• Em mensagem ao Congresso, presidente garante que reequilíbrio fiscal será "gradual"
Cristiane Jungblut – O Globo
BRASÍLIA - Um dia após sofrer uma derrota acachapante na eleição para a presidência da Câmara, a presidente Dilma Rousseff afirmou, em mensagem enviada ao Congresso, na abertura dos trabalhos do Legislativo, que sua gestão não vai promover "recessão ou retrocesso na economia", apesar dos ajustes em curso, como aumento de impostos. Parte dessas medidas terá que ser chancelada pelo Congresso, como as novas regras do seguro-desemprego. Dilma fez uma defesa do ajuste fiscal adotado e admitiu um cenário pessimista no futuro próximo. Ela afirmou que em 2015 o Brasil ainda sofrerá os efeitos da crise econômica. Para ela, a meta é promover o reequilíbrio fiscal "gradual" e o crescimento econômico "o mais rápido possível".
- Não promoveremos recessão e retrocessos. Vamos promover o reequilíbrio fiscal de forma gradual. Ajustes fazem parte do dia a dia da política econômica, bem como do cotidiano de empresas e pessoas. Ajustes nunca são um fim em si mesmos. São medidas necessárias para atingir um objetivo de médio prazo, que, em nosso caso, permanece o mesmo: crescimento econômico com inclusão social - dizia o texto, lido pelo primeiro-secretário da Câmara, deputado Beto Mansur (PRB-SP).
- Precisamos garantir a solidez nos nossos indicadores econômicos. E lidar com as incertezas e oscilações da economia internacional que ainda devem marcar 2015 - afirmou a presidente.
Oposição tenta criar cinco CPi"s
Dilma foi direta ao afirmar que a redução do superávit em 2015 para 1,2% do PIB é a forma encontrada para reagir ao cenário adverso.
- Atingimos um limite - admitiu.
A mensagem foi longa, repleta de defesas de suas ações e garantias de que o governo não mexeu em direitos sociais ou trabalhistas. Ao defender as duras medidas fiscais, ela disse que havia "excessos", citando a necessidade de novas regras para o pagamento de abono salarial, seguro-desemprego e auxílio-doença. Sem citar o escândalo da Petrobras, Dilma disse que o Brasil avança no combate à sua "histórica impunidade" e pediu a ajuda dos poderes Legislativo e Judiciário.
Líderes da oposição criticaram a ausência da presidente na reabertura da sessão legislativa num momento de crise e consideraram uma "inabilidade política" ela mandar em seu lugar o ministro chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante de "cara ruim". Ele ficou o tempo todo de semblante muito fechado e mudo na Mesa, ao lado do novo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que sorria muito.
Os deputados compararam a reabertura da legislatura com o "Estado da União", quando o presidente dos EUA, em sessão solene, discursa fazendo uma prestação de contas de sua gestão e apresentando as propostas para o Legislativo. No momento da leitura em que o texto de Dilma elogiou conquistas da Petrobras, os oposicionistas não se contiveram, e começaram a protestar e a gritar: "petrolão, petrolão". Mansur chegou a interromper a leitura.
- A presidente Dilma explicitou sua insatisfação com o Congresso fazendo beicinho e dizendo: perdi, não vou! Na Inglaterra a rainha Elizabeth escolhe a sua mais vistosa coroa para ir ao Parlamento, num gesto de respeito - criticou o líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB).
A oposição decidiu ontem que tentará apresentar requerimentos para a criação de cinco Comissões de Inquérito. Os temas na mira investigativa do PSDB, DEM e PPS são a Petrobras, setor elétrico, empréstimos do BNDES, fundos de pensão e o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). (Colaboraram Maria Lima, Isabel Braga e Chico de Gois)
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