Isadora Peron - O Estado de S. Paulo
RECIFE - À espera apenas de um anúncio formal para que seja oficializada como candidata do PSB à Presidência da República, a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva desembarcou ontem no Recife para a cerimônia de sepultamento do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos dizendo que a perda do aliado impõe a ela uma "responsabilidade" e um "compromisso". Sem entrar em detalhes, afirmou ainda que o fato de ela, candidata a vice, não estar no mesmo jatinho de Campos, o cabeça de chapa, "foi uma providência divina".
O PSB ainda precisa bater o martelo sobre quem será o vice de Marina. O anúncio dos novos nomes deve ocorrer entre hoje, após o enterro dos restos mortais de Campos, e quarta-feira, quando o partido terá uma reunião de dirigentes em Brasília.
Marina chegou à capital pernambucana às 14h30, antes mesmo de o avião da Força Aérea Brasileira (FAB) que transportaria os restos mortais de Campos decolar de São Paulo. Ela foi uma das primeiras passageiras a entrar no voo 6324, da Avianca. Sentou-se na poltrona 22B, ao lado do marido, Fábio Lima.
A ex-ministra passou a maior parte do tempo calada. Com fones de ouvido ligados ao seu celular, ouvia a pregação de um pastor - ela é evangélica - e lia trechos da Bíblia, entre eles o Salmo 23, que diz "O Senhor é meu Pastor e nada me faltará".
Quando deixava a Bíblia, lia e fazia anotações sobre o livro Em Busca da Política, do sociólogo polonês Zygmunt Bauman.
Resignação. Marina tinha um semblante mais resignado do que na quarta-feira passada, quando, no dia do desastre, foi a público lamentar a morte de Campos e outras seis pessoas - quatro assessores e dois pilotos.
Assim que o avião pousou no Recife, aceitou falar rapidamente com o Estado, desde que não fosse questionada sobre o seu futuro político. Foi quando falou em "providência divina" e repetiu o que havia dito no dia anterior em reunião reservada com aliados. "Sinto o senso de responsabilidade e compromisso que a perda de Eduardo impõe", afirmou a ex-ministra.
Além do marido, as três filhas acompanhavam a ex-ministra. O filho Danilo, que estava com ela em São Paulo, não pode viajar. Um grupo de mais de dez pessoas da Rede Sustentabilidade também estava no mesmo voo para Recife. Fazia parte da comitiva os aliados que escolheu para compor a equipe de coordenação da campanha como Bazileu Margarido, Pedro Ivo, Neca Setúbal e Nilson Oliveira.
Apreensão. Na fila para o embarque, foi impossível não falar da apreensão em ter de pegar um avião depois da tragédia de quarta-feira. Uma das filhas de Marina comentou que a irmã, Mayara, sempre ficava muito ansiosa quando tinha que pegar um voo. Pediu para sentar ao lado das irmãs para ficar mais tranquila.
Marina também não gosta de voar. Disse que sempre traz diversos livros para ler, para passar o tempo. Só consegue dormir quando não há turbulência. Ontem, não pregou os olhos.
Para evitar assédio, a ex-ministra não circulou pela área de embarque do aeroporto de Guarulhos, antes da partida. Ficou em uma sala reservada para autoridades, acompanhada do marido e do deputado licenciado Walter Feldman, porta-voz da Rede.
Poucos passageiros se aproximaram de Marina durante o voo. Um deles foi o senador Eduardo Suplicy (PT), que a cumprimentou antes da decolagem. No fim, ela bateu fotos com um casal e foi abraçada por uma senhora emocionada que disse conhecer Campos "desde criancinha".
Após chegar ao Recife, Marina para a casa da família de Campos. O encontro com a viúva Renata foi "intenso e emocionante", segundo relato dos presentes. / Colaborou Daiene Cardoso
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