- Folha de S. Paulo
Há uma cobrança para que Dilma Rousseff reconheça pública e inequivocamente os erros de seu primeiro governo. É verdade que, se o fizesse, tornaria mais crível seu compromisso com o ajuste fiscal, o que teria impacto positivo sobre as expectativas. Parece-me improvável, porém, que a mandatária venha a adotar esse caminho.
A presidente não deve fazer um mea-culpa muito vigoroso por duas razões. Ela é teimosa e precisa de um discurso que, se não convence a maioria, ao menos funcione como uma tábua de salvação psicológica para a militância e, principalmente, para a própria Dilma. Afirmar que o desacerto nas contas públicas é resultado do nobre propósito de salvar milhões de brasileiros do desemprego cumpre bem essa função.
E, quanto mais a presidente repete esse discurso, provavelmente mais ela se convencerá de sua justeza. O problema aqui é que, embora acreditemos que nossas memórias são um registro fidedigno de fatos, elas são mais bem descritas como uma reconstrução permanente e psicologicamente motivada do passado. Cada vez que uma lembrança é acessada pela consciência, ela é modificada à luz do que sentimos no momento.
Nos casos mais extremos, o resultado final desse processo são as falsas memórias. O sujeito tem plena convicção de que as coisas se passaram de um jeito e fica genuinamente surpreso ao descobrir que não foi assim. Isso aconteceu quase ao vivo com Hillary Clinton. Em 2008, ela afirmou que fora alvo de franco-atiradores numa visita que fizera à Bósnia nos anos 90. As imagens do evento a desmentiram no ato.
A essa altura, não acho que seja tão importante exigir que Dilma ajoelhe no milho. Melhor deixar que a psique da mandatária faça o que tem de fazer para preservar algo de sua autoimagem. Quanto ao ajuste, sua garantia no momento é Joaquim Levy. Enquanto ele for o ministro, dá para saber para que lado vai a economia.
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