Por Raphael Di Cunto
BRASÍLIA - Integrantes do diretório nacional do PPS criticaram ontem, durante reunião em Brasília, a possível filiação do ex-governador de São Paulo José Serra (PSDB) para ser candidato à Presidência pelo partido. As críticas se dividiram entre os que não querem atrelar a filiação do tucano à sua candidatura pelo partido, os que defendem estreitar as conversas com outros candidatos da oposição e os que acham que Serra iria enfraquecer o PPS por "não representar o que as manifestações de junho pediram".
Luiz Castro Andrade Neto, do Amazonas, pediu ao diretório que fizesse uma leitura mais apurada do cenário. "O PPS apostar na candidatura do Serra significa caminhar para a redução do partido. O Serra representa o establishment rejeitado pelas manifestações mais do que a [presidente] Dilma [Rousseff]", afirmou.
A reunião em que foram expostas as divergências sobre a filiação do tucano foi convocada para discutir a conjuntura depois da fracassada fusão do PPS com o PMN, que tinha como objetivo atrair para a oposição políticos insatisfeitos com o governo. A maioria dos discursos evitou tomar posição sobre 2014, mas alguns militantes usaram o espaço para criticar a possibilidade de Serra concorrer pela legenda. Nenhum fez defesa explícita da candidatura do tucano.
Luiz Antônio Martins, do Rio, disse que isso faria Dilma "ganhar com facilidade". "Não tenho dúvida que a eventual vinda do Serra será muito ruim para a oposição. Ele vai competir no mesmo campo do [senador] Aécio Neves e dividir os votos do PSDB", afirmou.
Também representante do Rio, Roberto Percinoto afirmou que o tucano tem grande rejeição no Estado. "Nas duas vezes em que foi candidato à Presidência, Serra não conseguiu fazer sequer um evento relevante no Rio", disse. "Ele promove luta interna no PSDB e nos usa como forma de pressão."
O secretário de Comunicação do PPS de São Paulo, Maurício Huertas, disse que os reiterados convites de filiação ao ex-governador dificultam as conversas com outros candidatos, como a ex-ministra Marina Silva.
Presidente do diretório do PPS de Minas, a deputada estadual Luzia Ferreira disse que Serra seria um grande quadro para o partido, mas que sua filiação não pode estar atrelada à obrigação de ser o candidato. "Ele tem que correr o risco. Mas se ele pensar bem, pelo menos aqui ele teria esse risco, no PSDB nem essa chance haveria", ponderou. Defensora de que o PPS apoie Aécio na disputa, Luzia terá hoje uma primeira reunião para tratar do assunto com o mineiro.
No comando da reunião, o presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire (SP), rebateu as críticas e disse que tem conversado com todos os candidatos da oposição e que o diretório vai decidir no final. "Estamos dialogando com todas as forças políticas, mas não há definição, nem nossa nem da parte de quem serão os candidatos", afirmou.
Freire, que é apontado como um dos principais entusiastas da candidatura do ex-governador, disse que nenhum dirigente do PPS lhe disse ser contra a filiação. Reiterou, porém, que a decisão tem que ser tomada logo - o prazo para que os candidatos estejam filiados aos partidos pelos quais vão concorrer termina um ano antes da eleição. "O seu Serra deve saber que se quiser ser candidato tem que decidir até 6 de outubro", pontuou.
Fonte: Valor Econômico
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