• Pecuarista, que está preso, também é acusado de gestão fraudulenta
Cleide Carvalho e Renato Onofre - O Globo
SÃO PAULO - A Polícia Federal indiciou ontem o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Lula, pelos crimes de corrupção passiva e gestão fraudulenta de empresas. Para PF, Bumlai pode ter usado o nome do ex-presidente para obter vantagens em negócios relacionados à Petrobras. Para os investigadores, embora o pecuarista tenha dito que não tinha ligação direta com o PT, foi encontrado documento em que o filho dele, Maurício Bumlai, pede ao partido sua desfiliação em fevereiro de 2014. Os investigadores encontraram na casa do pecuarista mais de vinte fotos entre ele e o ex-presidente.
Bumlai é suspeito de intermediar um empréstimo do Banco Schahin ao PT. De acordo com delação do proprietário da instituição financeira, Salim Schahin, R$ 12 milhões emprestados ao Bumlai foram repassados a empresas do Grupo Bertin, do empresário Natalino Bertin. Os investigadores suspeitam que Natalino pode ter se encarregado de fazer pagamentos a terceiros indicados pelo pecuarista.
Os documentos anexados pela PF ao inquérito mostram uma transferência de R$ 2 milhões para a empresa de fachada Legend, de Adir Assad, condenado na LavaJato por lavagem de dinheiro. Os investigadores ainda não sabem qual o motivo da transferência. Em delação premiada, o lobista Fernando Baiano disse que pagou R$ 2 milhões ao pecuarista. O valor seria usado para quitar um apartamento de uma nora de Lula. O ex-presidente nega a transação e diz que nunca autorizou Bumlai a pedir ou falar algo em seu nome.
Em escritórios do Grupo Bertin, suspeito de repassar propina em negócios vinculados a Bumlai, foram encontradas anotações que relacionam o grupo a Lúcio Funaro, apontado pela PF como um dos operadores do mensalão. Os documentos também mostram supostos repasses de dinheiro a políticos, entre eles o vice-presidente Michel Temer, em 2010. Em nota, Temer confirmou que pediu recursos para o diretório do PMDB.
Os documentos apreendidos mostram ainda reuniões agendadas com outros envolvidos na Lava-Jato como Flávio Barra, ex-diretor da Andrade Gutierrez, e Luiz Alberto Meiches, um dos investigados no Supremo Tribunal Federal “por fatos que envolveriam agente político com prerrogativa de foro”, segundo a PF. Foram encontradas ainda anotações que se referem a telefonemas feitos a João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT e condenado na LavaJato a 15 anos e quatro meses de prisão.
A PF também relacionou documentos apreendidos em escritórios da família Bumlai a outros negócios da Petrobras. Papéis apreendidos na residência de Maurício Bumlai, em São Paulo, intitulado “Um ano dourado 2010”, traz cifras de supostos contratos futuros da Petrobras com a empresa Estre, que tem como sócios o BTG Pactual. O documento é de janeiro de 2010 e, segundo a PF, relaciona “projetos e fatos futuros de interesse de Maurício Bumlai e seus familiares”.
Também foi apreendido pela PF, em endereços do Grupo Bertin, oito notas promissórias, no valor total R$ 8 milhões, em nome do ex-senador e ex-ministro Edison Lobão Filho. As notas estão em nome da empresa Santri Participações Societárias. Os pagamentos foram feitos entre agosto de 2014 e maio de 2015. “Trata-se de análise preliminar e que demanda maior apuração acerca de indícios de possíveis ilicitudes”, diz o relatório da PF. O GLOBO não localizou o ex-senador.
Na segunda-feira, o Ministério Público Federal deve oferecer denúncia contra Bumlai. O empresário, que já prestou um depoimento à PF, deve ser novamente ouvido pelos investigadores no início da semana.
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