- Folha de S. Paulo
"A história me absolverá", declarou Fidel Castro ao ser julgado pelo frustrado ataque a Moncada, em 1953. Absolveu?
É sempre precipitado emitir juízos em nome da história, mas acho que dá para afirmar que, julgando pelo "Zeitgeist" de hoje, o veredicto final não será dos mais benignos para com o líder cubano. Mas, como o mundo não é um filme de Hollywood, não dá para apenas pintar Castro como um vilão "tout court". Na vida real as coisas são incrivelmente mais complexas e nuançadas —e o caso de Fidel não é exceção.
Hoje é relativamente fácil sentenciar que o comunismo é inviável e que as tentativas concretas de implantá-lo não apenas fracassam como degeneram em tiranias ainda piores do que os regimes que substituíram. Essa, contudo, não era a percepção geral nos anos 60, 70 e até parte dos 80. Nesse período o socialismo marxista era visto pela maior parte dos intelectuais e por um bom naco da população mundial como um ideal generoso e alcançável.
Não dá para ignorar esse contexto se quisermos julgar Castro de forma justa e não anacrônica. O problema do líder cubano, portanto, não foi ter derrubado Fulgencio Batista, que era um ditador, nem ter enveredado para o comunismo, apesar de essa não ser sua inclinação inicial. Ele até se saiu um pouco melhor do que seus pares socialistas, já que fez um trabalho razoavelmente decente nas áreas de saúde e educação.
Seu pecado foi deixar-se cegar pela ideologia. Estava tão convicto de ser o portador da verdade que não hesitou em utilizar a violência e o autoritarismo para calar a dissidência. Pior, não percebeu, mesmo quando já estava bastante claro, que o comunismo não daria certo e, por não ver o óbvio, prolongou por pelo menos duas décadas a existência de um regime liberticida e que sujeitou os cubanos a privações desnecessárias. É por isso que acho difícil que a história o absolva.
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