• Documento divulgado pelo PMDB apresenta propostas sensatas para a economia, mas são implausíveis dada a situação política do partido
Algo de paradoxal, e mesmo de implausível, transparece no texto divulgado pelo PMDB sob o nome "Uma Ponte para o Futuro".
Cronicamente identificado como uma federação de interesses fisiológicos, o partido traz à luz um documento no geral sensato e positivo no que diz respeito à política econômica. Hesita-se, portanto, entre recebê-lo com algum ânimo ou com o mais puro ceticismo.
O programa defende, por exemplo, a introdução de uma idade mínima para a aposentadoria. Impopular, sem dúvida, a medida não obstante se impõe. A realidade demográfica do Brasil não é a mesma de meados do século passado, quando a expectativa média de vida fazia do sexagenário alguém já no declínio de sua fase produtiva.
Como se sabe, o máximo de resistências se eleva contra qualquer alteração nesse ponto crucial para o equilíbrio das contas públicas. Será plausível que o PMDB de fato esteja disposto a tal mudança?
O mesmo se pode perguntar sobre outros pontos do documento. O partido advoga o fim dos gastos obrigatórios com saúde e educação, permitindo aos gestores do Orçamento maior flexibilidade.
Na dose certa, a medida faz sentido. Não há política social possível quando as contas do governo estão em desequilíbrio; nenhum voluntarismo orçamentário sobrevive às injunções de uma dívida crescente e da elevação da taxa de juros.
Com esse conjunto de propostas, o PMDB se habilita a apresentar-se, em algum momento, como alternativa viável de poder. Afasta-se do papel subalterno que vinha exercendo no esquema petista.
Mas é nesse ponto que sua credibilidade parece em xeque. A atuação do PMDB tem-se caracterizado de outra maneira. Oportunismo, fisiologismo e demagogia marcam as atitudes da bancada.
É de praxe, na história recente do país, que uma força política se comprometa com algum realismo econômico quando se vê próxima de assumir o poder. A "Carta ao Povo Brasileiro", divulgada por Lula às vésperas de sua consagração eleitoral, teve o sentido de acalmar as expectativas do mercado. E, justiça seja feita, foi obedecida.
Seria razoável esperar de Michel Temer, Romero Jucá, Moreira Franco, Eduardo Cunha, Jarbas Vasconcelos ou seja lá que liderança peemedebista uma atitude de Estado? Talvez nada dependa das inclinações subjetivas, dos limites pessoais de um ou outro parlamentar.
A mera perspectiva de alcançar o poder federal –como ocorreu com Lula em 2002– tende a ditar algum realismo nas propostas anunciadas. O calendário para tal bom senso varia, contudo, e o próprio PMDB oscila entre o impeachment e as eleições de 2018.
A política, com suas variáveis, rivaliza com as da economia. Não há outra coisa a fazer, no momento, se não vigiar tais oscilações.
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