- Folha de S. Paulo
Um salário mínimo vale mais do que no ano passado, tuitou Henrique Meirelles nesta terça-feira. O ministro da Fazenda escreveu que o mínimo compra mais cesta básica do que em 2017, entre outros pios de campanha eleitoral.
É verdade. Mais do que isso: o valor real do mínimo nos últimos 12 meses é o mais alto desde o Plano Real, de 1994.
Os mais pobres são, no entanto, os brasileiros mais insatisfeitos com a situação econômica e os mais pessimistas com o futuro, indica o Datafolha da semana passada. Mais pobres, neste caso, são os entrevistados que declaram renda familiar inferior a dois salários mínimos.
De onde vem a dor? Do medo de ficar sem trabalho ou do desemprego, de parentes e amigos que foram para a rua. Do receio de que o tumulto da política provoque piora na economia, um clássico nas pesquisas de opinião.
Parece esquisito dizer que o mínimo está no valor mais alto desde o Real (trata-se aqui do valor real do salário mínimo nos últimos doze meses. Em suma, do salário anual). Mas é um fato, não muito difícil de compreender.
O valor do mínimo é reajustado anualmente pela taxa de inflação (INPC) do ano anterior (além da taxa de crescimento da economia dois anos antes, quando o PIB cresce). Em 2017, o reajuste foi de 6,5%. Mas a inflação nos últimos 12 meses caiu rápido e anda pela casa de 1,7%. A alta de preços come cada vez menos o valor do salário mensal. Ou dos benefícios previdenciários e assistenciais (mais de 22 milhões de pessoas recebem benefícios que valem um mínimo).
A variação do valor do salário mínimo já foi maior em outros tempos, claro. No último ano, foi de 4,7%, em termos reais (isto é, além da inflação). Nos anos de Dilma Rousseff, chegou a 9%, reflexo ainda Pibão de 2010; de 2013 em diante, o aumento do mínimo foi ladeira abaixo, tendendo a zero. Nos anos Lula, houve alta de 13%, em 2006-07, tempo de crescimento bom e inflação em baixa.
Mas a baixa da inflação ainda não faz coceira no humor popular.
O desemprego quase dobrou em relação ao final dos anos Dilma. O salário médio voltou a crescer um tico desde meados deste 2017, mas a média do rendimento de quem trabalha sem carteira assinada ou por conta própria cai ainda em relação ao ano passado.
Para 60% daqueles que ganham até dois salários, a inflação vai aumentar (38%, no caso de rendas maiores que dez salários mínimos). Na média do país, a expectativa de alta da inflação na prática não mudou desde que Michel Temer assumiu (vai aumentar, para 56%). Isto não é bem medida de estimativa dos preços, mas de medo derivado de ambiente político tumultuado, de choques, de repulsas genéricas, sugere a análise de duas décadas de pesquisas Datafolha.
Para 53% dos mais pobres, a situação econômica pessoal piorou nos últimos meses (e para 27% daqueles com renda superior a dez mínimos). Quanto ao futuro, o pessimismo é menor e parecido entre ricos e pobres. O que no entanto não melhora a avaliação do governo.
Até agora, as microscópicas melhoras na economia e a resistência do valor do salário mínimo nem triscam no desprestígio quase absoluto de Temer. A avaliação dos presidenciáveis em geral não é muito melhor. A raiva política persiste.
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