Em meio a um desesperado esforço de loteamento de cargos, o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) avança com celeridade –e no mesmo ritmo surgem novos desdobramentos daOperação Lava Jato.
Nesta quinta-feira (7), a Folha revelou que executivos da empreiteira Andrade Gutierrez, em acordo de delação premiada, detalharam um esquema milionário de propinas em obras públicas.
Os depoimentos –que, vale repetir, fornecem dados para orientar novas investigações, podendo ou não ser comprovados– atingem frontalmente as campanhas eleitorais de Dilma Rousseff e Michel Temer (PMDB) em 2010 e em 2014.
Em troca de vantagens em projetos como a usina de Belo Monte e o Complexo Petroquímico do Rio, a Andrade Gutierrez encarregou-se de organizar um sofisticado esquema de repasse de recursos.
Os executivos da construtora relatam a existência de duas formas de contabilizar as doações. Uma, a que se chamou de republicana, consistia em contribuições legais para a reeleição de Dilma: R$ 20 milhões para a campanha e outros R$ 15 milhões para os cofres do PT.
Ocultavam-se, porém, os "compromissos com o governo", isto é, a proporção dos recursos que se destinava a garantir contratos da empresa com a administração federal.
Segundo os executivos, as doações efetuadas, embora tivessem uma aparência de legalidade, visavam à obtenção de vantagens indevidas nas licitações.
Ainda que seja necessário observar todo o cuidado em delações desse tipo, a existência do esquema ganha grande plausibilidade –e fortalecem-se os elementos para a ação do PSDB no Tribunal Superior Eleitoral, requerendo a impugnação da chapa vitoriosa em 2014.
Mais do que nunca, torna-se necessário acelerar o julgamento no TSE, ainda sem data definida. O próprio candidato do PSDB, senador Aécio Neves (MG), além de diversos políticos e administradores públicos, também receberam doações da empreiteira, havendo muito o que investigar nesse tocante.
A crise política, pode-se perceber, não terá seu último capítulo na decisão sobre o impeachment de Dilma. Mesmo que o governo vença no Legislativo, novos problemas se abaterão sobre a presidente e sobre Temer. Um eventual governo do peemedebista começaria marcado pela incerteza.
São tantos os desdobramentos da Lava Jato que o campo do improvável e do remoto parece redefinir-se a cada dia. A renúncia de Dilma e Temer, com a convocação de novas eleições presidenciais, nos termos da Constituição, afigura-se como a saída mais indicada para uma crise que, provavelmente, um impeachment não conseguirá interromper.
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