• Ela defende a cassação na Justiça Eleitoral da chapa de Dilma e Temer; 'Aí, será dado um forte sinal para a sociedade de que o crime eleitoral não compensa', falou
Eduardo Laguna - O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - A ex-senadora Marina Silva, filiada à Rede Sustentabilidade, disse nesta quinta-feira, 11, que, embora seja legal, o processo de impeachment não atende ao desejo da população de "passar o Brasil a limpo".
Marina fez o comentário ao defender novamente a cassação na Justiça Eleitoral da chapa vitoriosa nas eleições de 2014 composta pela presidente afastada, Dilma Rousseff (PT), e seu vice, o agora presidente em exercício, Michel Temer (PMDB). Processos que correm no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tentam abreviar o mandato do governo eleito por conta de denúncias sobre o uso de recursos ilícitos, como dinheiro desviado da Petrobras, na campanha.
"As denúncias e os crimes que foram praticados e que estão sendo comprovados pela Lava Jato colocam cada vez mais o sentido de urgência do TSE", afirmou Marina, após repetir que as denúncias de corrupção na Petrobras que recaem sobre o PT implicam também o PMDB.
"Uma vez comprovado que houve corrupção e que foram fraudadas as eleições pelo uso de dinheiro do 'petrolão', deve-se cassar a chapa que violou a lei. Aí, será dado um forte sinal para a sociedade de que o crime eleitoral não compensa", acrescentou a ex-ministra do Meio-Ambiente.
Marina conversou com a Broadcast, sistema de notícias em tempo real da Agência Estado, após proferir na noite desta quinta-feira uma palestra sobre mudanças climáticas e crise ambiental num templo evangélico no centro da capital paulista. Na entrevista, ela avaliou que o governo Temer, apesar de ter "inegavelmente" acertado na escolha da equipe econômica, não "dialoga" com as grandes questões em discussão no mundo, mencionando temas ambientais.
"Não podemos passar o recado de que, resolvendo a economia, o resto não importa", disse Marina. Ao comparar a qualidade técnica da equipe econômica com os erros cometidos em outras áreas, acabou dando ainda uma alfinetada no presidente interino, autor de poemas nas horas vagas. "Fazendo uma metáfora, é como se tivéssemos uma pessoa excelente em ortografia e gramatica , mas que não é capaz de fazer um poema. Só entender de economia não basta."
A ex-senadora defendeu também a legalidade do processo de destituição de Dilma, que está na reta final no Senado. "Houve um crime de responsabilidade. A constituição assegura que um governante pode ser deposto (nesse caso) e essa é a realidade."
Um dia após o término, na madrugada de quarta-feira, da sessão do Senado que encaminhou o processo de impeachment a julgamento final, Marina afirmou durante sua palestra na catedral presbiteriana que o mundo vive uma crise civilizatória, na qual uma das bases reside na grave crise política - igualmente exacerbada, segundo ela, no Brasil. De acordo com Marina, a política se tornou impotente em resolver os problemas da humanidade.
Num discurso em que por diversas vezes fez referências a passagens bíblicas a um publico majoritariamente de evangélicos, a ambientalista disse que a ruptura a um modelo de desenvolvimento ambientalmente sustentável terá que ser conduzido pela sociedade, e não por um partido ou por um presidente eleito.
"Talvez a mudança não venha de políticos. Pesquisas mostram que 39% dos consumidores aspiracionais querem mais do que preço, design e qualidade. Querem ética, produtos que não tenham sido feitos em prejuízo à contaminação da água, com trabalho escravo. A sociedade pressiona por mudanças", disse a candidata derrotada no primeiro turno das eleições de 2014. "Um modelo sustentável precisa ser sustentável do ponto de vista ético e, para nós que cremos, do ponto de vista espiritual", complementou Marina.
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