A eleição de Nicolás Maduro contra o oposicionista Henrique Capriles, na disputa presidencial da Venezuela – por 7.563.742 sufrágios contra 7.298.491, com o engajamento de toda a máquina governamental, inclusive das Forças Armadas, e o uso abusivo da mídia eletrônica, já quase toda estatizada, numa campanha limitada a duas semanas e sufocada por intermináveis atos de manipulação do cadáver de Hugo Chávez – essa eleição é avaliada como verdadeira “vitória de Pirro” em face das extremas dificuldades que Maduro precisará enfrentar. Num cenário que combina a contestação de legitimidade política (agravada pelo bloqueio que ele impôs a uma recontagem de votos) com a necessidade de respostas urgentes aos efeitos da exacerbação do populismo assistencialista do chavismo. Que se manifestam no descontrole inflacionário, no desabastecimento de alimentos e bens essenciais à população, nos altos e crescentes índices de criminalidade. Como resultado das distorções econômicas da estatização desenfreada, do completo irrealismo cambial, do desvio de recursos para subsídios ao “bolivarianismo” exterior (em Cuba, Bolívia Nicarágua e vários ou-tros países), do inchaço da máquina administrativa, de um enorme déficit público.
Politicamente, ao invés dos dividendos da arrasado-ra superioridade eleitoral programada, Maduro terá pela frente uma oposição recomposta e reenergizada pelo forte apoio do grosso da classe média e também já de parte das “bases populares” do chavismo (afetadas pela crise econômica e social). Oposição que, assim, poderá predominar em eleições parlamentares deste ano, equilibrar ou até virar o jogo no Congresso e, sem que haja respostas básicas à crise, forçar daqui a três anos um referendo revogatório, (previsto na Constituição) do mandato presidencial.
Outro perigoso obstáculo à frente de Maduro – a divisão da cúpula do chavismo – foi apontado e avaliado na coluna de Clóvis Rossi na Folha de S. Paulo, de ontem, intitulado “Ou diálogo ou ingovernabilidade”. Trechos do artigo: “Nicolás Maduro sai das eleições de domingo quase 700 mil votos mais magro do que Hugo Chávez, na comparação com a presidencial de faz apenas seis meses. Mais magro e mais fraco, já desafiado por Diosdado Cabello, tido como líder da ala militar do chavismo, que cobrou, mal divulgados os resultados, “uma profunda autocrítica”, em um primeiro twite, logo seguido de outro em que pedia: “Busquemos nossas falhas até debaixo das pedras”. Cabello não deixou espaço para que seus companheiros culpem os “oligarcas” pelo resultado, ao dizer que “é contraditório que o povo pobre vote por seus exploradores de sempre”. Aceita, pois, que uma parte importante do “povo pobre” votou contra Maduro. De quem pode ser a culpa, se não de Maduro e de suas esquisitices durante a campanha?”.
O sério tropeço eleitoral de Nicolás Maduro, bem como as precárias perspectivas com que seu governo vai começar, têm e terão consequências não apenas na Venezuela mas também externamente. De modo direto, em diversos países menores das Américas do Sul e Central e num de maior porte que á a Argentina – todos com receitas políticas e econômicas semelhantes ou muito próximas às do radicalismo assistencialista liderado por Caracas. E, sob o comando de Chávez, exercendo influência no conjunto da diplomacia das duas regiões, impregnada nos últimos anos por agressivo antiamericanismo. Seja na Unasul, criada em antagonismo à OEA, seja no Mercosul, neste caso com parceria do populismo pragmático dos governos Lula e Dilma Rousseff, do Brasil. O esgotamento de tais receitas e de sua capitalização eleitoral por meio da concentração do poder em executivos autoritários (incluindo o sufocamento da liberdade de imprensa), esse esgota-mento está prestes a manifestar-se de novo, agora na Argentina, de Cristina Kirchner. Cuja condução política e institucional se centra nos ataques à imprensa independente e ao Judiciário. Mas cuja economia sofre agudos efeitos do intervencionismo populista e estatizante (inflacionários, de queda dos investimentos produtivos, de aumento do déficit público, de isolamento externo). O que vai refletindo-se em progressiva erosão da popularidade da presidente e em prováveis derrotas dela nas eleições parlamentares do segundo semestre e do projeto de um terceiro mandato.
Jarbas de Holanda é jornalista
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