Raquel Ulhôa
BRASÍLIA - Para "virar a página das divisões internas do PSDB" e garantir mobilização dos tucanos paulistas à sua candidatura presidencial em 2014, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) enfrenta o desafio de pacificar o partido de São Paulo até sábado, quando será eleito presidente nacional da legenda, em convenção nacional realizada em Brasília.
Nesta semana, deve se reunir com o governador Geraldo Alckmin para decidir a participação dos paulistas na Comissão Executiva Nacional. Essencial à candidatura tucana à Presidência da República em 2014, São Paulo vai estar "muito bem representado na nova direção, como todas as forças do partido estarão", segundo Aécio.
"A convenção nacional sela definitivamente a unidade do partido. Fecha essa agenda de divisões. Será página virada para mim e não vou falar mais sobre isso após a convenção. Os que estiverem lá [na convenção] estarão sinalizando de forma muito clara que querem a unidade do partido. E é com esse PSDB que vamos construir uma alternativa para o Brasil", afirma.
Eleito, Aécio quer profissionalizar a gestão do partido, renovar suas bandeiras e formar uma direção com as "caras novas" do PSDB. No discurso que fará na convenção, vai anunciar o lançamento de "nova agenda para o Brasil". Para ele, o governo do PT manteve a agenda iniciada no governo Fernando Henrique Cardoso.
Com relação aos programas de transferência de renda, por exemplo, o senador já os considera "incorporados à paisagem econômica e social do Brasil" e, por isso, continuarão com esse papel. Mas defende avanços. "O PSDB, diferentemente do PT, não se contenta com a administração da pobreza. Estaremos propondo caminhos para a superação da pobreza."
O mineiro nega-se a falar sobre a aparente resistência do ex-governador José Serra à sua candidatura a presidente da República. E prefere deixar para falar em candidatura presidencial mais adiante. "Só estou me dispondo a aceitar essa missão [de presidir o PSDB] porque, até agora, há posição convergente do partido, de todos os governadores, diretórios e parlamentares, sem exceção. Não me lembro de outro momento do PSDB, desde a fundação, onde tenha havido uma sucessão nacional tão tranquila, tão convergente."
O atual presidente do PSDB, deputado federal Sérgio Guerra (PE), acredita em "provável unanimidade" na eleição de Aécio. Afirma que "as últimas resistências [para ele presidir o partido] foram vencidas, com a declaração de apoio do PSDB de São Paulo". O desafio do sucessor, segundo o deputado, será mobilizar o partido no país todo, para que opere a favor de sua candidatura à Presidência da República. "Esse é um movimento de conquista que ele terá de desenvolver como presidente do PSDB", afirma Guerra.
O dirigente diz acreditar no empenho do PSDB de São Paulo pela eleição de Aécio e nega que Minas tenha feito corpo mole na campanha de Serra em 2010. O ex-governador de São Paulo perdeu para Dilma em Minas, no primeiro turno, por quase 2 milhões de votos.
"Essa é uma falsa questão [que Minas não tenha dado apoio a Serra]. Os resultados da eleição passada, em várias situações, não nos favoreceram. É verdade que perdemos a eleição em Minas Gerais, mas é verdade também que esperávamos ganhar em São Paulo por 4 ou 5 milhões de votos de vantagem e ganhamos por cerca de 2 milhões", afirma Guerra.
Ele diz que o PSDB em 2014 terá de confirmar a superioridade no Sudeste e aumentar mais a vantagem nessa região: "Na eleição passada, ganhamos por pouco no Sudeste e perdemos por muito no Nordeste." Numa avaliação considerada muito otimista por alguns parlamentares tucanos, Guerra diz acreditar nas chances de Aécio "ganhar bem" em São Paulo e no Sudeste de maneira geral, até pela "naturalidade" com que faz campanha no Rio de Janeiro. O Estado deverá ter atenção especial.
Como presidente do partido, Aécio pretende viajar pelo país, realizando eventos do partido, e "profissionalizar" a gestão do PSDB, como partidos europeus, diz. Cita dividir a administração por setores, como movimento de interação com a sociedade, sindical, afro e da mulher, além da fixação de metas de alcance e de filiação. "Na comunicação, vamos começar a unificar nosso discurso, fazer uma rede de repercussão daquilo que seja essencial para o partido e renovar nossas bandeiras", afirma.
Além de trabalhar pela unidade e mobilização do PSDB, Aécio terá a tarefa de buscar aliados para o projeto nacional. A candidatura do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), é considerada importante para levar a eleição para o segundo turno, mas tem atraído tradicionais parceiros do PSDB, como o PPS - hoje unido com o PMN no Mobilização Democrática (MD) - e o Democratas. Setores do DEM já sinalizam apoio a Campos, como o de Goiás.
No cenário previsto por tucanos, Dilma, de cara, perderia a eleição em Minas Gerais para Aécio e em Pernambuco para Campos, mantida a candidatura do governador. Em 2010, ela ganhou nos dois Estados. Considerando a participação da ex-ministra Marina Silva na disputa e o desgaste do governo do PT na Bahia, o PSDB espera um desempenho pior de Dilma no Nordeste, em relação ao resultado de 2010, quando obteve ampla vantagem sobre José Serra.
Por outro lado, a possibilidade de crescimento do PT em São Paulo preocupa setores do PSDB. A população dá sinais de cansaço com os quase 20 anos de hegemonia do partido, e em avaliações internas, tucanos temem riscos à reeleição de Alckmin e reflexos na eleição nacional.
Fonte: Valor Econômico
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