Dos 20 candidatos do PT que deverão disputar prefeituras de capitais em todo o País, apenas 2 despontam nas pesquisas eleitorais com alguma possibilidade de vitória: João Paulo, no Recife, e Raul Pont, em Porto Alegre, ambos ex-prefeitos. Uma ampla análise das perspectivas eleitorais do outrora poderoso PT nas eleições municipais de outubro, publicada pelo jornal Valor, indica que o partido de Lula, consciente do enorme desgaste político que culminou com o catastrófico governo de Dilma Rousseff, se dispõe a agarrar-se ao que lhe resta: uma espécie de “volta às origens”, com a renovação dos quadros dirigentes, o abandono das coligações estritamente eleitorais e a unificação de um discurso de viés “popular” e esquerdista.
“O PT precisa aproveitar o momento para fazer uma renovação dos quadros e reencontrar-se com suas teses”, afirma o candidato petista à prefeitura de Curitiba, o deputado estadual Tadeu Veneri, que disputará pela primeira vez uma eleição majoritária e critica as alianças feitas no passado recente com legendas como o PMDB, que têm pouca identificação programática com o PT: “Isso é ruim para todos. Não ajuda o eleitor a notar as distinções partidárias”.
Na verdade, o deputado petista – como, de resto, a maior parte dos altos dirigentes do partido, como o próprio Lula da Silva – não consegue ou não quer enxergar o que está acontecendo com o PT. A alternância no poder, fundamento dos regimes democráticos, é um fenômeno normal e saudável que resulta do fato de que, numa sociedade livre, os governos precisam manter-se atentos às realidades emergentes e preparados para bem administrá-las. Normalmente, as eleições promovem essa alternância quando a maioria a considera necessária.
Excepcionalmente, surge a necessidade de acionar mecanismos constitucionais estabelecidos com a finalidade de precipitar a alternância para salvaguardar os interesses do conjunto da sociedade. É o que ocorre atualmente no Brasil.
A culpa pelo fato de o PT estar sendo apeado do poder, portanto, não deve ser debitada às alianças que fez. Alianças são frequentemente indispensáveis no sistema democrático de governo, em especial quando é necessário harmonizar as relações entre o Executivo e o Legislativo. O PT não errou ao ampliar o arco das alianças partidárias necessárias à implantação de seu projeto de governo. Errou, gravemente, no modo como construiu essas alianças, que pode ser resumido numa só palavra, que conta a história inteira: mensalão.
Alianças construídas sobre o terreno cediço da pura fisiologia são sempre muito pouco confiáveis e o PT descobriu isso da maneira mais dolorosa possível ao ser abandonado, um a um, pelos oportunistas que antes permitiam ao presidente Lula gabar-se de ter construído uma base de apoio parlamentar tão grande como nunca antes da história deste país. Por sua vez, o presidente mais popular que o Brasil já teve conseguiu desmoralizar o Poder Legislativo, que passou a funcionar como mero apêndice do Executivo. Sem o mesmo carisma, completamente destituída de habilidade política e com muito maior empáfia, Dilma tentou garantir com a rudeza que caracterizava seu governo as alianças que Lula construíra com verbo e verba. O resultado todo mundo conhece.
Retornar às origens, estimulando o surgimento de novas lideranças, portanto, é o que realmente resta ao PT. Mas não adianta começar tudo de novo se a ideia é trilhar exatamente os mesmos caminhos, como parece desejar o candidato petista à prefeitura de Curitiba. O PT nasceu como um partido cheio de boas intenções e tão convicto de que detinha o monopólio da verdade e da virtude que se sentiu no direito de, do alto de sua soberba, dividir o Brasil entre os bons e os maus, “nós” e “eles”. Pretendeu governar apenas para “o povo” e, enquanto se afundava, e ao País, na aventura populista, suas principais lideranças se locupletavam em alianças espúrias com a mais pura elite do capitalismo predatório. O resultado foi que o Brasil faliu, moral e economicamente.
Se quer recomeçar, portanto, seria bom o PT tomar cuidado para não cometer os mesmos erros, que pela lógica costumam dar os mesmos resultados. Que tal experimentar o verdadeiro exercício franciscano – não o do é dando que se recebe, mas o da humildade?
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