• Alckmin diz que querem culpar a PM pela violência nos atos
Jaqueline Falcão, Luiza Souto e Sérgio Roxo - O Globo
-SÃO PAULO- Dezesseis pessoas que haviam sido detidas pela Polícia Militar (PM) em São Paulo no último domingo, antes mesmo de chegarem ao protesto contra o governo de Michel Temer, foram indiciadas ontem por associação criminosa, acusadas de portar objetos que poderiam ser utilizados em eventuais atos de vandalismo. Horas depois, a Justiça entendeu que não havia motivos para mantê-las presas e ordenou a liberação. O governador paulista, Geraldo Alckmin (PSDB), defendeu a prisão dos jovens e afirmou que existe a intenção de culpar a PM pela violência nos atos.
Além dos 16 detidos, dez adolescentes foram levados para a delegacia no domingo. O Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) justificou o indiciamento com base em materiais apreendidos com os jovens, como pedras, estilingues, pedaços de madeira, máscaras e um celular roubado. Foram recolhidos também material para primeiros socorros e objetos pessoais. Durante audiência de custódia no início da noite, a Justiça entendeu que não houve flagrante e que os jovens não tinham antecedentes.
O advogado Marcelo Feller, que defende cinco acusados, afirmou que a polícia não conseguiu indicar o crime praticado por seus clientes e disse que o depoimento dos jovens foi tomado sem a presença de um advogado.
Segundo o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), cerca de cem mil pessoas se reuniram em São Paulo anteontem para pedir a saída de Temer e a convocação de novas eleições. A PM informou que só contabilizou o número de manifestantes às 18h, duas horas antes de o ato terminar: 30 mil pessoas.
Número “substancial"
Na China, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, afirmou ontem que as manifestações de domingo são parte de um processo democrático normal e não devem prejudicar a imagem do Brasil. Ele defendeu que os protestos garantem ainda mais legitimidade ao processo de impeachment e afirmou que o número de participantes foi “substancial”. O discurso é diferente do adotado pelo presidente Temer no sábado, quando se referiu aos manifestantes como “40 pessoas que quebram carro”.
Ao final do protesto de domingo, a PM jogou bombas de efeito moral para dispersar os manifestantes. Ontem, o coronel Dimitrios Fyskatoris, comandante do policiamento da capital, afirmou que não houve excesso na repressão à manifestação e voltou a dizer que os policiais agiram depois de ser atacados. Em um discurso afinado com o comandante, Alckmin defendeu os policiais:
— O fato é que tem depredação e querem passar a história de que a polícia é a culpada. A polícia vai esclarecer os fatos.
Na ação da PM, ao menos três profissionais de imprensa foram atingidos mesmo após se identificarem. A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV (Abert) afirmou ser intolerável que “profissionais e veículos de comunicação tenham sido alvo de agressões por parte da PM e de manifestantes”. E a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) também condenou as agressões: “Este comportamento não é compatível com a democracia e fere o direito de toda a sociedade à informação”.
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