem para desafogar o trânsito na BR 101 Sul. O projeto foi doação do Estado. "Com parceria é possível fazer mais para o bem de Pernambuco e do Brasil", alfinetou Belchior na despedida.
Fonte: Jornal do Commercio (PE)
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