Andrea Jubé – Valor Econômico
O Partido dos Trabalhadores completa 35 anos no mês que vem em um momento de turbulência e autorreflexão. Apesar de reeleger a presidente da República, caminhando para 16 anos no poder, e eleger cinco governadores, o PT obteve uma vitória apertada, sofreu uma derrota acachapante em São Paulo e enfrenta a investigação do desvio bilionário de recursos na Petrobras. Para completar, despontam as medidas restritivas de direitos trabalhistas, que contrapõem bandeiras históricas da sigla ao novo governo Dilma.
Dirigentes petistas não escondem o temor de que o partido enfrente dificuldades de financiamento nas eleições de 2016 como um dos reflexos da Operação Lava-Jato. Embora não falem explicitamente no fim da legenda, alguns lembram, em conversas reservadas, a história do Partido Comunista Italiano (PCI), que no auge foi o mais forte da esquerda no Ocidente e expirou ao completar 70 anos. É nesse contexto que lideranças petistas afirmam que o partido precisa de uma "volta às origens", ou de uma "boa chacoalhada" para assegurar, se não o futuro, a sobrevivência do partido.
A cúpula e as bases petistas se reúnem no próximo dia 6, em Belo Horizonte, ainda sob o eco da sentença da senadora Marta Suplicy (SP), fundadora e liderança de peso da sigla: "ou o PT muda, ou acaba". A presidente Dilma Rousseff, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, serão as estrelas do evento.
A escolha do palco não foi aleatória. Ao lado da reeleição de Dilma, a vitória de Pimentel foi a mais relevante no plano estadual: desalojou o PSDB, que comandava o Estado há 12 anos, e abateu o senador Aécio Neves, adversário de Dilma, em seu reduto eleitoral. Ao lado dos ministros da Defesa, Jaques Wagner, da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, Pimentel desponta como um dos nomes mais promissores do PT para 2018, caso Lula não seja candidato.
Mas, para continuar se viabilizando eleitoralmente, o PT precisa se reinventar como partido, como gestor, e afastar a pecha de partido corrupto, depois de escândalos como o mensalão e a Operação Lava-Jato, que apura os desvios na Petrobras.
A liderança mais evidente do processo de reformulação do PT é o ex-presidente Lula, que tem promovido reuniões na sede de seu instituto, em São Paulo, para discutir o futuro do partido. Um dos focos das discussões é a dicotomia entre partido e governo.
O partido não concorda com todas as decisões do governo, como ficou evidente nos últimos dias com as críticas de dirigentes às recentes medidas econômicas. Alberto Cantalice, um dos vice-presidentes do PT, criticou publicamente o veto de Dilma à tabela do Imposto de Renda.
Lula tem afirmado a interlocutores mais próximos que o PT não pode ficar "paralisado por ser governo" e impulsiona a sigla para junto dos movimentos sociais. Fundador do PT, ex-presidente nacional da sigla e próximo a Lula, o deputado Devanir Ribeiro (PT-SP), diz que o partido precisa "acertar o passo, ser menos governo, e ser mais partido". Ribeiro, que não se reelegeu no rastro da derrocada petista em São Paulo, diz, em consonância com Lula, que o PT está envelhecendo, e por isso, precisa resgatar sua identidade. "O PT só pode ter sobrevida se voltar às origens".
O presidente nacional do PT, Rui Falcão, ressaltou ao Valor que o PT não parou no tempo. "O PT vem mudando o Brasil, e muda com o Brasil", afirma. Sobre o envolvimento do partido em denúncias de desvios, Falcão sustenta que "o PT é o partido que mais combate a corrupção desde que nasceu". Ele reafirma que os filiados comprovadamente envolvidos em malfeitos serão expulsos, após o devido processo legal.
Mas Falcão reitera que as ferramentas de que o PT lançará mão para debelar a corrupção continuam sendo a reforma política, para acabar com o financiamento privado das campanhas eleitorais, fortalecer os partidos e implantar um sistema político com mais participação popular. Em sintonia com Lula, diz que "o governo tem de confrontar os movimentos sociais, e estes têm de servir para empurrar o governo".
Um dos expoentes da tendência Mensagem, a segunda maior do partido, o deputado reeleito Paulo Teixeira (SP) alerta que o PT precisa mesmo de "uma boa chacoalhada". Ele destaca os avanços sociais dos últimos anos, mas diz que o partido precisa encontrar um caminho a fim de recuperar sua "capacidade dirigente", "restabelecer o vínculo com a sociedade" e mostrar o seu "profundo compromisso com a ética". O partido vai promover uma série de debates e reuniões estaduais e municipais até junho, quando promove o V Congresso Nacional, em Salvador (BA). O objetivo é produzir um documento, com diretrizes e metas que apontem o futuro do PT.
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