Índice chegou a 12,6%, atingindo quase 13 milhões de brasileiros
Daiane Costa | O Globo
Os efeitos da recessão sobre o mercado de trabalho fizeram com que a taxa de desemprego praticamente dobrasse nos últimos dois anos, pulando para 12,6% no trimestre encerrado em janeiro, atingindo 12,9 milhões de trabalhadores — dois recordes da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua Mensal, iniciada pelo IBGE em 2012. Em janeiro de 2015, a taxa estava em 6,%. De acordo com as previsões de analistas, o desemprego vai se aprofundar ainda mais em 2017, ultrapassando a casa dos 13% ainda no primeiro semestre, o que pode deixar a média do ano neste patamar, frente aos 11,5% registrados em 2016.
Mas, diferentemente dos dois anos anteriores, quando a desocupação aumentou principalmente devido a um volume expressivo de demissões, em 2017 a taxa deve ser pressionada por uma maior procura por emprego. Segundo os economistas, tanto a necessidade extrema de voltar a ter uma renda quanto um maior otimismo com relação à atividade econômica, que já dá alguns sinais de recuperação, vão motivar mais pessoas a buscarem uma ocupação. Movimento que já se mostrou presente no trimestre encerrado em janeiro:
— A taxa de desemprego não subiu porque houve demissões, a população ocupada ficou estável. Ao que parece, os temporários não foram demitidos. A taxa aumentou porque mais pessoas foram procurar emprego nesse período, talvez estimuladas pelas festas de fim de ano e pelo movimento pré-carnaval — explica Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Renda do IBGE.
Ele ponderou, no entanto, que é preciso analisar a estabilidade da população ocupada sem euforia, até que os resultados dos três meses até fevereiro sejam divulgados. Isso porque os números do trimestre encerrado em janeiro têm influência maior dos dois últimos meses do ano, quando ocorrem as contratações dos temporários. O dado do trimestre encerrado em fevereiro captará melhor o comportamento do mercado em relação à manutenção e ao desligamento de temporários.
VOLTA AO MERCADO
Ao atingir 12,9 milhões, a população desocupada cresceu 7,3% (mais 879 mil pessoas) em relação ao período de agosto a outubro de 2016 e subiu 34,3% (mais 3,3 milhões de pessoas) no confronto com igual trimestre do ano anterior. Já a população ocupada foi estimada em 89,9 milhões de pessoas. Ficou estável na comparação com o trimestre de agosto a outubro de 2016. Em relação a igual período do ano anterior, quando o total de ocupados era de 91,6 milhões de pessoas, houve queda de 1,9% (menos 1,7 milhão de pessoas).
— A taxa de crescimento da população desocupada recuou apenas ligeiramente e encontra-se em patamar recorde, o que, aliado ao fato de a população ocupada ter apresentado recuos apenas moderados, sinaliza que mais pessoas voltaram ao mercado de trabalho. Este fenômeno deve se intensificar em 2017, à medida que aumente a percepção de melhora da economia. Assim, a taxa de desocupação ainda tenderá a crescer, ao menos no primeiro semestre de 2017 — analisa Thais Marzola Zara, economista-chefe da Rosenberg Associados.
Ela explica que este ano ainda haverá fechamento de vagas, mas em menor intensidade, e a expectativa é que, com a esperada retomada da economia no segundo semestre, as empresas voltem, aos poucos, a contratar. Sendo assim, Thais acredita que a taxa de desemprego pode chegar a 13,4% no primeiro trimestre, mas que irá cair gradualmente, ficando em 13% na média anual.
João Saboia, economista da UFRJ, é menos otimista com relação à motivação para uma corrida maior por emprego.
— Na verdade, há muita gente desempregada por muito tempo, e a procura vai ser mais insistente, porque são pessoas que não têm mais como sobreviver. Precisam encontrar um emprego de qualquer jeito. No começo do ano, essa pressão sobre a taxa é maior porque tem o fluxo dos recém-formados; e há aqueles que colocam metas no ano-novo e correm buscá-las. Por isso, historicamente, as taxas dos primeiros meses do ano são maiores que as do segundo semestre — contextualiza Saboia.
Cimar Azeredo, do IBGE, destacou que um dos impactos negativos foi o resultado da indústria, que, mesmo sem ter tradição de contratar trabalhadores temporários, o que justificaria demissões no início do ano, segue desligando trabalhadores. No trimestre encerrado em janeiro, o setor dispensou 254 mil pessoas em relação ao trimestre finalizado em outubro. Na comparação com o mesmo período de 2016, a situação é ainda mais dramática: a população ocupada na indústria foi reduzida em 900 mil trabalhadores, caindo para 11,27 milhões de pessoas.
RENDA ESTÁVEL
O rendimento médio real habitualmente recebido em todos os trabalhos foi estimado em R$ 2.056. Registrou estabilidade frente ao trimestre de agosto a outubro de 2016 (R$ 2.040). Em relação ao mesmo trimestre do ano anterior (R$ 2.047), o quadro também se manteve. A massa de rendimento real habitualmente recebida pelas pessoas ocupadas em todos os trabalhos (R$ 180,2 bilhões) também ficou estável nas duas comparações.
— A estabilidade da renda pode ser explicada por uma combinação de dispensa de trabalhadores com salários mais baixos, perda de gratificações por quem está empregado e arrefecimento da inflação. Ela só não cresce ainda porque a inflação, mesmo no patamar atual, mais baixo, ainda a corrói — analisa Azeredo.
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