• Um dia depois de pesquisa mostrar sua leve recuperação, tucano recebe torpedo com estímulo do ex-presidente
• Presidenciável agora grava os programas de TV na véspera para 'pegar bem o clima' e só fala de improviso
Daniela Lima - Folha de S. Paulo
SÃO PAULO - Um dia depois de a primeira pesquisa mostrar sua leve recuperação no cenário eleitoral, Aécio Neves (PSDB) repassou, dentro do avião em que viajava de São Paulo à Bahia, as últimas mensagens que tinha em seu celular. "Continue firme. Ainda dá tempo. Há instabilidade nos votos", dizia um torpedo enviado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
O tucano estava animado com os números do Ibope -- que apontaram alta de quatro pontos percentuais em sua votação, de 15% para 19%-- e ansioso com o Datafolha que sairia no dia seguinte (e lhe deu 17%).
"Se eu der uma embicada, agora faz muita diferença. Pesquisa tem efeito psicológico não só no eleitor, mas nos aliados. Realmente acredito que quem vai para o segundo turno sou eu", comentou, enquanto folheava os jornais.
O tucano colocou na ponta do lápis o tamanho do desafio que terá de vencer em 15 dias para ter chance. Pelas pesquisas internas, precisa ganhar ao menos cinco pontos em São Paulo, outros seis no Rio e voltar ao patamar mínimo de 38% da preferência do eleitorado mineiro.
Não é fácil, e seu maior problema é o Sudeste --região mais populosa do país e onde os tucanos têm, tradicionalmente, bom desempenho. Ele ainda está abaixo.
Mas Aécio tem se animado com a perda de votos de Marina Silva (PSB) em eleitorados estratégicos. Avalia que, mantida a tendência de queda dela, e de recuperação gradual dele, pode chegar às vésperas da eleição "embolado".
Prepara uma ofensiva: tenta obter autorização para regionalizar programas de TV. Agora, grava as propagandas na véspera, para "pegar bem o clima" do que está acontecendo. E fala de improviso. "Não leio mais."
Com o avião taxiando, atendeu uma ligação do economista Arminio Fraga, que será seu ministro da Fazenda, caso eleito: "Vou gravar um programa e temos que simplificar ao máximo a linguagem, explicar o que está acontecendo no país. Separa umas ideias?".
Antes de desligar, fez um acréscimo. "Outra coisa, quero ter um anúncio forte pra fazer no programa. Queria que você me dissesse muito claramente o que dá pra fazer. Tem essa reunião com os trabalhadores... Se puder me dar um plus, tá na hora", encerrou, aos risos.
Na sexta (19), gravou a propaganda em que se reúne com sindicalistas, garante a correção do Imposto de Renda pela inflação e a manutenção da política de reajuste real do salário mínimo. Por fim, sinaliza que vai acabar com o fator previdenciário.
Criado por FHC em 1999, a revisão do mecanismo é controversa pelo impacto que pode trazer à Previdência. Arminio deu o seu "plus". O programa vai ao ar neste sábado (20).
Depois que desligou o telefone, Aécio comentou: "Eu tenho que fazer isso, sabe? Simplificar mesmo. Não dá mais pra ficar insinuando".
Lembrou que, em uma de suas investidas na TV, citou o mensalão e disse que Marina, então filiada ao PT, não reagiu com indignação ao episódio, apenas com um "obsequioso silêncio".
"Obsequioso, né? É o improviso... Mas não tinha o carnavalesco Joãosinho Trinta que dizia que o povo gosta de luxo? Vai que tem gente que pode até não entender, mas pensa: esse cara fala bonito.'"
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