• A pessoa mais indicada para ocupar o Ministério da Fazenda, a principal pasta da Economia, não seria aquela que conseguiria aplacar ânimos exacerbados, mas sim que fosse capaz de executar com eficácia a política econômica correta do governo federal
- O Estado de S. Paulo
Há dias vem pipocando nos noticiários a informação de que a presidente Dilma Rousseff procura nomear para ministro da Fazenda alguém com perfil capaz de “acalmar o mercado financeiro”.
Se for para isso, recomeça errado. A pessoa mais indicada para ocupar o Ministério da Fazenda, a principal pasta da Economia, não seria aquela que conseguiria aplacar ânimos exacerbados, mas sim que fosse capaz de executar com eficácia a política econômica correta do governo federal.
O mercado financeiro não está apreensivo porque o atual ministro da Fazenda é Guido Mantega, mas porque a política econômica adotada até agora fracassou, como se vê pelo crescimento insignificante da atividade produtiva, pela inflação que estoura a meta e pela deterioração tanto das contas públicas quanto das contas externas.
Ou seja, tudo tem de começar pelo formato e pela qualidade da política econômica. Se for para continuar com o experimentalismo e a desarticulação dos fundamentos da economia, o nome importaria menos. Seria mais do mesmo, para o que bastaria chamar o atual secretário do Tesouro, Arno Augustin, para continuar com seus truques contábeis e aprofundar tudo o que está aí.
Mas se é para recobrar a consistência dos fundamentos da economia, sanear as contas públicas e colocar em marcha os investimentos, então terá de ser dada prioridade à recuperação da confiança e, aí sim, o perfil do ministro terá importância e será uma indicação da virada pretendida.
Ainda não está claro quanto a presidente Dilma entendeu que as condições em que começa seu segundo mandato são muito diferentes das que herdou em 2011. Não é apenas uma questão de mau desempenho e de piora da qualidade da política econômica que agora ameaça desembocar na perda do grau de investimento dos títulos da dívida brasileira.
O início do novo período de governo coincide com o fim do ciclo de alta das commodities e com o começo de uma longa temporada de vacas magras. Se a economia no exterior não ajudou, vai continuar não ajudando, como ainda nesta quinta-feira reconheceu a presidente Dilma, a partir do que viu e ouviu na reunião de cúpula do Grupo dos Vinte (G-20), realizada no último fim de semana, na Austrália.
Os escândalos da Petrobrás, que apenas começam a ser revelados pela Operação Lava Jato, tendem a afastar as empreiteiras e as empresas que poderiam se apresentar para executar projetos de infraestrutura. Isso significa, também, que o programa de investimentos, do qual depende o desempenho da economia, corre riscos. E ainda está para se verificar quando arrastará também os políticos, os tais 300 picaretas do Congresso e, eventualmente, outros fora dele.
E, não custa repetir, um caudal enorme de incertezas envolve o suprimento imediato de energia elétrica e de água doce à economia do Centro-Sul, para o qual ainda não há respostas adequadas do governo.
O que vem vindo aí exigirá bem mais do que a distribuição de calmantes para os administradores do mercado financeiro.
Um sinal
Mesmo depois de confirmada a recusa do presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, de aceitar o convite ao cargo de ministro da Fazenda, ficou claro o sinal de que a presidente Dilma pretende uma virada. Embora discreto, Trabuco é um forte crítico da atual política econômica e Dilma sabia disso.
Foi o quinto
Em 2002, o ex-presidente do Banco FleetBoston Henrique Meirelles foi o quinto a ser convidado a assumir a presidência do Banco Central. Os outros quatro recusaram.
No vermelho
O ministro do Desenvolvimento, Mauro Borges, torce para que apareça um superávit na balança comercial deste ano. Mas admite que feche com déficit. Está difícil evitar o vermelho. O resultado acumulado até a primeira quinzena de novembro é negativo em US$ 3,4 bilhões. Mas… vai que o governo arrume outra exportação ficta de plataforma da Petrobrás que não sairá do País, mas acabará engrossando as exportações.
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