A localização do corpo do ex-deputado do Partido Comunista Brasileiro (PCB) em Pernambuco David Capistrano, preso e esquartejado em março de 1974, ainda é um desafio da Comissão da Verdade de Pernambuco. O colegiado realizou uma audiência pública na manhã desta terça-feira (4) com familiares e membros da legenda de esquerda. Duas versões já conhecidas sobre o destino dos restos mortais do militante de esquerda foram apresentadas, mas não houve nenhum documento ou depoimento que solucionasse o caso. A filha do comunista, a pedagoga aposentada Cristina Capistrano, porém, forneceu uma prova de que seu pai foi preso na tentativa de voltar ao país naquele ano, depois de uma breve estada na Europa.
O ex-delegado do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) Cláudio Guerra defende que o corpo de Capistrano foi incinerado numa usina do Rio de Janeiro. Já o livro “Sem vestígios” (Ed. Geração Editorial), da jornalista Taís Morais, apresenta documentos e relatos que sustenta a versão de que o corpo foi jogado num rio. As duas versões, porém, entram em consenso num seguinte ponto: o ex-militante teria sido morto na chamada Casa da Morte em Petrópolis (RJ). Além da tortura, seu corpo teria sido esquartejado. Representando os familiares, Cristina apresentou um documento que ajuda a comprovar a prisão de seu pai em 14 de março de 1974. Ela sustenta, para chegar ao país, ele teria chegado pela região Sul, sendo preso na cidade de Aquidauana, no estado do Mato Grosso do Sul.
“Pelo que sabemos, ele antes de ir para a Casa da Morte, em Petrópolis, ele foi interrogado nas sedes dos Centros de Operações de Defesa Interna (Doi-Codi) dois estados. Há registros que algumas malas deles foram apreendidas lá. Ele estava com uma com livros e outra com lembranças, presentes da viagem”, comentou Cristina, que também contou um pouco da perseguição sofrida pela família durante o período. Em abril de 1964, sua mãe, Maria Augusta de Oliveira, e o irmão, David Capistrano Filho, menor de 14 anos, foram presos e interrogados para apontar o paradeiro do marido e pai.
Cristina, posteriormente, foi presa pelo Doi-Codi do Rio de Janeiro, em 1971. “Eu fui colocada numa geladeira. Lá a gente não podia abrir os braços porque o espaço era muito pequeno. Eles colocavam o chão de borracha para a gente não grudar os pés. Eu sou uma testemunha viva que havia tortura ali”, disse emocionada. A Comissão deve dar prosseguimento ao caso do ex-deputado junto aos casos dos militantes do PCB, reunidos numa relatoria específica.
Fonte: Diário de Pernaubuco
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