A inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi de 10,67% em 2015, segundo dados oficiais divulgados na sexta. A alta de preços da economia em dezembro, de 0,96%, ficou abaixo do 1,04% previsto pelos analistas, segundo o Valor Data. Embora positiva, essa pequena surpresa não muda o quadro geral de descontrole inflacionário.
Há 13 anos a inflação não chegava aos dois dígitos, um patamar que, depois do Plano Real, havia sido atingido apenas uma outra vez - em 2002, na eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que então era visto com desconfiança pelo mercado financeiro.
A retórica do governo e do Banco Central tem atribuído a aceleração da inflação a dois choques de oferta, o reajuste das tarifas de energia elétrica e a desvalorização da taxa de câmbio. Na verdade, ela é resultado de escolhas de política econômica, como o uso excessivo de impulsos fiscais para estimular a atividade, o represamento de reajustes de tarifas, excesso de intervenção do mercado de câmbio para segurar a cotação do dólar e a falta de pulso da política monetária.
O reajuste de preços administrados liderou a alta do IPCA de 2015, com um avanço de 18,08%. As contas de luz subiram, em média, 51%; os ônibus urbanos, 15,09%; taxas de água e esgoto, 14,75%; a gasolina, 20,1%; e o etanol, 29,63%. Os preços administrados, porém, só aumentaram tanto em 2015 porque o governo segurou os reajustes nos anos anteriores. Em 2014, por exemplo, as tarifas aumentaram 5,32%; em 2013, só 1,54%.
Além disso, os preços administrados são apenas uma parte do problema. O reajuste das contas de luz, por exemplo, respondeu por 1,5 ponto percentual da inflação de 2015, e os combustíveis, por 1,04 ponto. Ou seja, mesmo que o preços desses itens permanecessem estáveis, o IPCA teria ficado em 8,13%, superando o teto de 6,5% admitido pelo regime de metas de inflação.
A alta de preços na economia foi bastante generalizada, em linha com um quadro de descontrole inflacionário. Segundo o IBGE, 42,9% dos itens que compõem o IPCA tiveram aumento de dois dígitos em 2015. O chamado índice de difusão, que mostra o percentual de preços que tiveram aumento a cada mês, segue acima de 70%.
Preços que pouco têm a ver com as tarifas públicas e com a desvalorização do dólar aumentaram muito. A inflação de serviços, por exemplo, ficou em 8,09% no ano passado. Houve um leve recuo em relação aos 8,28% observados em 2014, mas ainda assim o percentual supera bastante o teto da meta de inflação.
O avanço dos preços de serviços é resultado de políticas públicas, como reajustes do salário mínimo acima dos ganhos de produtividade, que pressionam os custos de mão de obra do setor e aumentam a demanda por produtos não comercializáveis. Em 2015, a economia ainda absorvia os efeitos defasados da política fiscal expansionista do ano eleitoral.
A inflação de 2015 também foi determinada, em boa medida, pela política monetária do ano anterior. Durante a campanha presidencial, o Banco Central suspendeu o ciclo de alta de juros, que foi retomado poucos dias depois do segundo turno das eleições. Não é de hoje que a autoridade monetária tem deixado a desejar na sua missão de manter o poder de compra da moeda. Em 2014, a inflação foi de 6,41%, perto do teto da meta; nos três anos anteriores, ficou mais perto do teto da meta do que do que da meta em si, de 4,5%.
O Brasil não está condenado a viver com a inflação de dois dígitos. Em 2002 e nos anos seguintes, isso foi feito, com sucesso, até levar o IPCA a 3,14% em 2006. É necessário, no entanto, fazer o diagnóstico adequado sobre o problema inflacionário, que hoje decorre de fragilidades fiscais, e não monetárias.
Durante a primeira metade de 2015, o BC recuperou o tempo perdido, apertando de forma severa as condições monetárias, pagando inclusive um sobrepreço para recuperar a credibilidade perdida. Em meados do ano passado, as perspectivas para 2016 eram muito favoráveis. Analistas econômicos do mercado financeiro acreditavam que a inflação pudesse cair a 5,5% neste ano.
Esse cenário dissipou-se depois que cresceram as dúvidas sobre o compromisso do governo com o ajuste fiscal. O risco país aumentou, pressionando o câmbio e a inflação. Não haverá estabilidade monetária sem atacar a origem fiscal do problema.
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