- O Estado de S. Paulo
A presidente Dilma começa o segundo mês do seu segundo mandato enrascada em problemas econômicos e políticos.
Embora tenha mudado a orientação da economia, agora em direção do fortalecimento dos fundamentos, os resultados e os novos desafios mostram a piora das condições.
Ao contrário do que fez supor a presidente Dilma em sua Mensagem ao Congresso, a situação fiscal é substancialmente pior do que parecia. Em vez do superávit primário (sobra de arrecadação) prometido até novembro, em 2014 o governo acabou por abrir um rombo nas contas públicas de R$ 32,5 bilhões ou de 0,6% do PIB. Incluídos os juros de R$ 311 bilhões, o déficit nominal do setor público alcançou 6,7% do PIB, um dos maiores do mundo. Não está afastado o risco de rebaixamento da qualidade dos títulos do Brasil, o que, por si só, seria novo desastre.
A inflação dispara para além do teto da meta, para além dos 6,5%. As projeções do mercado (Pesquisa Focus) apontam para 7,0% ao fim deste ano.
O rombo das contas externas (déficit em Conta Corrente) ultrapassou os US$ 90 bilhões em 2014. Por enquanto, não há sinal de melhoras, embora novas projeções indiquem déficit mais baixo, de US$ 78 bilhões. A balança comercial de janeiro, por exemplo, mostrou um saldo negativo de US$ 3,17 bilhões e acusa crescente deterioração das relações de troca, na medida em que a baixa dos preços das matérias-primas indica menor faturamento com exportações em relação aos pagamentos por importações.
A atividade econômica está fortemente ameaçada pelo risco de dois apagões simultâneos, o de água tratada nos Estados de São Paulo, Rio, Minas e Espírito Santo; e o da energia elétrica. Revelam não só os estragos provocados pela estiagem, mas também anos seguidos de falta de planejamento e desleixo nas decisões e na execução de tudo. Apenas por conta dessas incertezas, o pequeno avanço do PIB com que o governo vinha contando pode reverter-se em queda da produção e da renda. O investimento está seriamente ameaçado na medida em que grandes e médias empreiteiras vão sendo desabilitadas de novas concorrências pelas reiteradas acusações de participação ativa no desvio de recursos públicos.
A corrupção e a incompetência administrativa dilapidaram a Petrobrás. Ninguém é capaz de apontar a extensão dos estragos sobre o patrimônio e sobre a capacidade operacional da empresa. O governo parece paralisado. Embora sejam agora inevitáveis mudanças importantes no marco regulatório do pré-sal e nas regras de favorecimento das empresas nacionais, porque a Petrobrás não está dando conta do que tem de fazer, o governo não tem ideia do que propor.
Na área política, a presidente Dilma também parece perdida. Com a notória exceção da área econômica, nomeou um ministério medíocre. Acaba de amargar estrondosa derrota na Câmara, quando da eleição do seu presidente. E espera inerte pela devastação em sua base de apoio, a ser produzida por novas revelações da Operação Lava Jato. Da reforma política, na qual a presidente vem insistindo, falta saber qual é o projeto e como pretende viabilizá-lo.
Está tudo tão ruim que só pode melhorar, apostam alguns. Mas nem com isso se pode contar. Um velho ditado diz o contrário: “Nada é tão ruim que não possa piorar”. Especialmente se o governo continuar paralisado, como agora.
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