Raquel Ulhôa - Valor Econômico
BRASÍLIA - O senador Aécio Neves (MG) será reeleito presidente do PSDB no domingo, dia 5, com a preocupação de adiar a disputa com o governador Geraldo Alckmin (SP) pela candidatura à Presidência da República em 2018 e reforçar a polarização com o governo Dilma Rousseff e o PT. Explorando a fragilidade da presidente, planeja fazer críticas mais duras e rebater a estratégia do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de, junto com o PT, se descolar de Dilma.
"Da mesma forma que o Lula caminha claramente para uma tentativa de descolamento [de Dilma], para tentar dar um discurso a setores do PT nas eleições municipais, nosso papel é contrário. Lula vai querer se distanciar da Dilma e nós vamos colá-los", disse Aécio, ao Valor. Logo após a reeleição, em convenção nacional a ser realizada em Brasília, Aécio vai convocar a primeira reunião da nova Executiva Nacional - provavelmente para o dia 12 - para discutir a estratégia eleitoral de 2016. A meta é o partido estar presente nas 300 maiores cidades do país, com candidato próprio ou da coligação que participar.
O foco será a ampliação do leque de alianças, tentando conquistar parceiros tradicionais do PT, que dão sinais de abandonar o barco petista. De olho em manter essas alianças na eleição presidencial de 2018, a orientação será o PSDB abrir mão de lançar candidato próprio para apoiar um aliado eleitoralmente mais viável.
"Nosso adversário é o PT, no Brasil inteiro. Daremos preferência para candidaturas próprias, mas vamos ampliar nosso leque de alianças. Onde o PSDB tiver candidatura viável, vamos trabalhar para criar condições para ele ser candidato. Onde não tiver, vamos ter o mesmo empenho para uma candidatura que seja adversária do PT", afirmou Aécio.
O senador articula intensamente para manter a unidade partidária e evitar a precipitação do esperado embate com Alckmin. Dirigentes partidários atuam para desestimular lançamentos de pré-candidaturas, mas consideram difícil evitar claques.
Aécio e o governador paulista, os dois principais protagonistas do PSDB no momento, negociaram a composição da Executiva Nacional. O segundo cargo mais importante do partido, a Secretaria Geral, será ocupada por um aliado de Alckmin, o deputado Sílvio Torres (SP).
"Vai ser uma convenção de unidade, com astral para cima. Meu objetivo é que as pessoas saiam com a sensação de que não ganhamos a eleição mas que, politicamente, nunca estivemos tão bem. E que a militância saia dali de cabeça erguida, preparando para as eleições municipais. Aí é que vai se dar o grande embate", disse.
A preocupação de dirigentes do PSDB é que o partido não deixe espaço para a consolidação de uma terceira via na eleição presidencial de 2018 e que divergências internas comprometam esse projeto. "O PSDB readquiriu essa polarização nas eleições de 2014. Voltou a representar, para setores importantes da sociedade, dos quais estava distanciado ao longo dos últimos anos, a principal alternativa de poder ao que está aí. E, quanto mais se fragiliza o governo, mais há uma percepção de que o PSDB é a melhor alternativa", disse. "Então, não vamos permitir que haja qualquer agenda eleitoral precipitada de 2018. A eleição de 2018 está longe do nosso radar hoje."
Uma preocupação do senador é que todas as regiões estejam bem representadas na nova Executiva Nacional, para reforçar o projeto de 2016. Na primeira reunião, o deputado José Aníbal (SP) será indicado presidente do Instituto Teotonio Vilela (ITV), órgão de estudo e formação política do partido. Mas a pauta principal será 2016.
Aécio diz que a convenção acontecerá num momento de "renovação" do partido. Um dos objetivos da nova Executiva Nacional será ampliar o quadro de filiados, com ênfase na juventude. No discurso, dará ênfase à necessidade de o partido apresentar soluções aos problemas do país. "O desafio do PSDB, já que é a alternativa mais visível em relação ao PT, é ter uma agenda propositiva, que tem faltado ao PSDB. É essa agenda propositiva que vamos construir a partir do ITV", afirmou. Os tucanos querem resgatar especialistas de diferentes áreas que trabalharam na elaboração do programa de governo de Aécio.
O principal papel desempenhado pelo senador é tentar manter o partido unido, assim como as oposições. Ele também prega cautela aos tucanos mais exaltados, que pedem impeachment da presidente Dilma Rousseff. Começa a ganhar corpo, no partido, a convicção de que a melhor solução para o país seria o afastamento de Dilma pela Justiça Eleitoral, por irregularidades no financiamento da campanha, o que também resultaria na saída do vice-presidente, Michel Temer, e na realização de novas eleições.
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