• Lula diz que o ministro-chefe da Casa Civil não pode ficar posando de ético. O que será que ele sabe?
Daniel Pereira – Revista Veja
O ex-presidente Lula nunca gostou de Aloizio Mercadante. Em sua caminhada ao poder e no comando do governo, estabeleceu com ele uma relação meramente utilitária. Lula mandava, e Mercadante obedecia, na esperança de receber do chefe a nomeação para o cargo de ministro da Fazenda, o que nunca ocorreu. Com a posse de Dilma Rousseff, Lula percebeu que a fidelidade de Mercadante não era a ele, mas à caneta presidencial. Os dois, então, começaram a duelar nos bastidores. O ex-presidente acusa o atual ministro-chefe da Casa Civil de ter sequestrado o governo Dilma e de trabalhar diariamente para ser o candidato do PT ao Planalto em 2018. Além disso, com o avanço das investigações sobre o petrolão, Lula passou a responsabilizar Mercadante pela suposta falta de empenho do governo para anular a Operação Lava-Jato e pela tese de que a roubalheira na Petrobras é um problema da gestão do ex-presidente. Essas queixas são recorrentes. Na semana passada, no entanto, foram acrescidas de uma ameaça.
Em almoço na residência oficial do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), Lula deixou claro que já tem adversários de sobra e não precisa de mais um. "Renan, avise para o Mercadante que, se eu quisesse ferrar com ele, já teria feito isso antes. Ele que não venha dar uma de ético para cima de mim. Eu sei de umas coisas...", disse o ex-presidente. Em 2006, um grupo de petistas tentou comprar um dossiê falso contra o tucano José Serra, que disputava com Mercadante o governo de São Paulo. Apesar de um homem de confiança de Mercadante figurar entre os protagonistas da operação, apelidados de aloprados por Lula, o ministro sempre negou participação no caso. A origem do dinheiro que compraria o papelório fajuto jamais foi descoberta. À mesa com Renan, de volta aos próprios problemas, Lula afirmou que ficou surpreso ao saber que seu amigo Ricardo Pessoa, dono da construtora UTC, declarou ter doado recursos clandestinamente à sua campanha de 2006. Como de costume, alegou não saber de nada e ter determinado a subalternos que apurem o caso.
Também participaram do convescote os senadores Edison Lobão (PMDB-MA) e Delcídio do Amaral (PT-MS), líder do governo no Senado. Entre goies de cachaça mineira, todos demonstraram preocupação com os rumos da Lava-Jato. Acusado de receber propina quando era ministro de Minas e Energia, Lobão disse que sempre conversou com os empresários em seu gabinete na companhia de testemunhas. Nada falou dos encontros em ambientes informais. Delcídio, que não é investigado formalmente nesse caso, admitiu ter recebido doações de empresas do petrolão, "mas tudo dentro da lei". Já Renan ecoou o cordão dos inocentes e, mostrando-se indignado, anunciou que não permitirá a recondução de Rodrigo Janot ao cargo de procurador-geral da República.
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