- O Estado de S. Paulo
• A pergunta cuja resposta vale mais de 1 milhão de dólares consiste em saber quando afinal a economia brasileira começará seu processo de recuperação
A presidente Dilma vinha declarando que o ajuste é passageiro e que dentro de pouco tempo - não disse quanto - a inflação será recolocada nos trilhos e que o crescimento voltará, sólido e sustentável.
As autoridades da área econômica garantiam mais ou menos a mesma coisa. Mas tudo ficou pior, os indicadores econômicos não apontam para nenhuma recuperação imediata e o início da retomada vai sendo adiado à medida que o ano avança.
Esqueletos fiscais e os efeitos das pedaladas aparecem todos os dias, o cumprimento da meta fiscal deste ano está cada vez mais improvável, as projeções do PIB encolhem, pouca gente acredita em que a inflação convergirá para a meta de 4,5% ao final de 2016, como insiste o Banco Central, e o mercado de trabalho, medido pelas estatísticas de emprego, está em franca deterioração.
O problema é que não dá para exigir a observância de cronograma de recuperação. Estados Unidos e Europa há quase oito anos tentam deixar a crise para trás e ainda não conseguiram voo de cruzeiro. Com a queda dos preços das commodities e o mercado internacional tão arredio, como o de agora, a volta por cima do Brasil também ficou mais difícil.
A mola que falta para a arremetida do fundo do poço é o investimento. A Petrobrás, cujos investimentos corresponderam a 8% de toda Formação Bruta de Capital Fixo do Brasil em 2014, acaba de cortar em quase 40% seu plano de negócios. As empreiteiras, paralisadas pela Operação Lava Jato, também não conseguem mais se apresentar para o jogo. E, mesmo depois de anunciado com foguetório, o Programa de Investimento em Logística 2015-2018 não consegue decolar.
A presidente Dilma é a primeira a reconhecer que os obstáculos são grandes. Entre eles está a excessiva lentidão das instituições de proteção ambiental em despachar certificados de licenciamento.
O que de alentador nesse panorama cinzento se pode dizer é que a recessão não produz apenas estragos. Começa a mostrar resultados positivos. A queda do consumo derrubou em 18,5% as importações do primeiro semestre (em relação ao primeiro semestre de 2014) e contribui com força para que a balança comercial volte a mostrar saldos positivos. E, como ficou apontado nesta Coluna no domingo, a queda do consumo de energia elétrica é o principal fator que afasta o risco de um apagão ou de um racionamento.
Mais cedo ou mais tarde, os tarifaços também mostrarão sua força saneadora. O setor de energia elétrica está em franca recuperação. O mesmo se pode falar do caixa da Petrobrás . Outra consequência positiva do reajuste das tarifas de energia elétrica e de combustíveis é a recuperação da arrecadação dos Estados e municípios, na medida em que a participação desses dois produtos no ICMS é muito importante.
Pode ser pouco. Mas esses sinais têm de ser vistos como os primeiros passos ainda inseguros do paciente que está dispensando a cadeira de rodas.
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