• Carvalho: Dilma falhou no diálogo com ‘atores da economia e política’
• Para ministro, "faltou competência e clareza" na questão indígena
- O Globo
Em entrevista à BBC Brasil, o ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência, disse que a presidente Dilma Rousseff, reeleita para um segundo mandato, "avançou pouco" em relação às demandas dos movimentos sociais e se afastou dos "principais atores na economia e na política". Segundo ele, também faltou "competência e clareza" ao governo para avançar na questão indígena.
Perguntado se continuaria no governo, Carvalho foi direto: "Preciso trabalhar, eu acumulei experiência. Se ela me convidar a ficar no governo, eu vou ficar." Sobre especulações de que iria para uma embaixada ou para a Funai, brincou: "Só se for no Afeganistão. Falando sério: qualquer ministro aqui na Esplanada que falar qualquer coisa, estará falando bobagem".
Ao fazer um balanço do governo Dilma, Carvalho destacou que, ainda que a presidente tenha prometido ampliar o diálogo com a sociedade, "deixou de fazer da maneira tão intensa, como era feito no tempo do Lula, esse diálogo de chamar os atores antes de tomar decisão - de ouvir com cuidado, e ouvir muitos diferentes, para produzir sínteses que contemplassem os interesses diversos". Para ele, a deficiência se deu "sobretudo no diálogo com os principais atores na economia e na política".
Em relação aos movimentos sociais, Gilberto Carvalho disse que nessa área não faltou diálogo, mas "o atendimento das demandas. "A reforma agrária e a questão indígena avançaram pouco. A reforma urbana - as estruturas de funcionamento das cidades, a mobilidade urbana - também não foi o que os movimentos esperavam", disse.
De acordo com ele, Dilma já se mostrou preocupada com a questão indígena.
"Para ela, são duas preocupações: a reformulação da saúde indígena e a demarcação, mudando a lei e colocando no orçamento recursos para indenizar famílias que estão em terras indígenas. Nosso foco são os guarani kaiowá e os terenas, no Mato Grosso do Sul, onde a situação é de miséria absoluta, morte, suicídio. Agora, não se pode deixar de reconhecer que cresceu muito, e infelizmente só tende a crescer mais, uma resistência ideológica e econômica fortíssima à questão indígena, que se representa fortemente no Congresso", disse Carvalho, que reconheceu que o governo deu "tiros no pé" ao publicar a portaria 303, ampliando as restrições ao reconhecimento de áreas indígenas, e quando a Casa Civil anunciou que outros órgãos iriam atuar nas demarcações.
Luta pela reforma política
Questionado se o governo teria alimentado essa resistência às demarcações ao se aliar, por exemplo, à senadora Kátia Abreu (TO-PMDB), Carvalho rebateu: "Atribuir essa culpa ao governo é um absurdo. A direita cresce porque cresce. O partido da Kátia Abreu está na nossa base. Se eu restringir minha base àqueles que pensam como nós, não aprovamos nenhuma lei. Fazer aliança significa trabalhar com o adversário, digo, com o diverso. Em nenhum momento foi por conta da Kátia Abreu que deixamos de avançar. Não avançamos porque faltou competência e clareza".
Ontem à tarde, em discurso no encontro de Formação da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Carvalho iniciou uma mobilização para a posse de Dilma, no dia 1º de janeiro. Ele convocou os agricultores para que se alcance a meta de colocar 100 mil pessoas na Praça dos Três Poderes. O ministro também convocou os sindicalistas a se mobilizarem para engrossar a campanha de reforma política, e para que o ministro Gilmar Mendes libere seu voto no caso do financiamento público, suspenso no Supremo Tribunal Federal.
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