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• Ausente até da TV , Dilma é criticada em ato da Força, e Lula pede à CUT "paciência" com a presidente
Julianna Granjeia e Ronaldo D’Ercole – O Globo
SÃO PAULO- Longe da TV para evitar um panelaço, a presidente Dilma Rousseff foi tema central dos discursos nas duas principais festas de 1º de Maio, ocorridas ontem em São Paulo. No evento da Força Sindical, que reuniu, entre outros, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), os ataques à presidente e ao governo deram o tom. Já no ato da Central Única dos Trabalhadores (CUT), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu "paciência" com Dilma.
O projeto de terceirização e o ajuste fiscal também dividiram as centrais sindicais. Em referência à terceirização, Eduardo Cunha afirmou que é perigoso a presidente assumir a pauta do PT, uma vez que poderia entrar em confronto com a base partidária. — A presidente da República tem que ter cautela. Ela tem o direito de vetar qualquer proposta, embora a última palavra seja do Congresso. É muito importante que a pauta do partido não seja a do governo. A presidente não é sustentada politicamente somente pelo PT, mas por vários partidos. Todos esses partidos votaram pelo projeto.
Passa a ser perigoso quando você assume a pauta do PT — disse. Em seu discurso, Aécio disse que a presidente se acovardou por não ter feito o pronunciamento . — Este 1º de Maio vai ficar lembrado como o dia da vergonha. O dia em que a presidente da República se acovardou e não teve a coragem de olhar nos olhos dos trabalhadores brasileiros — afirmou o presidente nacional do PSDB, no evento da Força, na Zona Norte de São Paulo. Antes de subir ao palco, o senador afirmou que o governo frustra a festa dos trabalhadores.
— A presidente não teve coragem de dizer aos trabalhadores que eles vão pagar o preço mais duro desses ajustes. A presidente se esconde daqueles que vêm sustentando o Brasil. A irresponsabilidade do governo do PT faz com que, neste 1º de Maio, os trabalhadores não tenham absolutamente nada a celebrar — disse. Já o deputado federal Paulo Pereira da Silva (SD-SP), chegou a xingar a presidente e puxou coro de "fora, Dilma" em cima do palco.
Terceirização também divide atos
O presidente da Força Sindical, Miguel Torres, também endossou o discurso agressivo, pedindo aos presentes contrários às Medidas Provisórias (MPs) do ajuste fiscal — que alteram a forma de acesso a pensões por morte e auxílio-desemprego — que levantassem a mão. Eduardo Cunha estava presente no palco, mas, constrangido, não levantou a mão. Já o representante do governo na festa da Força, o ministro Manoel Dias, não ouviu as críticas.
Deixou o palanque antes dos discursos. No ato da CUT, no Centro da capital paulista, Lula atacou a oposição e pediu aos trabalhadores que defendam Dilma. — Queria pedir a vocês, que muitas vezes ficam nervosos com a Dilma, que ficam irritados, que a gente tem que ter paciência com ela como a mãe da gente tem com a gente. Porque ela foi eleita para governar quatro anos. Temos que ver o resultado final. Para o ex-presidente, os trabalhadores precisam deixar claro que estão ao lado de Dilma, mesmo que tenham críticas ao governo.
— Na hora em que ela está com dificuldade, em vez de só criticar, é melhor a gente dar a mão e dizer: companheira, você é nossa. Vamos fazer a crítica que tiver que fazer, mas o povo tem que saber, sobretudo os adversários, que, mexeu com a Dilma, mexeu com muita gente neste país e mexeu com a classe trabalhadora. Lula anunciou ainda que voltará a percorrer o Brasil e defenderá o governo Dilma. — Vou conversar com o povo brasileiro. Vou desafiar aqueles que não se conformam com o resultado da democracia. Aqueles que desde a vitória da Dilma estão pregando a queda dela.
A divergência sobre o projeto de terceirização também dominou os discursos nas duas festas do 1º de Maio. No evento da CUT, foi lançada por dirigentes da central a ameaça de uma greve geral caso a proposta seja aprovada no Congresso. Já na Força Sindical, apesar de o tema não ter sido abordado nos discursos, os políticos afirmaram que os direitos trabalhistas não serão alterados com a medida. Lula atacou o projeto e fez uma crítica velada a Eduardo Cunha, por ter trazido o tema para a pauta do Congresso. — O projeto de terceirização foi apresentado há onze anos por um deputado-empresário, o Sandro Mabel. Nunca se falava dele e, de repente, ele ganhou uma prioridade na cabeça de alguns deputados. E foi aprovado em tempo quase recorde — ironizou Lula.
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