Diante da informação de que o ministro Jaques Wagner (Casa Civil) teria atuado em favor da OAS junto ao Funcef, a CPI dos Fundos de Pensão da Câmara vai tentar convocá-lo a depor.
• Possível ligação de ministro com OAS deve ser alvo de investigação
Leticia Fernandes, Gabriela Valente - O Globo
-BRASÍLIA- A CPI dos Fundos de Pensão da Câmara quer convocar o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, para esclarecer sua ligação com o Funcef, fundo dos funcionários da Caixa Econômica Federal. Mensagens obtidas no celular do presidente da OAS, Léo Pinheiro, divulgadas pelo “O Estado de S.Paulo”, mostram que Wagner intercedeu em favor da empreiteira em negócios com o fundo. O presidente da CPI, deputado Efraim Filho (DEM-PB), garantiu que vai pautar no início de fevereiro os requerimentos apresentados na semana passada. A primeira reunião da Comissão será no dia 2.
— Começaremos fevereiro com o pé no acelerador. A gente espera contar com a aprovação do requerimento, já que esses desvios nos fundos de pensão são a face mais cruel desse escândalo de corrupção — disse Efraim Filho.
O deputado afirmou que a CPI trabalha em três frentes: aparelhamento das instituições, tráfico de influência e direcionamento de negócios para interesses político-partidários. Uma das descobertas da Comissão foi que, dos quatro fundos investigados, três são presididos por filiados ao PT — o Postalis, fundo dos funcionários dos Correios; a Petros, fundo dos funcionários da Petrobras; e o Funcef. Só o Previ, do Banco do Brasil, não é controlado diretamente pelo partido, segundo o parlamentar.
— Os fundos de pensão apresentam o mesmo modus operandi do petrolão na Petrobras. Já descobrimos que atualmente três dos quatro diretores de fundos de pensão são filiados ao PT.
O presidente da CPI disse ainda que, com as revelações sobre Jaques Wagner e outras atuações suspeitas, começa-se a provar a tese do tráfico de influência.
Líderes se dividem
A relação do ministro da Casa Civil com a OAS foi criticada por líderes da oposição, que apontaram a pasta como a “sede” do tráfico de influência exercido pelo governo. Ao mesmo tempo, parlamentares ponderaram que interceder em favor de empresas não é condenável nem ilegal, contanto que feito de forma transparente. Líderes da base aliada no Congresso acreditam, no entanto, que as revelações tornam tensa a volta dos trabalhos legislativos, em fevereiro.
— Não vejo a ação dele de uma forma isolada, é o quinto ministro-chefe da Casa Civil com o mesmo tipo de acusação. Começou com o José Dirceu, teve (Antonio) Palocci, Erenice (Guerra), Aloizio Mercadante, todos envolvidos em tráfico de influência claro, usando os instrumentos do governo para favorecimento do partido — criticou o senador José Agripino Maia (DEM-RN).
Interlocutores do Palácio do Planalto avaliam que o ministro tornou-se um alvo político e que o impacto no curto prazo é inevitável. No entanto, as denúncias divulgadas até agora são consideradas frágeis.
— É uma crise que não tende a perdurar — avaliou um interlocutor.
Assessores palacianos avaliam que a divulgação das denúncias pouco a pouco prejudica a imagem do petista, considerado o grande articulador político do governo e alternativa para as próximas eleições caso o ex-presidente Lula não concorra.
Para o senador Paulo Rocha, líder interino do PT no Senado, faz parte do papel do governante administrar interesses de empresas. Na época das denúncias, Wagner era governador da Bahia:
— Vivemos numa sociedade de interesses. Então, uma empresa que tem interesse de se instalar num estado procura o governador, ou o político mais próximo dele. Essa “troca de telefone” é um processo normal da democracia, mas tem que ser feito com transparência. Todo mundo procura alguém para atender a seus interesses — disse o petista, criticando o vazamento seletivo de informações.
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