• Preocupação é que possíveis denúncias atinjam cúpula do governo
Júnia Gama e Catarina Alencastro - O Globo
-BRASÍLIA- Apesar de já ser esperada, a prisão de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) foi recebida com apreensão no Palácio do Planalto pela incerteza sobre o que o deputado cassado poderá falar às autoridades, envolvendo o governo, o PMDB e até a figura do presidente Michel Temer.
— É claro que causa apreensão. A delação deve ocorrer, este é o caminho que todos têm seguido. Agora, a gente não sabe o que ele teria para dizer do Michel, por exemplo. Eles foram próximos logo que o Cunha chegou do Rio (como deputado) e traçou seus objetivos políticos, mas depois que (Cunha) se tornou líder do PMDB e, em seguida, presidente da Câmara, ele (Temer) foi se afastando — afirmou um ministro, reforçando que, enquanto a delação não vem, o governo deve continuar trabalhando e seguindo sua agenda.
Ontem, o governo decidiu não se manifestar oficialmente sobre a prisão e a resposta protocolar divulgada pela Secretaria de Imprensa da Presidência é que não há preocupação com uma eventual delação do peemedebista que deu o pontapé inicial no impeachment da expresidente Dilma Rousseff.
A inquietação, no entanto, é a possibilidade de Cunha envolver a cúpula do PMDB e outros integrantes do partido, especialmente os que hoje fazem parte do núcleo do Palácio, em sua eventual delação ou mesmo em diálogos informais. O governo teme que se repita com Temer o enfraquecimento que atingiu Dilma à medida que se acumulavam denúncias sobre lideranças do PT, ameaçando a governabilidade. Há um reconhecimento de que Cunha era um operador político e financeiro para peemedebistas e também para políticos de outros partidos.
Auxiliares do Palácio do Planalto lembram que, durante 15 anos, Temer foi o presidente do PMDB. Portanto, qualquer informação que comprometa o partido pode, indiretamente, lhe ser prejudicial. A proximidade de Cunha com o ex-ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves, que deixou o cargo pelo envolvimento em denúncias de corrupção — e que, por sua vez, é um íntimo aliado do presidente Michel Temer — é um fator a mais de receio para o governo. O fato de Cunha ter atacado o secretário do Programa de Parcerias de Investimento, Moreira Franco, logo após ter sido cassado, também foi visto como um aviso.
Após a divulgação da notícia de que Cunha havia sido preso, os ministros que usualmente se manifestam sobre os temas relevantes do dia, Eliseu Padilha (Casa Civil), e Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo), conversaram e decidiram optar pelo silêncio, para evitar levar a crise para dentro do Planalto. A ordem é esperar a poeira baixar e manter a distância possível da situação do aliado incômodo.
A preocupação não é só com o tamanho do problema para o governo, mas com o envolvimento de outros aliados no furacão: o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral, a família Picciani, entre outros integrantes do PMDB do Rio e de Minas Gerais, com os quais, em momentos distintos, Cunha teve intensa relação. Ninguém sabe ainda o tamanho do estrago que o deputado cassado pode provocar.
Uma das perguntas que circula entre integrantes do governo é sobre quais serão as vítimas que Cunha irá escolher, e qual o nível de materialidade de sua munição. A análise é que, por ter um temperamento “vingativo”, Cunha deve mirar naqueles que o abandonaram no meio do caminho.
Na tentativa de escapar do tiroteio, os assessores no Planalto repetem que a postura de Temer sempre foi de equidistância. Dizem que, do governo, não partiu ajuda para salvá-lo na Câmara, mas tampouco houve contribuição para sua queda. E afirmam que Temer não conversa com Cunha desde antes de sua cassação.
O presidente do PMDB, senador Romero Jucá (RR), também investigado na Lava-Jato, afirmou o partido não tomará qualquer providência contra Cunha.
— Tem que aguardar a Justiça. O PMDB não vai tomar qualquer posição, não vamos tratar disso. Ele está sendo investigado e tem que ser respeitado o direito de ampla defesa — afirmou o senador.
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