• Em protesto, Roberto Amaral, que defendia apoio a Dilma, não compareceu
Júnia Gama – O Globo
BRASÍLIA - Rachado desde que decidiu apoiar Aécio Neves (PSDB) no segundo turno da disputa presidencial, o PSB elegeu ontem sua nova Executiva Nacional, mais afinada com o tucano. Roberto Amaral, que ocupava a presidência do partido, foi substituído por Carlos Siqueira, que ocupava a primeira secretaria nacional e era o braço direito do ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, falecido em agosto, em acidente aéreo. Amaral defendia que os socialistas se aliassem à presidente Dilma Rousseff e, em protesto, não compareceu à reunião.
As manifestações de Amaral de que o PSB "traiu a luta de Eduardo Campos" e que já estaria negociando espaço em ministérios para fechar apoio a Aécio irritaram as principais lideranças do partido e já há quem diga que não há "clima" para o ex-presidente permanecer no PSB. Nos corredores do Hotel Nacional, onde ocorreu a reunião, correram comentários de que Amaral, que é fundador da legenda, poderia deixar o PSB nos próximos dias.
Dirigente reata com Marina
Em uma tentativa de pacificar o partido, a nova cúpula socialista ofereceu a Amaral o comando da Fundação João Mangabeira, que hoje é presidida por Carlos Siqueira. Mas Amaral recusou e acabou sem cargo na mais alta instância partidária. Os demais socialistas que defendiam a neutralidade ou o apoio a Dilma foram convidados a participar na composição da nova Executiva. Apenas a deputada reeleita Luiza Erundina declinou do convite. Aceitaram os senadores João Capiberibe e Lídice Da Mata, e os governadores Ricardo Coutinho, da Paraíba, e Camilo Capiberibe, do Amapá, que declararam apoio a Dilma.
- Presidente é, por natureza, o líder da maioria, não pode ser da minoria. Todos que votaram contra a aliança com Aécio estão integrando esta nova Executiva, só não integraram aqueles que não quiseram - declarou Carlos Siqueira.
O novo presidente do PSB. que estava rompido com Marina Silva desde a morte de Eduardo Campos, telefonou para Marina na sexta-feira e reatou relações. O dirigente comunicou a Marina que sua permanência no PSB é bem-vinda. No domingo, a exemplo da cúpula da legenda, Marina declarou apoio a Aécio. O deputado Júlio Delgado, que integra a Executiva do PSB, negou que haja negociação de cargos em troca de apoio ao tucano.
- Isso não passou pelas pessoas que trataram com Aécio, não houve discussão nenhuma de ministérios, cargos, mas dos princípios que tinham sido colocados pelo Eduardo Campos. Se fosse para ficar onde doutor Roberto queria, Eduardo não teria saído candidato - afirmou Delgado, referindo-se ao apoio de Amaral ao PT.
Manifesto critica apoio
O bloco dissidente foi representado pela senadora Lídice da Mata, que leu um manifesto do grupo criticando o apoio a Aécio. Os termos usados, no entanto, foram mais comedidos que o artigo publicado por Amaral em seu site pessoal. O texto dizia que a decisão da Executiva "foi eleitoral e episódica e não fala para a política, a esquerda e o socialismo renovador".
Apesar do apoio da família de Eduardo Campos, neto de Miguel Arraes, a Aécio, a presidente Dilma disse ontem que os setores mais tradicionais do PSB estão com ela. Dilma afirmou que receberia, na noite de ontem, Roberto Amaral.
- Tenho certeza que a base fundamental do PSB, o pessoal mais ligado à tradição do PSB, basicamente ao ex-governador Arraes, nunca estaria com Aécio Neves.
Depois da eleição da Executiva do PSB, a viúva de Campos, Renata, e os filhos acompanharam em Brasília, uma missa em memória dos dois meses da morte do ex-governador. ( Colaboraram Fernanda Krakovics e Eduardo Bresciani)
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